CD/EP/LP

SINDROME – Ressurrection: The Complete Collection (2022)

SINDROME (Estados Unidos)
“Ressurrection: The Complete Collection” CD 2022
Kill Again Records – Nacional
9,5/10

Eu me lembro de ler sobre o SINDROME pela primeira vez em uma edição jurássica da revista Rock Brigade e me interessar em conhecer o som dos caras, que tinha recebido uma resenha muito boa na época. Tinha o endereço da banda, escrevi e meses depois recebi um pacote com um puta material promocional dos caras, que faria muita banda grande de hoje em dia corar de vergonha. Poucas vezes me deparei com um material promocional tão profissional vindo de uma banda underground e quem nem contrato ainda tinha e infelizmente o grupo finalizou as atividades antes de poder lançar um álbum de estúdio que coroasse esse profissionalismo.

Mas não adiantaria de nada essa qualidade dos lançamentos se isso não fosse acompanhado de qualidade musical e desse mal o SINDROME sofria em excesso. O som dos caras era uma mistura homogênea e equilibrada do thrash metal mais carregado e death metal, resultando e uma sonoridade agressiva, massiva e totalmente com a cara do underground. Oriundos do celeiro extremo de Chicago, o SINDROME foi uma daquelas bandas que todos ouviam falar (devido à divulgação absurda que foi feita do nome do grupo), gostavam quando ouvia, mas que acabou sucumbindo e não indo adiante. As duas demo tapes do grupo “Into the Halls of Extermination” (1987) e “Vault of Inner Conscience” (1991) marcaram época dentro do circuito tape trader da segunda metade dos anos 80 e início dos 90. O thrash/death da banda era realmente diferenciado e impressionava logo desde os primeiros momentos de audição.

A gravadora Kill Again Records continua cumprindo seu papel de trazer ao público brasileiro pérolas do cancioneiro underground mundial e lançou essa compilação que traz as duas demo tapes em CD pela primeira vez no Brasil. As duas demos se diferenciam dentro de um processo evolutivo musical que vai de 1987 a 1991 e ao ouvir esse material você tem certeza que o SINDROME teria se tornado um nome grande na cena se não tivesse acabado. A faixa “Into the Halls of Extermination” abre o CD e mostra de forma clara como o som desses caras já era poderoso. Não há como não perceber em alguns momentos uma influência de Possessed em várias linhas vocais, mas a banda não soava tão maldita e agressiva. Tudo era mais técnico, porém visceral. O vocal de Troy Dexler era muito foda, ainda que soasse como um produto de sua época. Alguma coisa do Morbid Angel em seus primórdios também é possível de ser percebido, mas o grande trunfo do grupo era soar de forma muito particular. “Rupture in Blood” é uma pancada e uma das melhores faixas desse lançamento. Outra grande faixa é a clássica “Cathedral of Ice”, que soava totalmente death metal. Não investia na velocidade, mas era pesadíssima e com uma série de riffs matadores. Uma das mais porradas é “Aortic Expulsion”, faixa nervosíssima.

Fico me perguntando o quanto de SINDROME há nos trabalhos do futuro Nocturnus, da Flórida. Os solos fritando tudo aqui são realmente caóticos. Quando a audição chega na segunda demo tape da banda, a noção de evolução sobe às alturas. Aqui o som se torna mais técnico, mas não menos energético, mas tudo de forma ainda mais profissional. Acho que dá para afirmar que o lado thrash metal aqui se fez mais presente, mas soa mais maduro. O baterista Tony Ochoa fez um trabalho monumental nessa segunda demo. Com peso e técnica, ele criou linhas de bateria muito interessantes e complexas. O uso de teclados também cria um clima mais carregado.

Esse lançamento traz ao Brasil uma das melhores bandas da cena underground de pouco mais de 3 décadas atrás e é um item obrigatório a quem aprecia o metal americano dos anos 80/90. Tudo soa perfeito, inclusive a parte gráfica que traz letras, fotos, notas sobre a banda, enfim, um pacote quase completo. Parabéns à Kill Again Records por mais esse material disponibilizado. E não esqueça de ouvir faixas como a poderosa “Extra Sensory Warming (E.S.W.)”. O único ponto negativo em relação ao box gringo é não vir com o CD extra contendo uma gravação ao vivo registrada em 1988, mas o que é compreensível diante dos custos extras ou possivelmente a gravadora não liberava para o país esse material extra. Mas independente disso, é um lançamento que mostra uma época de grandes descobertas vindas dos porões da cena metal mundial.

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