Recentemente fomos atingidos por uma divisão panzer chamada FOSSILIZATION, uma banda que trás em sua formação membros do Jupiterian. Recém assinados pelo selo italiano Everlasting Spew Records, os cara lançaram digitalmente um EP monstruoso. Corremos atrás de uma entrevista para entendermos um pouco desse projeto e sabermos dos planos em execução. Com a palavra… FOSSILIZATION !
Leia também o nosso review para o EP “He Whose Name Was Long Forgotten”: https://theoldcoffinspirit.com/fossilization-he-whose-name-was-long-forgotten-ep-2021/
O FOSSILIZATION surgiu para a maioria das pessoas há poucos dias atrás. Nunca tinha ouvido falar do nome de vocês até ver uma postagem dos amigos da Everlasting Spew Records e em seguida receber o EP de vocês para resenhar. O que os levaram a criar a banda em paralelo ao trabalho que vocês fazem com o JUPITERIAN?
O projeto estava na minha cabeça há bastante tempo, mas quando rolou a Pandemia, eu acabei tendo mais tempo para trabalhar nisso. Como não tinha mais ensaio em sala de estúdio com o Jupiterian, eu comecei a criar e gravar tudo aqui sozinho. Mas certamente não nasceu há poucos dias, tem quase um ano de trabalho intenso nisso. Muita frustração, arquivo deletado com músicas inteiras, muito tempo de dedicação, suor e aprendizado nesse processo.
Eu sei que um dos momentos cruciais para a criação do FOSSILIZATION foi a tour que vocês do JUPITERIAN fizeram na Europa com o Krypts, Father Befouled e o Encoffination. De certa forma o som do FOSSILIZATION traz influências dessas bandas. Qual foi o impacto dessa tour na ideia de criação da banda ?
Definitivamente foi uma experiência absurda e eu diria que foi a motivação extra que eu precisava pra tirar o projeto do papel. Eu te falo que já vi muito show foda, inclusive nessa tour tocamos no Netherlands Deathfest, Graveland Fest na Holanda também com bandas que sou fã desde muito novo, como o Immolation. Teve muita banda foda como o Dead Congregation, Horrendous, Lik … Mas ver o Father Befouled no NDF por exemplo foi um soco na alma e era o que eu precisava pra decidir qual era o rumo que eu queria seguir com o Fossilization.
Ainda sobre essa tour, só posso imaginar o quanto deve ter sido uma experiência avassaladora, já que todas as bandas envolvidas realmente são nomes de respeito na cena death metal. Quais foram as maiores experiências que vocês, como músicos, puderam tirar desse período na estrada ? Algo mudou em termos de visão do todo, de como levar a banda adiante ?
Eu acho que a maior experiência é aprender direto da fonte, como funcionam as bandas que você curte ali de perto. Trocar ideia e experiência de equipamento e o que eles usam para ao vivo e pra gravação. Essa troca entre as bandas é um aprendizado incrível pra todos e certamente foi importante no meu processo de criação do Fossilization e é uma coisa que vou levar daqui pra frente.
Musicalmente o FOSSILIZATION traz um death metal profundamente obscuro, pesado e em vários momentos, brutal. Mas ainda assim há uma conexão entre vocês e a música do JUPITERIAN. Obviamente há essa conexão pela presença de músicos de uma banda na outra, mas vocês conseguem diferenciar de forma clara as maiores diferenças entre o som das duas bandas ? Quais seriam as maiores influências para o som de vocês ?
Acho que a maior diferença é a intenção de cada banda. O Fossilization tem as partes doom, mas elas fazem parte de um todo que contrastam com a brutalidade dos blasts, enquanto no Jupiterian ser lento e repetitivo é a intenção. Acho que de influência tem muita coisa mas acho que Incantation é a base, mas também tem muito Nile por usar muita atmosfera com instrumentos não tão tradicionais pro estilo e acho que isso foi diretamente usado em ‘A Deplorable Epoch’, mas claro que Dead Congregation, Krypts e não tem como não mencionar o Father Befouled.
“He Whose Name Was Long Forgotten” é um EP realmente poderoso. Você poderia nos falar um pouco como foi todo o processo de criação e gravação desse material ? A produção está massiva e isso é algo que sempre sinto falta nas produções nacionais em geral.
Valeu! Sobre esse processo foi muito único para mim porque foi tudo criado e gravado de uma forma muito introspectiva como nunca tinha feito antes. O fato de eu ter feito todas as guitarras, baixo, sozinho aqui em casa me deu de certa forma muita liberdade criativa e ao mesmo tempo era uma pressão que estava sentido porque tudo ali dependia de mim. Eu entreguei as 5 músicas estruturadas pro Paulo, debatemos como seriam as linhas de bateria e entramos no estúdio pra fazer a parte dele e depois fazer o vocal, concluir tudo de gravação e finalmente mandar pra mix e master.
Sobre o título do EP, quem seria esse “he” ? Você pode discorrer sobre exatamente o que esse título aborda ?
‘He Whose Name Was Long Forgotten’ é sobre como todos somos esquecíveis e irrelevantes, é só uma questão de tempo até que você morra e tudo que você foi, tudo o que fez, todo o esforço, as memórias, toda a energia e o que você fez por alguém, mudou a vida de alguém, inspirou alguém, motivou, decepcionou. Quem você amou e as pessoas que te amaram. Tudo é gradualmente apagado com o tempo e finalmente, esquecido.
Juntamente com a divulgação do EP veio o anúncio do lançamento do mesmo pelo selo italiano Everlasting Spew Records. Como se deu esse contato e contrato ? Quando o material estará disponível e há planos de um lançamento nacional ? Ou estará disponível apenas como importado?
O que aconteceu na verdade foi que em um dado momento fiz uma menção ao Fossilization uma vez no facebook sobre essa produção e o James da Transylvanian Recs., selo que lançou o EP em tape agora, ficou interessado e disse que quando tivesse material ele queria ouvir. Assim que recebi a master, eu mandei para ele antes de divulgar e ele na hora quis lançar. O pessoal da Everlasting Spew ouviu logo em seguida e me chamou para lançar em CD e vinil. Vai ter o lançamento nacional, mas vai ser mais para frente.
Eu posso imaginar a frustração de ter um material desse porte em mãos e não poder divulgá-lo ao vivo devido às restrições causadas pela pandemia. Havia algum plano em execução para eventos no Brasil ou fora, tanto para o Fossilization quanto para Jupiterian ? Vocês acreditam que será possível retornarmos à mesma estrutura de antes ou realmente a cena mundial irá passar por mudanças profundas devido a todo esse período com tours canceladas, festivais idem, locais fechando…
Por um lado eu não tinha nenhuma expectativa sobre tocar ao vivo com o Fossilization porque a banda nasceu durante a pandemia quando essa ausência de shows já era uma realidade. Depois que veio a divulgação do EP há algumas semanas, começamos a montar a banda para tocar ao vivo quando chegasse a hora. Agora estamos na fase de ensinar as músicas para os caras e começar a fazer ensaios esporádicos durante o ano esperando pra quando a oportunidade de tocar ao vivo chegar. O Jupiterian tinha uma tour marcada na Inglaterra e um grande festival na Irlanda e México em 2020. Sobre essa mudança ela já rolou. Não é só que os shows foram cancelados e remarcados, mas a galera que tinha casa de show, quebrou, o cara que trampava com som nessas casas, teve que arrumar outro trampo para sobreviver, bandas que viviam financeiramente de shows, e tô falando de bandas grandes, tiveram que acabar pra todo mundo se ajustar e arrumar um sustento. Tudo mudou e acho que eventualmente as coisas vão se ajeitar com o tempo, mas tudo que gira em torno de música, casa de show e etc vai ter que se reconstruir do zero.
“He whose name was long forgotten” acabou de ser lançado digitalmente e terá seu lançamento físico em breve, mas já existem outras músicas prontas para a gravação de um vindouro debut álbum ? Se sim, estão seguindo essa mesma linha musical do ep ?
Já temos uma música nova estruturada. A ideia é compor 7 músicas e regravar uma ou duas do EP. Certamente vai seguir a mesma linha do EP, acho que é uma forma que achamos de fazer nossa música e pretendo seguir assim.
O death metal, a meu ver, é um dos estilos que mais solidamente cresceu nos últimos anos. E digo isso em termos de bandas surgindo, grandes álbuns sendo lançados, uma cena underground muito sólida se estabelecendo em todos os continentes e é muito gratificante ver nomes brasileiros se destacando nesse processo ao lado das já bandas veteranas. A que se deveria esse fortalecimento tão pungente do metal da morte ? Que bandas brasileiras vocês estão ouvindo dentro desse estilo que se destacariam ao seus olhos ?
Cara, eu acho que nenhum estilo dentro da música extrema é tão sólido quanto o death metal. Eu acho que parte desse fortalecimento de uma cena underground com o estilo veio junto com o crescimento e profissionalização de grandes festivais europeus e americanos focados no gênero, como os Deathfests (Netherlands, Maryland) que expandiu e tem agora na Suécia. O Killtown Deathfest na Dinamarca, NRW Deathfest na Alemanha e por aí vai. É uma celebração mundial do estilo e aparentemente tem espaço pra todo mundo. Você vê reunido desde uma banda clássica como o Demilich até uma banda mais nova com uma demo mas que fez algum barulho na cena. Cara, bandas que sempre to ouvindo é o Facada e claro, o Krisiun
Agradeço imensamente pela conversa e espero ansioso pela chance de adquirir o material em formato físico. Vocês gostariam de acrescentar algo ?
Só agradecer pelo tempo e interesse, Fábio. Vida longa ao The Old Coffin Spirit.