CD/EP/LP

ABSENT IN BODY – “Plague God” (2022)

ABSENT IN BODY (Internacional)
“Plague God” – Lançado em 25/03/2021
Relapse Records (EUA) – Importado
10/10

O Super Projeto internacional ABSENT IN BODY existe desde 2015, e chegou a lançar uma faixa de 19 minutos em um EP em 2017 (sob o nome ABSENT), mas só agora apresenta ao mundo o seu real potencial de devastação, com o primeiro álbum de estúdio “Plague God”, via “Relapse Records”.

 Definir ou categorizar o som dos caras é o primeiro desafio. É uma mistura extrema e muito pesada de Sludge Atmosférico, Post-Metal, Industrial, Drone e Doom Metal.

 Por outro lado, definir o Projeto como Super é bem simples. Confira o timaço: “Igor Cavalera” (CAVALERA CONSPIRACY, ex-SEPULTURA) nas baquetas, o americano “Scott Kelly” (NEUROSIS) nas guitarras e vocal, e a dupla Belga do AMENRAMathieu J. Vandekerckhove” (guitarras) e “Colin Van Eeckhout” (baixo e vocais).

 A gravação do disco ocorreu na Bélgica, ao longo dos últimos quatro anos, no estúdio do baixista do AMENRA Tim de Gieter”. O guitarrista “Vandekerckhove” escreveu e compôs durante as turnês de sua banda, e as gravações rolaram quando os membros internacionais podiam visitar o estúdio (nada foi gravado à distância). Vale lembrar que o “Cavalera” atualmente mora em Londres, o que facilitou essa logística.

 As letras e a atmosfera angustiante do álbum focam o processo lento e certeiro de destruição do mundo pelas mãos humanas. E, consequentemente, agindo diretamente no sentido da própria extinção. Soa como um mergulho estranho e claustrofóbico num mundo sombrio, pós-apocalíptico.

  “Rise from Ruins” inicia atmosférica, com a batida tribal de “Cavalera” ao fundo. As guitarras e baixo só dão as caras após dois minutos, com riffs colossais. O ritmo é lento, vai encorpando e crescendo no minuto final, ganhando muito em intensidade e peso. Um pequeno artefato nuclear Sludge/Doom.

 “In Spirit in Spite” abre com características mais industriais, e ótimos vocais extremos. A pegada segue Sludge/Doom, um som que se movimenta lenta e ameaçadoramente, como uma imensa aberração, de proporções inimagináveis. Da metade em diante, ganha vocais limpos e elementos Drone/Ambient que criam uma ambientação hipnótica e desoladora.

 “Sarin” refere-se ao ataque terrorista de 1995 no metrô do Japão, que utilizou o gás de mesmo nome. Começa enganando o ouvinte, parecendo ser atmosférica. Na verdade, caminha em ritmo médio, com percussão arrebatadora e muito peso. Uma faixa que me lembrou os momentos mais extremos do TRIPTYKON (SUI) da lenda “Thomas Gabriel Fischer”, principalmente pelos riffs e atmosfera.

 “The Acres / The Ache” revisita a percussão tribal em sua abertura, em meio à poluição sonora de veia Industrial. Próximo aos dois minutos, explode com os vocais mais extremos do álbum, mas nunca ganha velocidade. Pelo contrário, seu ritmo decai lentamente. Aos 4 minutos, torna-se morosa e ganha vocais limpos. As vocalizações extremas retornam junto com o peso excruciante na seção final da música. Essa metamorfose surreal e sublime é conduzida com perfeição, o que faz dessa faixa a melhor do álbum.

 “The Half Rising Man” abre similar à sua antecessora, e até parece que não vai engrenar. Dois minutos passados, ela começa a se desenvolver, devagar e sempre, com novos elementos incorporados aos poucos em meio à repetição do riff principal. Pouco antes dos seis minutos, há um caldeirão exótico e doentio de sons rolando em crescendo. O encerramento brusco freia a expectativa por um clímax. A estrutura me lembra muito a música “Ympyrä on viiva tomussa” do disco “Valonielu” do ORANSSI PAZUZU, pela forma como a tensão se constrói.

 Não é simples, o disco de estreia do ABSENT IN BODY. Não será absorvido em poucas audições. Mas é genial. Ouça com calma, com atenção, de preferência com um bom par de fones de ouvido. Há uma riqueza de detalhes a ser assimilada, e a recompensa é certa.

 Não imaginei que o primeiro disco nota 10 desse ano pudesse ser algo tão diferente do que eu usualmente ouço. Imagino que dividirá opiniões, e que servirá de influência para muitas formações.

 O som tem características únicas. Ainda assim, recomendável aos fãs de AMENRA (BEL), NEUROSIS (EUA), TRIPTYKON (SUI), BORIS (JAP), JESU (GBR), GODFLESH (GBR), ISIS (EUA), ALTAR OF PLAGUES (IRL), CULT OF LUNA (SUE).

 Tracklist abaixo, duração total de 36:24 minutos:

1 – “Rise from Ruins”

2 – “In Spirit in Spite”

3 – “Sarin”

4 – “The Acres / The Ache”

5 – “The Half Rising Man”

Related posts

GALVANIZER – Prying Sight of Imperception (Adv. 2021)

Daniel Bitencourt

PESTICIDE – Death Compendium (CD 2023)

Fábio Brayner

BLOEDMAAN – “Castle Inside the Eclipse” (CD 2023)

Fábio Brayner