CD/EP/LP

SWALLOW THE SUN – 20 Years Of Gloom, Beauty And Despair: Live In Helsinki (2021)

SWALLOW THE SUN (Finlândia)
“20 Years Of Gloom, Beauty And Despair: Live In Helsinki” – CD/DVD 2021
Century Media Records – Importado
10/10

Pouquíssimas bandas atualmente conseguem articular lançamentos tão emocionantes, melodiosos, épicos e meticulosos como o finlandês SWALLOW THE SUN. Cada um de seus álbuns revelam não apenas um constante aprimoramento sonoro, mas também uma infinita busca por ideias e conceitos que se expandem para além das fronteiras mecânicas contemporâneas. Suas músicas são preenchidas por letras altamente melancólicas, harmonias sutis, melodias crescentes, arranjos cujo detalhismo é sublime e extensas bases atmosféricas totalmente tomadas pela emoção.

Sua galeria discográfica comporta sete registros que primam pela excelência, beleza e pela acédia que tão cabalmente transmitem. Cada um desses registros se expressa tanto como uma extensão do anterior quanto sua progressão — gradativa e sabiamente planejada. A qualidade ecoa de um lançamento para o outro — em estruturas que ora são inebriantes e etéreas, ora firmes e invasivas. “The Morning Never Came” (2003), “Ghosts Of Loss” (2005), “Hope” (2007), “New Moon” (2009), “Emerald Forest And The Blackbird” (2012), “Songs From The North I, II & III” (2015) e “When a Shadow Is Forced Into The Light” (2019) são mais que titulos musicalizados. São experiencias profundas que divergem na razão pela qual foram compostas, mas que convergem em essência e nas particularidades da banda.

Lançado no final de julho pela Century Media Records, “20 Years Of Gloom, Beauty And Despair: Live In Helsinki” é, como denuncia o título, um registro ao vivo, o primeiro da banda que, até então, estava numa turnê que celebrava seus 20 anos de existência. Turnê essa que foi infelizmente, mas necessariamente interrompida devido aos avanços do (Covid-19): “Conseguimos tocar em apenas 10 shows especiais de aniversário de 20 anos antes de todo o mundo fechar em março de 2020, e o resto da turnê ser cancelada. Felizmente, filmamos e gravamos um desses shows, que lançamos agora  como nosso primeiro álbum ao vivo, enquanto esperamos poder voltar aos palcos novamente”, memorou o vocalista Mikko Kotamäki.

O show a qual Mikko se refere ocorreu no dia 26 de fevereiro no famoso Clube Tavastia situado em Helsinque. A apresentação se divide em dois setlists distintos, onde um é integralmente acústico — simples, intimista e totalmente centralizado no disco “Beauty”: a segunda parte do triplo (e obra-prima) “Songs From The North” (2015), o outro, por sua vez, é elétrico e abrange composições de todos os lançamentos da carreira da banda.  O material extraído dessa apresentação foi produzido pela própria banda e mixado em duas sessões. A sessão desplugada foi trabalhada pelo tecladista e vocalista Jaani Peuhu no estúdios Black Chandelier Music. O guitarrista Juho Räihä mixou o restante da apresentação e também remasterizou o trabalho como um todo no SoundSpiral Audio Studio.

Entre o acolhimento e o pesar em suaves afagos, somos postos frente ao set acústico — banda e quarteto de cordas em sintonia, arranjos tão dolorosos quanto íntimos e impecáveis; uma simplicidade que fascina por sua delicadeza e pela maneira como desperta sentimentos que vão crescendo e se alojando no ouvinte. “The Heart Of A Cold White Land”, “Pray For The Winds To Come”, “Songs From The North”, “Before The Summer Dies”, “Autumn Fire”, o instrumental “66°50’N, 28°40’E” e “Away” passam a ter um novos significados após as contínuas audições… Sublimes, unicamente sublimes. O final de “Away” com Mikko repetindo diversas vezes “nada aqui permanecerá o mesmo” é de dar um nó na garganta — ainda mais se considerarmos que poucos dias depois da apresentação, a pandemia iria se alastrar e arruinar tantas vidas, famílias e sonhos.

O set elétrico e de interpretações ruborizadas é aberto com as colossais “Lost & Catatonic” e “Empires Of Loneliness” (ambas extraídas da tríplice pintura sonora “Songs from the North I, II & III” — onde a primeira pertence ao álbum “Gloom” e a segunda ao álbum “Despair”). Executadas com uma absoluta perfeição — tanto musical quanto emocional. Após essa demonstração de destreza, a banda desfila com seus clássicos. A forte e sempre bem-vinda “Falling World”; a harmoniosa “Cathedral Walls” — que originalmente conta com os vocais da ex-Nightwish Anette Olzon; a segunda parte da épica “Plague Of Butterflies” do ep homônimo lançado em 2008; “Don’t Fall Asleep” e “Swallow” (respectivamente a primeira e segunda parte da quadrilogia “Horror”), a magnífica “Stone Wings” e a suíte Doom Metal “The Giant”. A dramática “Here On The Black Earth” do elegíaco “When A Shadow Is Forced Into The Light” fecha as cortinas do disco, fim da viagem… E que bela viagem! Quantos relevos emocionais e texturas sonoras! Quantas fotografias musicalizadas num só disco!

Foto por Jussi Ratilainen

20 Years Of Gloom, Beauty And Despair” é um disco ao vivo como tantos outros, mas totalmente diferente de todos pelas ondas emotivas que transmite. Nascido não como um projeto ambicioso ou mesmo para cumprir exigências contratuais, seria uma celebração que foi, infelizmente, interrompida por uma tragédia global. De todo modo, o apanhado prova não apenas a competência  e meticulosidade do SWALLOW THE SUN nos palcos, mas também sua capacidade de transportar para os palcos todas as emoções e sutilezas com as quais trabalham com tanto esmero em estúdio.

Lembrando que em novembro a banda lançará seu oitavo álbum de inéditas, intitulado, “Moonflowers”.

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