Entrevistas

CONVULSIVE – Um pútrido death metal criado por veteranos da cena nacional

O underground death metal nacional sempre surpreende seus seguidores com bandas que surgem e lançam trabalhos realmente fudidos. O projeto CONVULSIVE é uma mistura de diversas experiências, visões de extremismo musical e total respeito pelo estilo e o seu debut álbum é um material que vem agradando a todos que o escutam. Conversamos com a banda sobre esse material de estreia e sobre vários outros assuntos. Confira abaixo:

Grande Luiz Magrão, como vai brother ? Seja mais uma vez bem vindo ao T.O.C.S. portal. Cara, mais um dia, mais um projeto seu. hahahaha O CONVULSIVE é o projeto de número 666 ? Mas falando sério… Como a banda foi concebida ? Sei que todos os membros são de cidades diferentes.

Luiz Goreterrorist: Salve Fábio, tudo bem ? Como vai, meu amigo ? Espero encontrá-lo bem e com saúde. Primeiramente, te agradeço, mais uma vez, por abrir espaço no T.O.C.S para falar um pouco sobre o meu trabalho. E respondendo à sua pergunta, sim, o CONVULSIVE é mais um projeto que foi abortado durante esse período caótico de pandemia. Ficar isolado em casa, foi e tem sido uma merda, mas por outro lado, tive tempo para começar algo que sempre tive vontade e nunca me arrisquei: compor e gravar em casa. E durante esse processo foi saindo muitas ideias que não quis descartar nada. Segui uma dica que vi em um vídeo do Ola Englund, no qual ele explanava sobre a forma que ele compõe. Ele disse que senta pra tocar guitarra sem ideia nenhuma cabeça, simplesmente vai tocando e gravando tudo. Se surgir um riff que considere interessante, ele guarda o riff em uma pasta isolada, e depois vai juntando esses riffs e monta as músicas, ou pelo menos a estrutura inicial delas. Achei essa dica interessante e comecei a fazer isso. Como nunca fui compositor, essa foi uma forma legal pra começar a tentar compor. Então passei a fazer isso, sempre que sentava pra tocar, gravava os riffs e o CONVULSIVE surgiu assim. Na época, em setembro de 2020, estava gravando as faixas pro CD split do Spermspawn com o Feretral, tava com muitas ideias na cabeça, mas muitas delas não encaixavam pro Spermspawn. Gravei e deixei guardado. Quando terminei as faixas do Spermspawn, fui mexer nesses riffs que ficaram isolados, e nisso surgiu 4 músicas com essa pegada Death Metal Oldschool. Pensei em soltar na net, mas antes mostrei pra galera do Feretral. Nessa época estávamos em contato todos os dias pra acertar os detalhes do CD Split – que foi lançado por nós de forma independente -, e o feedback deles foi o seguinte: Vamos gravar isso aí e montar uma banda nova, você já criou 4 faixas, nós criamos mais 4 por aqui e gravamos um álbum, HAHAHAHA.  E foi assim que surgiu, simples e direto, sem nada planejado. E cara, foi fantástico trabalhar com esses caras, mesmo com a distância – nós nunca ensaiamos juntos -, foi tudo feito à distância usando as facilidades que a internet proporciona, mas o projeto só foi concluído porque eles levam tudo muito à sério, são compromissados demais, as melhores pessoas pra se ter uma banda. E assim, eles no Rio de Janeiro, eu em Mato Grosso, conseguimos compor um disco à distância, e agora estamos a todo vapor, divulgando e firmando alianças para os vindouros próximos lançamentos, esse primeiro álbum é só o início da história do CONVULSIVE.

Eu acho que a pandemia acabou fazendo muita gente canalizar toda a energia negativa que nos cercava e transformá-la em arte, seja ela musical, pintura, cinematográfica. Você acredita que sem isso teria sido um período muito mais difícil ? Já que você usou essa energia na criação das faixas do CONVULSIVE, sobrou material que não se encaixava na sonoridade do projeto e que pode ser usado em algo diferente ?

Luiz Goreterrorist: Cara, com certeza a arte foi  uma válvula de escape pra muita gente. Estamos vivendo tempos muito difíceis, pandemia, milhões de mortes, a economia no buraco, fome, miséria, e pra piorar tudo esse desgraçado genocida na presidência fazendo uma cagada atrás da outra, se ficarmos focados somente na desgraça a gente pira. Aliás, tem muita gente adoecendo por conta disso tudo, não há mente que aguente a pressão de viver nesses dias atuais. Então a arte ajuda demais, é uma forma de canalizar todos esses sentimentos negativos e externa-los, é uma forma de terapia. Pra mim isso funcionou muito bem, me ajudou demais, e esses últimos 2 anos tem sido a minha fase mais criativa, a vontade é de criar mais e mais, só têm me faltado tempo disponível pra fazer tudo que imagino, mas a mente não para, é 24hs ligada pensando em música. Como diria Nietszche: sem música, a vida seria um erro. Sobre o Convulsive, o que posso te adiantar é que após a repercussão que o disco tem gerado, principalmente na gringa, nos fez voltar a produzir, agendamos alguns novos materiais pra 2022, splits e talvez um novo disco. Esse ano vai ser de muito trabalho e foco, o que era um projeto está tomando uma proporção que não esperávamos, e isso é bastante animador. Quando estava compondo pro Convulsive, sobrou sim alguns materiais que não se encaixavam na proposta, deixei tudo guardado pra trabalhar futuramente. Um desses materiais foram as faixas que gerou o projeto CYSTUS, um lance oneman band de crust/gore/dbeat, fiz um EP e joguei no Youtube, Bandcamp, Spotify. Quem tiver curiosidade é só buscar nas redes. O EP se chama “Putrid, Fetid and Corrosive”. Também sobrou material pra dar início a um novo trabalho do SPERMSPAWN, assim que tiver um tempo livre, vou dar continuidade. Como disse antes, tá me faltando tempo pra administrar tanta coisa, queria poder viver de música e ficar 24hs criando hahahahahaha.

Nessa forma de trabalhar, cada um no seu canto, quais seriam os maiores problemas e as facilidades de compor, debater sobre as músicas, ensaiar e finalmente gravar ?

Luiz Goreterrorist: Então, como disse na pergunta anterior, a banda começou após eu apresentar o esqueleto de 4 músicas para eles. Eu gravei as guitarras, baixo, programei a bateria, faltava só o vocal. Depois que mostrei os arquivos, uns 2 dias depois o Affonso (vocalista) retornou um deles com o vocal encaixado. Essa primeira faixa foi a ”Sickened Ritual of Flesh And Pus”, e essa versão demo foi a primeira faixa que postamos no nosso Bandcamp, em dezembro de 2020. Iniciamos a banda com essas 4 faixas, o Diogo (guitarrista) e o Thiago (baterista) começaram a ensaiá-las, nisso já passaram a criar as demais faixas. Sei que em pouco tempo já tínhamos 9 faixas prontas pra gravar, o que acabou demorando um pouco devido à agenda deles – no primeiro semestre de 2021 eles estavam ocupados com as gravações dos full álbuns das suas outras bandas, o Feretral e o Obscure Relic -, então iniciamos as gravações do CONVULSIVE em julho de 2021. Devido ao fato deles três tocarem juntos em outras bandas, não tivemos dificuldades no processo de criação não. Foi tudo super tranquilo, aliás, tranquilo e rápido demais. Os caras trabalham em uma velocidade absurda. Cada ensaio saía pelo menos 2 músicas prontas. Eles me enviavam os arquivos, ia ouvindo por aqui pra ir me familiarizando, e assim foi indo. Sobre a questão lírica, o Affonso sempre estava compartilhando as ideias que tinha, ele também escreveu tudo super rápido. Quando as versões pré das músicas ficaram prontas, eles entraram em estúdio e gravaram tudo em um final de semana, me enviaram os arquivos e no próximo fim de semana eu gravei o baixo aqui na minha casa.  Ficou faltando o vocal, que foi gravado um tempo depois, e em seguida o Thiago saiu em tour europeia com outra banda, assim que ele retornou finalizamos a mix e concluímos o álbum. A presença física é muito importante em uma banda, principalmente pra ensaiar, debater sobre as músicas e tal. Mas conseguimos fazer isso à distância, é uma forma diferente de trabalhar, tem que ter bastante foco, mas rolou. O que estranhei muito foi gravar sem ensaiar os sons em conjunto, isso pra mim foi muito estranho. Mas para compor, discutir sobre as músicas e gravar, a internet hoje em dia ajuda demais proporcionando essa possibilidade de fazer tudo à distância.

“The Grotesquery Ruins of Death” é o primeiro álbum da banda e sairá pela Blasphemy Productions, de Natal. Como foi todo o processo de criação desse material ? Quem veio com as músicas e as letras ?

Luiz Goreterrorist: Exato, o nosso primeiro álbum se chama “The Grotesquery Ruins of Death”, e ele sairá no Brasil através de uma parceria dos selos Blasphemy Productions e Hellnoise Records. Nesse momento, já posso anunciar em primeira mão, que também fechamos parcerias para lançamento do disco na Alemanha, Itália, México, Estados Unidos e Chile. Talvez tenhamos versão na China e Rússia, também, mas essas duas últimas parcerias estão à confirmar. O processo de composição foi como respondi na pergunta anterior, eu compus metade do disco por aqui, eles criaram a outra metade por lá, gravaram a parte deles no estúdio GrindHouse, um estúdio parceiro deles no Rio de Janeiro, e eu gravei o baixo na minha casa, aqui em Cuiabá/MT. Todas as letras foram criadas pelo vocalista, o Affonso, o nosso Chris Barnes HAHAHAHHA. A arte da capa foi criada pelo artista Fernando Giotefeli, e temos também, ilustrações do artista Márcio Blasphemator no booklet do CD, aliás, a parte gráfica do disco tá matadora.

Musicalmente eu achei o álbum realmente fudido e um tributo inequívoco ao death metal ultra tradicional e de certa forma, até bem conectado um pouco com a cena dm de Chicago. Logicamente todos da banda apreciam o metal da morte, mas quais seriam aquelas bandas que realmente ajudaram a moldar a sonoridade do CONVULSIVE ?

Luiz Goreterrorist: Poxa, irmão, fico muito feliz que você tenha apreciado o disco, e sim, esse álbum é um tributo ao Death Metal Oldschool. E porra, você bateu em cima ao citar essa conexão com a cena de Chicago, porque uma das bandas que estava ouvindo bastante quando estava compondo foi o Cianide, que é de Chicago. E cara, eu toco death metal desde a adolescência, sempre tive vontade de gravar algo mais Oldschool com a minha banda GOREMPIRE, mas nunca rolou, os caras gostam de death metal muito técnico e brutal death metal. Eu era o único que sempre fez campanha pra tocar algo mais simples, com feeling, com riffs marcantes.  E quando comecei a escrever os sons que vieram a se tornar o CONVULSIVE, foi pensando nisso, fazer um som simples, cru, direto, e pesado. Na real, queria que soasse como as bandas finlandesas do inicio dos anos 90, tipo o Abhorrence, Funebre, Convulse, Putrid, Demigod, com passagens doom e levadas mais lentas, como fazem os mestres do Asphyx, Incantation, Krypts, Dead Congregation, etc. Claro que nosso som não é uma cópia disso, mas foram bandas que me inspiraram e inspiram muito.

Affonso Bestial Vomit: Muito obrigado, Fábio. Vindo de você é uma puta satisfação, grande perito em Death Metal!  As influências de Chicago são bem latentes mesmo, o Swamp into Gore do Broken Hope é lindo e com certeza uma grande influência. Um álbum que me influenciou e influencia bastante é o Tomb of the Mutilated do Cannibal Corpse. Esse disco é um divisor de águas na minha vida e foi ouvindo o Chris Barnes que comecei a treinar o gutural quando tinha uns 14/15 anos. Um amigo me emprestou e a gente ouviu até furar, era nossa referência junto com o Altars of Madness do Morbid Angel e foi a partir dai que realmente fui contaminado pelo death metal. Na época da MTV eu ficava vidrado nos programas de metal, então fui apresentado ao Benediction, Napalm Death, Krisiun e tudo isso me influenciou. Sepultura é minha banda do coração então tem Max “Possessed” à vera nessa formação também, até porque foi meu primeiro contato com som mais pesado quando comecei a ouvir. Comprei o The Roots of Sepultura e ouvia muito o CD2 que continha uma coletânea, ali conheci Necromancer, Troops of Doom. O show de Barcelona por exemplo é um dos que mais assisti até hoje, aquilo é insano, só lamento não ter pego essa fase. Mas as influências são muito além, por exemplo, gosto muito de banda de death metal com vocal mais fechado e gutural então Grave, Suffocation, Deicide, Incantation, Mortician e toda essa galera me influenciaram e influenciam bastante. Gosto muito também da nova escola, bandas como Tomb Mold, Blood Incantation, Hyperdontia, Pissgrave, Phrenelith me influenciam muito, muita coisa legal tem sido feita e acompanhar essas bandas é muito foda. Agora se for para citar quatro bandas que me inspiram a fazer vocal gutural de cara coloco para você o Gorefest (Mindloss e False), Cannibal Corpse (Butchered at Birth e Tomb), Morbid Angel (Até o Heretic) e o finado Sepultura (até o Arise). Resumindo, “The Grotesquery Ruins of Death” é um álbum de Death  Metal Oldschool, feito por metalheads que amam o estilo, feito sem pretensões, sem seguir moda, feito de coração, como um tributo ao estilo e às bandas que amamos.

Liricamente dá para perceber que há muito de filmes de terror, principalmente The Evil Dead. Isso ficou claro na capa, onde podemos ver o “Necronomicon” na ilustração. Há músicas falando de zumbis também. Você acredita que isso pode se tornar um tema recorrente nas letras da banda ou foi algo relacionado a apenas esse álbum ?

Luiz Goreterrorist: Toda a parte lírica e concepção das letras foram feitas pelo Affonso, somos todos fãs de filmes de terror e zumbis, mas ele é demente pelo tema, ele propôs escrever sobre isso e acatamos de imediato. Então, nada melhor do que ele pra responder sobre este tema, né Affonso ?

Affonso Bestial Vomit: Então, essa é a realidade paralela que vivo, na realidade é um mix pois além dos filmes tem os quadrinhos, livros e até jogos eletrônicos nessas influências. Gosto muito do cinema europeu de terror (ou euro horror), acho insanamente brutal e idolatro caras como Rugero Deodato, Lucio Fulci, Bruno Mattei, Dario Argento, Mario Bava e Amando de Ossorio por exemplo. Dos americanos a gente tem o Godfather George Romero que influenciou toda essa galera. A minha ideia é manter essa linha sempre, explorar esse universo e transmitir isso nas nossas letras. É o velho clichê do cara se sentir dentro de um filme gore, com carne podre fedendo e todo aquele suspense, gosto dessa temática. Sempre gostei de bandas como Necrophagia e Mortician por isso!

Falando em filmes, os filmes de terror tiveram uma fase de ouro e depois foram se tornando mais inofensivos. Qual a opinião de vocês sobre o cinema de terror atualmente e quais serias aquelas películas que vocês realmente gostam dessa fase mais recente ?

Luiz Goreterrorist: Que pergunta fantástica, é sempre bom falar de outros assuntos que nos inspiram além da música, e o cinema com certeza é algo que amamos e nos inspira muito. Sou fã de filmes de terror, porém não sou um profundo conhecedor do cinema. Gosto muito de clássicos como “O Massacre da Serra Elétrica” (MEU PREFERIDO EVER), “Evil Dead”, “Braindead”, “Sexta-feira 13”, “Halloween”, “The Exorcist”, etc. Gosto muito de filmes de serial killers, zumbis, e sobre o cinema atual, são poucos filmes de terror atual que me agradam, e concordo com você ao dizer que os filmes atuais são mais “inofensivos”. Um que vi faz pouco tempo e gostei muito, foi o “Hereditário” do Ari Aster, esse filme é genial, pesado, intenso, é um terror psicológico que me agradou muito.

Affonso Bestial Vomit: Eu gosto muito do cinema de terror até meado da década de 90, por isso, esse ar de marginalidade. Hoje o cinema de terror é bem mais aceito, mas antigamente era uma arte pouco compreendida e uma minoria gostava desse tipo de coisa. Tinha também aquele ar da descoberta, filmes europeus eram de mais difícil acesso. Mas mesmo hoje tem uma galera fazendo cinema com roteiro e enredo foda, tipo o hereditário, acho esse filme um dos melhores já feitos da nova escola.

Concordo. E sem falar que a própria forma como nos conectávamos com isso era diferente. O mundo se tornou tão explicitamente violento e caótico que seria impossível presenciar cenas como a de pessoas desmaiando nas salas de cinema depois de uma sessão de um filme, como o que aconteceu na estreia do “O Exorcista”. Tive a chance de visitar a locação do filme em Washington DC e foi uma sensação muito legal. A escadaria, a iluminação fraca. Até mesmo sinos de uma igreja dobraram quando estávamos lá. Hahahahhaha

Luiz Goreterrorist: Acho que nunca vai existir um filme com a pressão psicológica tão intensa como O EXORCISTA. Aquilo é uma obra de arte atemporal, toda vez que assisto me dá arrepios, aquilo sim é terror de verdade. Os filmes de hoje em dia, principalmente os de slashers, deixam muito a desejar. Nessa semana saiu um novo filme da franquia “O Massacre da Serra Elétrica”, mas as críticas estão sendo tão negativas que nem dá animo de assistir. E o Leatherface é um dos meus personagens preferidos, sou fanático pelo filme original. Mas se garimpar legal, ainda se encontra bons filmes de terror sim. O Hereditário, que já citamos acima, é um filme que me impressionou demais, achei esse filme espetacular.

Pelo menos você, Magrão e o Thiago Splatter, tem um número enorme de projetos. Essa é uma saída para lidar com diferentes interesses musicais ou foi algo mais relacionado a essa pandemia ? Uma forma de lidar com os demônios interiores ?

Luiz Goreterrorist: Eu comecei a tocar em 1998, quando comprei o meu primeiro baixo, e formei a minha primeira banda em 2000 (GOREMPIRE). Desde então, sempre toquei em mais de uma banda paralelo ao Gorempire. Por muitos anos toquei com o Gorempire, Eighteenth Angel e Malignant Excremental, cheguei de fazer show com as 3 bandas na mesma noite, todo mundo descia do palco, só eu que não HAHAHAHA. E eu sempre curti isso, porque nunca fiz aula de música, não sei nada de teoria musical, o que sei eu aprendi tocando com essa galera toda no decorrer dos anos. Cada guitarrista que toco me ensina algo, e vou assimilando, evoluindo. Em 2010 quando fui convidado pra tocar na Godhum, foi o período que mais estudei música na minha vida, pois a banda e os caras exigiam um nível técnico que eu nunca tive. Foi desafiador, estressante, mas depois foi recompensador, porque aprendi e evoluí muito como músico. Só que a Godhum parou as atividades em 2014, e de lá para cá fiquei somente com o Gorempire. Em 2018 fui convidado pra entrar no Heretic Razor, trabalhamos pesado, gravamos um disco, divulgamos ele pesado em 2019, fizemos alguns shows, tocamos fora do nosso Estado, tava tudo fluindo bem, e em 2020 íriamos começar a gravar um novo álbum, só que daí veio a maldita pandemia. Fomos obrigados a parar com os ensaios, fiquei 2020 todo trancado em casa sem ver os caras, e em janeiro de 2021 perdemos o Camilo, baterista do Gorempire, num acidente automobilístico. Então tudo isso que aconteceu foi me motivando a começar a tocar em casa, sozinho, aprender a gravar e produzir as minhas coisas, nunca por ego ou algo do tipo, mas principalmente como terapia, para colocar pra fora o que tava sentindo, para me expressar, desabafar, e nisso foi surgindo ideias pra vários projetos, todos sem pretensão alguma, mas só para exteriorizar o que tava sentindo. Transformar aquele monte de emoções em música, e é o que tenho feito desde então. E com certeza, esse monte de projetos e bandas, além do aprendizado musical, me serve como uma forma de lidar com meus demônios interiores, e tem funcionado, porque sem a música, sem ocupar minha cabeça com isso, acho que tinha pirado. Aconteceu muita coisa negativa, ruim e pesada comigo nos últimos 2 anos, TÁ FODA.

Thiago Splatter: Eu gosto muito de ouvir som e isso reflete na minha pessoa. A gente fica amigo de uma porrada de gente no underground, os caras procuram pra fazer som, não consigo dizer não e acabo aceitando sempre justamente por gostar tanto hahahahahaha. Cada banda tem uma sonoridade diferente da outra, isso que é o mais legal! Ah e claro, na pandemia isso se intensificou mais, como estávamos em casa no confinamento as ideias surgiam a mil.

Em termos de produção eu achei que a parte das guitarras ficou um pouco abafada, tirando um pouco a definição do instrumento. Agora depois da gravação finalizada e já sendo divulgada, como vocês avaliam a produção do álbum ? Ficaram satisfeitos com o resultado final ?

Luiz Goreterrorist: Então Fábio, acho que o maior desafio de fazer um disco assim à distância, não foi composição, falta de ensaio, nada disso. O maior desafio foi a pós produção, a mixagem. Porque quando a banda tá reunida junto com o produtor, podemos alcançar melhores resultados, porque todos opinam ali na hora, o produtor vai ouvindo e mexendo, juntos vão procurando alternativas pra chegar próximo daquilo que a banda quer. E feito à distancia isso fica muito complicado. Esse disco teve umas 50 versões de mixagem, ouvíamos, pedíamos uma alteração, o produtor mexia, devolvia o arquivo depois de uns dias, e não ficava como queríamos. Chega num ponto que você fica perdido com tantas versões, é cansativo, estressante, e tudo isso influência no resultado final. Tenho certeza absoluta que se o disco tivesse sido mixado com todos nós presentes no estúdio, o resultado seria um pouco melhor, porque sim, o disco tem falhas de produção, os timbres não estão exatamente da forma que imaginávamos, e sempre que a gente conclui uma gravação, fica aquele sentimento de que poderia ter melhorado algo, nunca ficamos 100% satisfeitos, e isso é normal, faz parte do processo. Eu gostei muito do disco, acho que fizemos um bom trabalho pelas condições e da forma que foi feito, até porque não tínhamos pretensões e nem rios de dinheiro pra investir na produção, só queríamos gravar as músicas que criamos. E mesmo sabendo dos “defeitos”, o feedback da galera tá sendo absurdamente foda, principalmente dos gringos. Estamos recebendo muitos elogios, e esse som “abafado”, primitivo, a gringaiada tá pirando, diz que lembra os primórdios do metal brasileiro, HAHAHAHA. Estou muito empolgado com a reação da galera, tá sendo recompensador.

Affonso Bestial Vomit: É sempre bom termos opiniões diferentes, até para termos parâmetros para melhorar no que faltou. Sou suspeito para falar pois aquele velho clichê do “ah o álbum é como um filho” se aplica a mim então não consigo notar algumas coisas e uma opinião de fora é muito boa. Temos um EP engatilhado ainda para esse ano, a tendência é irmos ajustando o som e melhorando cada vez mais. Só não vamos dar uma de Death e ficar técnicos demais, isso pra gente não funciona hahahahaha

Thiago Splatter: Fiquei muito satisfeito sim, mas no próximo vamos melhorar mais alguns pontos e deixar mais brutal e mais foda. O que o Magrão e o Affonso falaram eu assino embaixo.

Voltando à arte da capa, quem foi o responsável por essa ilustração ? Achei muito foda e parece uma pintura mesmo, não algo feito digitalmente.

Luiz Goreterrorist: O artista responsável pela capa é o Fernando Giotefelli, ele toca na banda de death metal Echoes of Death. É um artista que eu aprecio e gosto muito, sou fã do trabalho dele. Ele também fez a capa do vindouro disco do meu outro projeto – com os caras do Flesh Grinder e Zombie Cookbook -, o Hoerverde, e a arte tá ultra foda. Como ele já tinha feito esse trampo pro Hoerverde, eu sugeri pros caras pra fazermos a capa do CONVULSIVE com ele também. Sem falar que ele é um artista super de boa pra trabalhar, talentoso e sem estrelismo. Passamos a ideia do que queríamos, ele fez um esboço, aprovamos, e daí ele pintou tudo em tela, todo o trabalho foi pintado à mão. Depois de concluído e aprovado, ele escaneou e digitalizou, mas tudo ali foi feito da forma tradicional, pintura mesmo. Dentro do booklet do CD tem artes de outro artista foda, o Márcio Blasphemator, encomendamos dois desenhos com ele, também pintados à mão, então toda a arte do CD foi realmente pintada, não tem  nada feito digitalmente (exceto a manipulação das fotos, como moramos em lugares distantes, tivemos que fazer fotomontagem).

Já estamos entrando no terceiro ano da pandemia e pelo visto essa coisa toda ainda vai longe. Tenho certeza que há uma frustração generalizada por parte de todos, banda e público, que não estão podendo tocar e presenciar eventos. Já havia algum plano de levar o CONVULSIVE para a estrada antes dessa nova onda do coronavírus ?

Luiz Goreterrorist: Não, não tínhamos ainda nenhuma pretensão de cair na estrada. Acho que falei na entrevista toda que esse projeto surgiu sem pretensões, a não ser a de gravar as músicas e registrar em CD. Porém, com essa fudida recepção do público, podemos pensar sim em levar a banda pra estrada no futuro. Agora é inviável pensar nisso por conta da pandemia, mas futuramente, se a situação estabilizar e os shows voltarem a acontecer com frequência, é possível que a gente pense nessa possibilidade sim. O fator distância vai complicar um pouco, porque vai dificultar a possibilidade de ensaios, vai gerar muitos custos também, principalmente pra mim que vou ter que me deslocar até o Rio de Janeiro, mas o futuro é um mar a ser navegado. Vamos ver o que ele nos reserva, estamos abertos à todas possibilidades agora que o disco está pronto e está sendo divulgado.

Como shows estão descartados para muita gente sobra a divulgação do material. Quando a versão em CD estará disponível ? Como tem sido a repercussão até o momento ?

Luiz Goreterrorist: A versão nacional do CD que sairá pela Blasphemy Productions & Hellnoise Records já foi pra fábrica, a previsão é de ficar pronto em 2 ou 3 meses, acreditamos que até final de março já estará circulando por aí. Na Europa sairá pelo selo italiano Death Metal Industry, com previsão pra daqui uns 2 meses também. Teremos uma versão em cassete que sairá pelo selo alemão Rat Covenant, a previsão é de ser produzido já na próxima semana. Já as versões americana, mexicana e chilena, divulgaremos em breve, assim como os selos envolvidos, logo que formos informados das datas de lançamento. Já a repercussão está foda, os gringos estão pirando, o feedback está sendo o mais positivo possível, tá muito animador, cara. Liberamos o disco no nosso bandcamp e nas plataformas digitais no dia 14 de janeiro de 2022, no dia seguinte já recebemos propostas de selos gringos, e desde então, tem aparecido muitos convites. Tem gringo que postou o disco no YouTube e em menos de 15 dias já tinha mais de 1mil visualizações, parece pouco, mas pra gente significa muito. Agora que fechamos as parcerias para lançamento do disco na Europa, Chile, México, Estados Unidos – e estamos aguardando a resposta para Rússia e China -, concluímos, então, que a divulgação está indo super bem, está tudo muito animador, muito melhor do que poderíamos imaginar. Um começo nada mal para uma banda que surgiu sem muitas pretensões, né ?

Cara, que notícias legais. Certamente é um começo muito foda para um material que foi feito da forma mais underground possível. Diante dessa repercussão e feedbacks positivos, podemos esperar por um novo álbum do CONVULSIVE ou é algo que não vai acontecer ?

Luiz Goreterrorist: Com certeza, meu amigo. Vocês ainda vão ouvir falar bastante do Convulsive nos próximos meses, e podem esperar sim por um novo álbum e outros materiais. No momento já agendamos 3 splits, em breve anunciaremos as bandas envolvidas, e vamos aproveitar o embalo pra compor novos sons pra um vindouro segundo disco. O bom de trabalhar com o Thiago, Affonso e Diogo, é que eles são acelerados no 220v, não tem tempo ruim. Os caras estão disponíveis o tempo todo pra fazer música, e conforme as propostas estão chegando, a gente tá aceitando tudo HAHAHAHAHAHHA. Com certeza é um começo muito foda pra um projeto, que virou banda, e nasceu sem pretensão alguma. E tudo isso tá acontecendo por causa do incentivo de vocês, cada pessoa que ouviu o álbum e compartilhou, ajudou a abrir alguma porta pra gente. Vocês, zineiros, também. Por isso sou eternamente grato por você disponibilizar o espaço do THE OLD COFFIN SPIRIT para falarmos um pouco sobre a banda, muito obrigado.

Magrão, eu gostaria de agradecer imensamente pela excelente entrevista e espero que tenham gostado tanto quanto eu. O portal THE OLD COFFIN SPIRIT estará com o review do álbum de vocês online muito em breve. Há algo mais que vocês gostariam de acrescentar ?

Luiz Goreterrorist: Fábio, somos nós que te agradecemos pelo espaço e tempo cedido para falarmos um pouco sobre o CONVULSIVE, muito obrigado mesmo. Aproveitamos para parabeniza-lo pelo trabalho que você tem feito, tudo com muito amor e profissionalismo, sabemos como é difícil dispor de tempo pra se dedicar a um portal com tanto conteúdo, mas você e sua equipe tem feito um trabalho primoroso. Aos leitores do THE OLD COFFIN SPIRIT, agradeço pelo tempo dispensado para ler essa entrevista, muito obrigado pelo apoio, seja ouvindo nossa música ou reverberando a mesma pelos 4 cantos do mundo.  E pra quem ainda não conhece a banda, basta buscar nas redes, estamos disponíveis em todas plataformas digitais. Abaixo segue os nossos contatos. Muito obrigado. WE STINK LIKE A CEMETERY GRAVE, WE ARE CONVULSIVE

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