Os relançamentos de trabalhos que marcaram época tem sido uma forma perfeita de acabar com a especulação de mercenários que tentam lucrar pequenas fortunas com álbuns que se tornaram itens de coleção. Servem também para resgatar obras que, ainda que não tenham se tornado clássicos do estilo, foram extremamente importantes para o desenvolvimento de uma cena extrema que só rendeu frutos com o passar dos anos.
Esse é o caso de “Five Across the Eyes”, álbum de 1999 da banda dinamarquesa INIQUITY. Quando do lançamento do álbum quase toda a formação da banda já havia sido mudada e ele foi um desafio para ser feito, mas que acabou se tornando um trabalho de referência para a banda e para o cenário da época. Essa nova versão foi totalmente remasterizado no Medley Studios e agora em 2021 viu a luz do dia novamente com um som mais robusto, mas mantendo as características do INIQUITY.
A banda detonava aqui um death metal com brutalidade, peso e diversificação, ou seja, o clássico death metal em sua forma mais pura. Esse foi um dos álbuns de death metal mais vendidos da história do metal extremo dinamarquês e ao ouvir as dez faixas que compõem o disco é fácil entender o porque. Não há uma limitação por opção aqui. Não há apenas velocidade, assim como não há apenas partes mais trabalhadas. É a união dos dois que faz o som do INIQUITY se manifestar em uma avalanche de riffs pesadíssimo, momentos de groove, partes rápidas e um vocal gutural perfeito para o estilo e para a proposta da banda. Os guitarristas também se destacavam aqui com arranjos precisos e certeiros.
Entre as músicas que fazem parte do álbum, a faixa de abertura “Inhale the Ghost” era um excelente cartão de visitas, pois mostrava as várias facetas do grupo, indo de momentos mais rápidos a outros mais cadenciados. A próxima música “Surgical Orb” é pura energia e massa musical. Mais contida, mas não menos brutal em sua proposta. Na mesma linha vinha “Sidereal Seas”, onde a guitarra solo se destaca com arranjos de extremo bom gosto. Há resquícios de thrash metal em “Random Bludgeon Battery” e um trabalho primoroso do baterista Jesper Frost Jensen. Umas das minhas preferidas é a complexa “From Tarnished Soil” que já se inicia com um riff quebrado e mortal, para continuar crescendo e atingindo o seu clímax death metálico.
Um pouco como o Morbid Angel, “Pyres of Atonement” é mais carregada e suja em vários momentos. “The Rigor Mortified Grip” é a pancadaria sendo liberada por todos os lados. Música perfeita para o palco. Musicalmente poderia colocar a música do INIQUITY em uma encruzilhada de influências que incluiria Morbid Angel, Carcass, Brutality, Nile e suas próprias nuâncias. Um disco que não soa datado de forma alguma, provando que conseguiu passar em seu teste do tempo. Death metal feito como se deve e por quem entende do assunto.