Os fanzines sempre existiram com o intuito de promover contra-cultura, unir música (no caso dos fanzines dedicados a isso) e arte, música e protesto e principalmente jogar luz ao lado marginal de movimentos como o da música underground. E quando um fanzine que tem essas características começou a ser feito no longínquo 1986 você sabe que está diante de algo diferenciado. O ACCLAMATUR zine foi criado ainda na década de 80 e agora em 2020 da era pandêmica a edição de número 114 veio à tona.
O editor desse fanzine, o artista Guga Burckhardt, é uma figura com um incrível dom e suas artes sempre criam uma atmosfera de provocação e como ele sempre faz toda a parte artística da publicação foi criada por ele e aqui adquire tons de total conexão com pautas sociais, políticas e das minorias. Ao começar a ler o fanzine, à medida que ia chegando às entrevistas fui percebendo que todas as bandas entrevistadas tinha membros mulheres, membros trans ou LGBTI e até mesmo uma guitarrista que havia abraçado o Islamismo.
As entrevistas dessa edição são: GUERRA URBANA, REVISTA INFERIS, COLETIVO HELLFEMME, a arte de EVA, KARINE CAMPANILLE (Mau Sangue, Kultist, Violence Increases Fear), GISELE MARE ROCHA (Mummya)
Não só de música se pauta essa edição do Acclamatur. Excelentes entrevistas com artistas underground. Foi uma grata surpresa me deparar com o tipo de entrevista aqui realizada. Questões e respostas realmente provocativas e pautando temas que são tão caros à nossa sociedade atual. Não se trata de panfletagem ou algo do tipo, mas bate papos bem abertos sobre questões que realmente fazem parte do dia a dia das mulheres e de suas bandas e/ou sua arte aqui discutidas. O zine ainda traz várias resenhas de bandas metal, punk, hc, apresentando inúmeros nomes que não são tão conhecidos do grande público, algo que sempre espero em um fanzine.
Toda a parte artística do zine, diagramação, etc é totalmente old school, com colagens, flyers, montagens, desenhos feitos à mão. Isso realmente traz memórias de outros tempos.
E como não poderia faltar o editor traz uma versão em quadrinhos para uma letra de música, algo que ele tem feito e que é sensacional. São 30 páginas de um material realmente underground, provocativo e surpreendente. Realmente fico muito feliz em ler um fanzine que dá esse espaço às mulheres do nosso underground e nos faz pensar que nós mesmos acabamos não fazendo o mesmo, algo que é realmente necessário ser corrigido se esperamos que o underground se fortaleça e derrube muralhas. Que venham mais e mais edições como essas.
Para adquirir a sua cópia: acclamatur@gmail.com