Entrevistas

LACRIMA MORTIS – Doom metal e maturidade em meio ao caos

Lacrimas Mortis – Brasil 2020

O LACRIMA MORTIS nos honrou com o fato de serem a primeira entrevista exclusiva para o site do THE OLD COFFIN SPIRIT ZINE e para nós é uma grande satisfação trazer essa conversa que tive com o guitarrista Requiem, que falou conosco sobre a banda, seus ideais, sobre o doom metal e a atual situação do mundo.  Tendo acabado de lançar seu debut álbum  intitulado “Posthumous”, o doom metal que eles oferecem é realmente de uma qualidade ímpar. Espero que apreciem esse bate papo e adquiram o álbum deles. Não irão se arrepender…

 

Saudações Requiem. Gostaria de dar às boas vindas ao THE OLD COFFIN SPIRIT website. Vocês são a primeira banda que estamos entrevistando com exclusividade para esse portal. Bom, o LACRIMA MORTIS é uma banda que chega agora ao seu primeiro álbum de estúdio, mas como vocês analisam a trajetória da banda até chegar nesse momento ?
Requiem: Salve Fábio, é uma imensa satisfação estar figurando na sua publicação. Bem, posso dizer que a nossa trajetória foi relativamente tranquila em nossa caminhada, mesmo sendo uma banda underground de um estilo ainda não muito compreendido em nosso país, temos os mesmos problemas como falta de incentivo e falta recurso financeiro, mas cada passo dado foi planejado e sem afobação. Temos muitos diálogos sempre que idealizamos algo, para chegarmos no objetivo comum.

Dread – Vokills

A banda tem apenas 4 anos de vida, mas em seu primeiro álbum de estúdio, o recém lançado “Posthumous”, a sonoridade apresentada mostra uma grande maturidade musical. O LACRIMA MORTIS foi a primeira banda dos integrantes ? Que outras experiências musicais vocês tiveram e de que maneira isso somou na construção do som atual da banda e na performance individual dos membros ?
Requiem: Eu estive numa banda de Death/Doom chamada ‘Dying Embers’, na época em que morava no Paraná. Fundamos essa banda em 1997 e veio encerrar as atividades em 2007 e com ela gravei 3 demos e estávamos finalizando o debut álbum quando a banda acabou. E muito do que aprendi com essa experiência eu pude trazer para o Lacrima Mortis.  O vocalista Dread e o baterista Scavenger tocam numa banda de Splatter Death Metal chamada ‘Desperate Soul’, além do baterista também tocar nas bandas ‘Aroma de Saturno’ (Sludge) e ‘Nighthawk’ (Black Metal) e com essas bandas eles também tiveram experiências tanto de palco como em gravações. O baixista Reverend Reaper e o guitarrista Baud já tiveram as suas bandas de garagem mas nada que fosse algo muito sério, apenas aquela brincadeira de final de semana.

Requiem – Guitarra & Acústico

Como dito na pergunta anterior, vocês acabaram de lançar o primeiro álbum de estúdio intitulado “Posthumous”. Ouvindo o álbum me chamou a atenção a excelente produção desse material assim como a qualidade das composições. O que você poderia falar sobre o processo de criação desse lançamento ?
Requiem: Uma boa parte dessas músicas são rascunhos do eu já vinha compondo desde antes do fim da Dying Embers, e por mais que nesse meio tempo, entre 2007 e 2015, eu efetivamente não estivesse tocando em banda alguma, sempre vinham riffs na cabeça e que acabava escrevendo e arquivando. Com a Lacrima Mortis entrando em atividade, resgatei uma boa parte do que já havia composto e descartando outras, vendo o que funcionava e o que não e pudemos amadurecê-las na sala de ensaio até o momento da gravação. Não posso deixar de mencionar aqui o excelente trabalho do Fernando Nahtaivel na composição das linhas de teclado, que levou a sonoridade a um outro patamar.

Ao olhar as fotos de divulgação da banda pode-se reparar que vocês tomaram a decisão de não mostrar os seus rostos, assim como se utilizar de pseudônimos. Qual foi a razão para essa decisão ? Você acredita que isso pode ajudar na construção de uma teatralidade que se conecta à música, tirando o foco do indivíduo ?
Requiem: Sim, nos primeiros shows nós nos apresentamos sem as vestes e observando alguns videos dessas apresentações, dava a impressão que faltava algo, pois como as músicas são lentas e quase não há headbanging no palco e uma ou outra roda de mosh se abria no plateia.  Então em conversas posteriores com o restante da banda, foi proposto que usássemos alguma vestimenta para tirar um pouco o foco da cara de paisagem em cima do palco, e com a vestimenta aliada ao som carregado, deu uma nova atmosfera para a apresentação e o feedback foi bem positivo em relação a isso.

Reverend Reaper – Baixo

A Talheim Records foi o selo responsável pelo lançamento de “Posthumous”. Como vocês chegaram até eles e como tem sido o trabalho deles na promoção da música do LACRIMA MORTIS ? Haverá uma versão nacional do álbum ou por enquanto ainda não há nada concreto ?
Requiem: Como eu trabalho com arte gráfica, cheguei a fazer algumas artes de camisetas para o Thy Light do amigo Paolo Bruno e com esses trabalhos foram os primeiros contatos com o selo. E volta e meia eu acabava por conversar com Mat (the big boss) sobre coisas diversas e nessa época a Lacrima Mortis nem existia. Mais tarde com a gravação do Ep Optare Mortem, eu criei coragem e falei com ele sobre a possibilidade de um lançamento. Algum tempo se passou, voltamos a nos falar e com isso acabou por rolar um contrato com o selo e a gravação de um futuro full-length. Hoje faz pouco mais de uma semana do lançamento oficial e posso dizer que estamos satisfeitos com as divulgações que estão sendo feito, pois não deixamos tudo no mão do selo, nós mesmos também metemos a mão na massa na divulgação, tem de ser um trabalhos dos dois lados né. Sobre a versão nacional seria uma coisa massa se rolasse, mas os direitos do álbum pertence a Talheim, aí teriam de verificar sobre o licenciamento do álbum para a terra brasilis.

Baud – Guitarra

Musicalmente a banda abraça o doom metal como sonoridade primária, mas podemos também encontrar músicas onde partes mais rápidas aparecem, como na faixa “Distress & Decadence”. Vocês se veem primordialmente como uma banda de doom metal ou o rótulo em si acaba não sendo tão importante dentro do contexto artístico em que vocês estão inseridos ?
Requiem: Sim, somos uma banda Doom e isso sempre irá permanecer, mas como temos diversas influências musicais elas acabam por aparecer aqui e ali. Mas o rótulo serve apenas para te enquadrar em alguma vertente e te mostrar para o cenário e aqueles que se identificam com o estilo darão uma atenção maior e os que não curtem nem perderão tempo. Podemos incorporar elementos de vários estilos em nosso som, mas ele continuará lento e depreciativo.

Scavengers – Bateria

Quando escuto doom metal eu sempre penso o quanto esse estilo consegue, em certos aspectos, ser ainda mais underground do que outros estilos do heavy metal. A proposta do LACRIMA MORTIS foi, desde o início, seguir essa estrada da desesperança e peso descomunal ou houve algum tipo de mudança na sonoridade de você em algum momento ?  Como você descreveria o doom metal como estilo e como proposta artística ?
Requiem: Sim, o Doom sempre foi marginalizado dentro do metal, os chamados Zé Tristinhos. E a proposta da Lacrima Mortis sempre foi seguir nesse caminho, mesmo tendo uma parcela pequena de apreciadores, mas são pessoas fieis ao estilo e isso é de suma importância.  Lembro de um cara que convidamos para fazer testes de vocal pouco antes do Dread entrar e eu expliquei pra ele a proposta da banda, passei algumas referências do que buscávamos e quando ele chegou lá no ensaio, ele achou que estaríamos nos cortando, sangue jogado nas paredes, mas não, somos pessoas normais, apenas gostamos de tocar uma música mais lenta e introspectiva. E a única mudança significativa que fizemos nas músicas foi reduzir um pouco a velocidade delas desde os primeiros ensaios até momentos antes da gravação, mas foi algo natural. Se tu ouvires a Miserere dos primeiros ensaios para o que foi gravado, ela perdeu muitos BPMS (risos).

Nesse momento, em que estamos todos isolados por causa da pandemia, os mais  diversos pensamentos negativos nos cercam. E “Posthumous” acaba sendo um título quase profético em relação a tudo isso que o mundo está vivenciando. O que seria o “póstumo” nessa nossa realidade atual ?
Requiem: Uma coisa que eu havia lido nos primeiros dias da pandemia foi, “se tu não aprenderes nada do que está acontecendo ao seu redor e muito disso não te tocar por dentro é porque tu vai continuar agindo da mesma forma mesquinha como sempre fostes”. E isso diz muito, o mundo não será mais o mesmo depois que isto passar, nós temos de dar valor nas pequenas coisas, nos momentos em família, ir brincar

com seu filho, com seu sobrinho, abraçar seus entes queridos, dizer o quanto são importantes pra ti. Talvez isso tudo tenha acontecido para a humanidade tirar um pouco o pé do acelerador e rever as nossas condutas.

Sei que ainda é cedo para vocês terem uma ideia do futuro, mas o que tem passado pelas suas cabeças em termos de planos a médio e longo prazo para o LACRIMA MORTIS e sua divulgação ? Agradeço por participarem do THE OLD COFFIN SPIRIT portal e reitero que a tampa desse caixão estará sempre aberta a vocês.
Requiem: Depois de ter passado por um período bem difícil em minha vida recentemente, voltei a compor algumas ideias para futuras músicas da Lacrima Mortis. E de momento é divulgar ao máximo esse material e quem sabe começar a esboçar um segundo disco e talvez um EP tributo com alguns covers, mas são apenas ideias. Agradeço a ti pelo espaço cedido e desejo muita sorte nesta nova jornada e vida longa ao The Old Coffin Spirit.

Para maiores informações:

LACRIMA MORTIS online: https://www.facebook.com/LacrimaMortisDoom/

 

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