CD/EP/LP

VINCENT CROWLEY – Beyond Acheron (2021)

VINCENT CROWLEY (Estados Unidos)
“Beyond Acheron” – CD 2021
Hellhammer Records/Odium Records – Importado
Black Seal Productions/Metal Maniac – Nacional
10/10

Esqueça rótulos, concepções enlatadas ou descrições estereotipadas — tudo em “Beyond Acheron” é belo e precioso justamente por ausentar-se dos padrões, das redundâncias e das leituras plásticas da atualidade, superficial e sem substância. Ele é sombrio, macabro, atmosférico e envolvente como todo bom conto de terror; cabalmente lodoso e sedutor como os escritos atemporais nascidos das imortais e mórbidas mentes de Edgar Allan Poe e Howard Phillips Lovecraft.

Após mais de 03 décadas a frente do potencialmente algoz e blasfemo Acheron, o veterano e prolifero VINCENT CROWLEY retorna com sua nova banda (cabivelmente batizada com seu nome) e junto a ela, com uma nova proposta musical que se sedimenta e se desenvolve no macabro — tanto no volume lírico quanto no espectro composicional. Essa mudança de direção mira em outros cardeais, mas não se desvencilha totalmente de seu passado — ela deslumbra o futuro, mas reverencia o antigo e por vezes, tece tributos ao mesmo. Principalmente por conservar o sentimento da música de uma forma totalizada e intrínseca, sem ostentações técnicas e sem holofotes fixos na destreza em singular de cada um de seus instrumentistas.

Sua nova confecção flutua do início ao fim com tranquilidade e liberdade sobre um plano sonoro que abrange tanto o Death/Black Metal de sua recém-falecida banda quanto o Doom, o Dark Metal (na interpretação coerente do estilo), o Heavy tradicional e o Gótico, esse último devido a sua ambientação e certa teatralidade. “Beyond Acheron” foi gravado no verão de 2019 no Sonic Lounge Studios, em Grove City, Ohio e foi integralmente produzido por Joe Viers (Crucible Of Hate, Robot Lords Of Tokyo, etc.), seu inerente complemento visual é assinado por Timo Wuerz (Emerald, Thou Art Lord, Obscura e outros). Completam à banda junto a Vincent, o guitarrista Art Taylor, o baterista Ryan Arter e o tecladista convidado Aaron Werner. As sessões de baixo foram divididas entre Art e Vincent.

Sinos a badalar, sons de chuva e trovões alinham-se criando um indissipável clima de suspense na curta introdução que dá nome ao disco, “Beyond Acheron”. Suspense esse que aumenta quando os sons de um pulsante coração surgem. Créditos a Ludo “Evil” Legeune pela genialidade desse pequeno fragmento e também pelo “Outro”. Edgar Allan Poe agradece pela referência ao clássico “O Coração Revelador”. Riffs redigidos à perfeição, robustez, dinamicas diversas e tempo médio são os preenchimentos de “Where No Light Shines” (quase um hibrido de Bolt Thrower, Necros Christos e Sinoath), porém, com uma personalidade mais elástica e um solo de guitarra surpreendente. “My Eternal Vow” é mais climatizada e rica, seja por suas bem escritas e impostas linhas de teclado ou por suas belas alas melódicas. Estética e conteúdo em comunhão. De estrutura ameaçadora é “La Muerte” (candidata a hino). A caligrafia do baixo junto as melodias de guitarras e teclados conduzem essa composição ao status de indispensável. Os solos são novamente magistrais.

Interessante dizer que a bateria é um tanto discreta, mas eficiente e interessante, não chega a furtar atenções, mas confere uma dose a mais de intensidade ao disco. Sabendo disso, “Bring Forth The Dead” serve de palco a Ryan Arter. Seu trabalho apesar de tímido é consistente. Blast Beats, bom uso dos pedais (bumbos duplos) e principalmente no uso dos pratos e nas viradas. “Masquerade Du Macabre” é um tutorial sobre como dosar técnica e feeling de modo que estes sirvam a música. Os solos são trajados de pura elegância. “E a escuridão, a decadência e a Morte Vermelha tinham alcançado o domínio ilimitado sobre tudo.” (“A Máscara Da Morte Rubra”; Edgar Allan Poe). Provando que para ser épica uma composição não precisa de proporções colossais, “Farewell (At Death’s Door)” encerra o disco de maneira excelente. Um ouroboros de tudo que foi exibido anteriormente, ou seja, uma revisita as qualidades e pontos altos. E assim galgamos o Acheron.

Afirmar que “Beyond Acheron” é uma obra-prima sonora é limita-lo, pois, além de substancioso musicalmente, ele também é vasto em ideias e conceitos. Deixemos os rótulos para os “wikipedianos” e “metallunianos” — aqui temos Metal somado a um quinhão excelsior da literatura mundial e nada pode ser maior ou melhor que isso! Ainda bem que saiu em edição nacional e que venham mais discos.

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