CD/EP/LP

SHAPE OF DESPAIR – Return to the Void (CD 2022)

Review by Giovan Dias

SHAPE OF DESPAIR (Finlândia)
” Return To The Void” CD 2022
Misanthopic Records/ Black Hearts Records
Nacional

Fui “domesticado” a ouvir Doom Metal através da consagrada tríade My Dying Bride/ Paradise Lost/ Anathema, nos primeiros anos da década de 90, com aquela “regra” de ser lento, pesado e com voz gutural, era também o chamado Death Doom. 30 anos depois o Doom Metal tem uma abrangência enorme em sua sonoridade com diversas ramificações e subdivisões, e ao contrário, do Death Metal e do Black Metal, este estilo tem liberdade para caminhar e experimentar sem precisar justificar ou dar satisfações a quem quer que seja. Contudo, não posso negar, que uma vez domesticado naquelas características de outrora, dificilmente você desvencilhar-se disso.

SHAPE OF DESPAIR é uma dessas bandas que trazem as características básicas da tríade, porém mais que isso, traz sua identidade própria com a tristeza e desesperança típica do estilo Funeral Doom Metal. O novo álbum desses finlandeses, “Return To The Void” lançado em fevereiro pela Season The Mist tem seu lançamento nacional através da parceria Misanthopic Records e Black Hearts Records, formato slipcase numa qualidade surpreendente.

Formada em 1998 e mantendo até hoje boa parte dos integrantes originais, com músicos que já passaram por bandas como Clouds, Thy Serpent e Impaled Nazarene, a banda após 7 anos desde o último álbum (e uma demo tape nesse ínterim), surgem com mais um trabalho que faz jus ao seu histórico. Iniciam com ‘Return To The Void’, faixa que dá título ao álbum, nos convidando a deixar o cinza entrar e invadir nossas percepções com bases lúgubres carregadas de desesperança. O vocal gutural de Henri Koivula manifesta o ambiente de desilusão, enquanto Natalie Koskinen vem contrastar com sua bela voz, nos remetendo a ponto de vistas diferente sobre o clima de desencanto que a música nos remete.

‘Dissolution’ surge com peso e lentidão precisa. Os teclados adicionam mais tristeza ao que ouvimos, fazendo-nos imergir a um sentimento de perda e instabilidade emocional. Há momentos que entre os vocais de Natalie, os teclados de Jarno a bateria de Samu, nos sentimos navegando por um mundo astral e vazio, mas logo somos convocados por urros guturais de Henri, atraidos para a escuridão interior. Após, temos ‘Solitary Downfall’, se arrastando com grilhões de sofrimento e dor. Uma melodia longa e triste é escrita nas guitarras de Tomi e Jarno testando os limites da solidão, numa faixa caracterizada também pela predominância quase que total do vocal limpo, criando um clima extradimensional, entre a inércia e a catarse.

‘Reflexion in Slow’ soou aos meus ouvidos como poesia do caos e da desolação. Trechos com bases pesadas e até variadas, diferindo daquela repetição extensa e dolorosa de outras faixas. Os vocais femininos e guturais dialogam sobre a perda do brilho, os pensamentos sombrios e o sufocar da vida que se esvai. ‘Forfeit’ é a penúltima faixa deste álbum e demonstra a versatilidade e qualidade destes cantores, que encantam sua arte nessa dualidade de estilos vocais sobre uma composição densa que transmite uma carga sufocante de perda.

Chegamos na última e mais lenta faixa, ‘The Inner Desolation’ com 11:48min. Navegamos entre o arrastar do Funeral Doom Metal no mais obscuro e angustiante que conseguiram transportar para essa música. Os solfejos de Natalie Koskinen é um convite para retornarmos ao vazio… para despertamos o vazio… uma busca da quietude, talvez um ensaio para o final, para o último sopro.

Isso é Shape of Despair.

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