CD/EP/LP

INSOMNIUM – Argent Moon (2021)

INSOMNIUM (Finlândia)
“Argent Moon” — CD 2021
Century Media Records — Importado
9/10

O INSOMNIUM não apenas construiu uma bela e consistente discografia, mas também uma personalidade musical muito própria e totalmente distinta dos demais representantes do chamado Melodic Death Metal. Personalidade essa marcada por severas revoluções, ousadia e em alguns casos, megalomania. Cada um de seus discos apresenta a banda num estágio diferente, tanto lírico quanto sonoro — amadurecimento que só lhe fez/e faz bem. Há quem diga que a sabedoria chega com a idade, há quem acredite que a prática leva a perfeição… Creio que a sabedoria é o conhecimento aplicado e não apenas acumulado; e a perfeição nada mais é senão uma etapa, e não uma utopia. Sendo assim, “Argent Moon” é mais uma etapa na carreira destes finlandeses. Uma sublime etapa que precede (possivelmente) algo muito maior e ainda mais sublime.

Fundado em 1997 o INSOMNIUM já acumula oito registros lançados, entre eles estão três, que na minha opinião são obrigatórios para se conhecer a banda; o debute “In The Halls Of Awaiting” de 2002, “Since The Day It All Came Down” de 2004 e “Above The Weeping World” de 2006. Os lançamentos que os sucedem são o testemunho da maturação de ideias e pensamentos musicais da banda; polindo e refinando sua sonoridade, pesquisando e redefinindo sua identidade. Discos como: “Across The Dark” (2009), “One For Sorrow” (2011) e “Shadows Of The Dying Sun” (2014) revelam toda essa inquietação e essa eterna busca por simetria e equilíbrio entre peso, melodia e emoção. Aliás, a emoção sempre foi um elemento importantíssimo à alquimia composicional, do agora quinteto. Em 2016 foi lançado o marco/épico/obra-prima “Winter’s Gate” — obra essa, composta por uma única peça que beirava os  40 minutos de duração. Ousadia e inspiração genialidade e habilidade. Folk, Black, Doom, Progressivo e o Melodic Death Metal tão íntimo à banda atrelados numa jornada de belezas antagônicas e íngremes. Em 2019 foi a vez do emociante “Heart Like A Grave” — um dos melhores lançamentos daquele sem qualquer resquício de dúvida.

Argent Moon” não apresenta muitas novidades, na verdade, ele soa, por vezes, como uma continuação dos já citados “Shadows Of The Dying Sun” e “Heart Like A Grave”. Todavia, essa falta de frescor não o torna um trabalho comum ou mesmo, dispensável, longe disso, cada uma de suas quatro faixas são singelas e encantadoras a seu modo. Sempre melodiosas, reflexivas e melancólicas. O peso das guitarras, os teclados bem posicionados, os arranjos sublimes delicadamente executados e os vocais fortes e profundos de Niilo Sevänen se fazem presente aqui. As letras poéticas, tristes e embebidas nos simbolismos que pontuaram sempre  as composições da banda também, ainda mais reflexivas e agudas.

Nenhuma lágrima será derramada por mim. Sem choros para lamentar no meu túmulo. Sem lápide para lembrar meu nome, quando eu deixar este mundo.” (The Antagonist).

Entre a suavidade e o peso crescente se localiza a faixa de abertura “The Conjurer”, que é devida e totalmente trajada de INSOMNIUM. Introdução acústica que se eleva e vai dando lugar aos demais instrumentos. Guitarras sóbrias e requintadas em melodias que só mesmo estes finlandeses sabem como criar. O solo de guitarra é genuinamente magnifico. “The Reticent” apresenta um bonito contraste entre os guturais característicos de Niilo Sevänen e os limpos do guitarrista Jani Liimatainen. “The Antagonist” é, ao menos para mim, o epicentro do ep. Densa e suave — forte, mas, ao mesmo tempo delicada e desesperançosa. A trilha sonora para aquele intervalo entre o fim da tarde e a descida dos véus da noite. A respiração torna-se lenta e pesada, tudo é exaustão e então a música nos abriga — o exílio da própria existência. Finalizando o ep chega  “The Wanderer”; cuja essência é quase que totalmente simplista, embora atmosférica e mais dinâmica em seus instantes finais. Todas as quatro faixas ganharam interpretações visuais (excelentes, diga-se).

“Argent Moon” dá-nos a dose necessária de INSOMNIUM, neste ano de emoções tão discrepantes e áridas. Um pequeno e belo fragmento de um mosaico muito maior que está por certo por vir. Em seu próprio tempo e essência — no vigor e na plena ciência de sua arte.

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