Entrevistas

INDUSTRIAL NOISE – O velho grindnoise sem meias palavras

Talvez para uma nova geração de bangers termos como grindnoise, deathcore (no velho sentido da palavra) e até mesmo grindcore sejam palavras totalmente alienígenas, mas para aqueles que acompanham o underground de forma mais próxima são apenas manifestações verdadeiras de uma resistência musical duradoura e contundente. E o INDUSTRIAL NOISE, banda veterana do cenário metálico do interior paulista voltou à ativa tempos atrás para resgatar esse velho espírito e agora, prestes a lançar o seu álbum pela Cianeto Discos, conversamos um pouco sobre esse lançamento e outros assuntos. Com a palavra, o baterista Mauro Trojillo.

Grande Trojillo, seja mais uma vez bem vindo ao THE OLD COFFIN SPIRIT. Dessa vez conversamos para o nosso portal sobre o fudido e caótico INDUSTRIAL NOISE. Bom cara, a banda foi formada em 1994 e depois disso parou em 1996 e voltou novamente em 1998 e agora em 2017. O que fez a banda ficar tão inconstante durante sua existência ?

Mauro Trojillo: Salve grande e velho amigo Fabio Brayner!!! É um prazer novamente!!! Cara, quando criei o I.N. na realidade no final de 93.. era apenas um projeto totalmente noisecore com a utilização de tudo quanto era artefato que pudesse causar algum barulho! Não possuíamos instrumentos nessa época, depois conseguimos alguns instrumentos emprestados e gravados 2 reh-tapes, e a formação variava nessa época até que paramos em 96. Depois voltamos em 98 como um banda mesmo com o intuito de fazer shows e etc.. ficamos tocando e lançando materiais sem parar até 2008 que quando o pai do Rodrigo faleceu e 4 meses depois a mãe do Juliano faleceu também,  foi quando demos uma parada, todos nesse tempo fomos meio que cuidar de nossas vidas pessoais, trabalho, todos tivemos filhos,.. e eu nessa época montei o CAUTERIZATION também..

Tentamos um retorno em 2014 eu acho.. mas devido as incompatibilidade de horários paramos novamente, e depois voltamos em 2017 e não paramos mais!

Obviamente é impossível não fazer essa pergunta, mas o que os trouxe de volta à cena extrema ?

Mauro Trojillo: Na realidade, eu nunca parei de tocar, como disse acima, com a pausa do I.N. eu tinha acabado de montar o CAUTERIZATION e fiquei totalmente focado até 2017, então meio que eu continuei na “estrada”, mas nesse tempo que ficamos parados com o I.N. sempre nos falávamos, tanto é que eu e o Juliano somos primos, e sempre conversávamos a respeito de voltar e etc..

Esse retorno mais recente da banda tem sido bem frutífero em termos de trabalho. A nova formação pode ser considerada a mais forte e focada ? Quem faz parte do INDUSTRIAL NOISE atualmente ?

Mauro Trojillo: Creio que sim, agora estamos  bem mais velhos e experientes em todos os sentidos, experiências com estúdios, shows, lançamentos e até nossos próprios instrumentos! A formação hoje é TROJILLO(bateria), JULIANO(guitarra), RODRIGO (vocal) e PEDRO(baixo/ que é filho do Juliano!)

O último material totalmente do INDUSTRIAL NOISE foi o EP “Pacíficos/Hostilizados” de 2004. Fora isso aconteceram diversas participações em splits.  É possível traçar um paralelo entre a banda daquele momento, do início e atualmente ? Musicalmente falando o som de vocês sofreu muitas mudanças ?

Mauro Trojillo: Cara acho que no começo nosso som era bem mais primitivo, sons bem mais curtos diretos e retos, e conforme o passar dos anos foi mudando um pouco devido até a troca de formação, mas creio que depois que o Juliano entrou em 2000 estamos seguindo meio que o mesmo padrão de composições. Naquela época era muito difícil para gravar, passamos por diversos studios, a grande maioria nunca entendia o que queríamos fazer hahahaha, hoje tudo é bem mais fácil e acessível!

A sonoridade do EP de 2004 era totalmente grind. Podre, violento e com vocais guturais e rasgados criando a base de sustentação de uma desgraceira musical. O novo material mantém essa pegada ?  Como você descreveria o INDUSTRIAL NOISE para alguém que nunca houvesse ouvido a banda ? Mandaria comprar protetores de ouvido ?

Mauro Trojillo: Cara, o novo cd creio que está um pouco mais variado e talvez até mais “trabalhado” hahaha que os anteriores, mas mesmo assim seguindo a tradicional bagaceira sonora do grindnoisecore violento e barulhento, eu diria pra quem nunca escutou o I.N. que seria uma mistura de “From enslavement to Obliteration” com Warsore e uma pitada de Dead Infection e alertaria:  “isso não é para ouvidos sensiveis” hahaha (acho que os protetores não resolveriam muito) haha

“Paradoxo” marca finalmente a carreira da banda como o seu primeiro álbum oficial. Você poderia falar um pouco como se deu a criação e decisão de finalmente vomitar a debut álbum ?

Mauro Trojillo: Na realidade em 2004 nós gravamos um full Cd que era pra ter saído por um selo de Singapura chamado ELECTROHELL RECS, mandamos os áudios, capa, layout completo, e esse cd nunca saiu… então desde essa época que estamos tentando soltar um full Cd, quando voltamos a ensaiar em 2017 esse era o foco principal ensaiar pra gravar o cd!! Pegamos algumas musicas que estávamos tocando antes de parar, criamos outras, adicionamos 2 covers(DRILLER KILLER e WARSORE) e o resultado estará na mão daqui uns dias!

Desenho feito em 2002 que serviu de inspiração para a arte do álbum

Eu pude ouvir duas músicas do álbum nos vídeos publicados no youtube e dá para perceber uma maior influência de punk/hc nas linhas de guitarra, quase soando como um Ratos de Porão anabolizado com grindcore. As influências se mantiveram as mesmas ? O que o INDUSTRIAL NOISE de 2020 está trazendo na sua bagagem musical ?

Mauro Trojillo: Cara, nossas influências creio que são as mesmas(WARSORE, TUMOR, NAPALM DEATH(old), CARCASS GRINDER, YACOPSAE, INSECT WARFARE, DEAD INFECTION, REGURGITATE, NOISE, INDUSTRIAL HOLOCAUST, …) mas todos tem seus gostos particulares, eu acho que o som do I.N. é a fusão dessa mescla de estilos que ouvimos, eu escuto muito DEATH, BLACK, GRIND.. e muito dos primordios de SODOM, KREATOR, SLAYER, SARCOFAGO, MUTILATOR, HOLOCAUSTO,.. etc.. o Rodrigo acho que é o que mais escuta GRIND, GOREGRIND, SPLATTERDEATH,.. o Juliano é o mais eclético acho que escuta desde RAMONES a 7MON passando por WOLFBRIGADE… ele acho que é de onde vem mais essa veia punk/HC/crust…. e o PEDRO ERNESTO é o novo integrante que ele na realidade é o musico da banda, ele toca piano clássico já a mais de 5 anos, toca guitarra, toca baixo, toca bateria,..estuda realmente e se dedica a musica e quer fazer faculdade de musica.(ele está na banda errada hahahahah)

Mauro, você toca em várias bandas atualmente. Há o Cauterization (em hiato por tempo indeterminado), o Wolflust (que acabou de lançar seu EP de estréia) e o INDUSTRIAL NOISE. Musicalmente, além do som extremo, o que conecta essas bandas em termos de propostas ?

Mauro Trojillo: Cara, o INDUSTRIAL NOISE,  é um “filho” que carrego que quase 27 anos, tenho um carinho diferente, nele nós realmente tocamos sem pretensão, tocamos com o coração mesmo, com alma! A proposta do I.N. é essa fazer o nosso barulho, expor nossos sentimentos da forma mais agressiva possível!

O CAUTERIZATION foi uma proposta de fazer um DEATHBLACK metal mais complexo e brutal, foi uma banda que ficamos quase 10 anos tocando sem parar, lançamos 3 materiais, alcançamos lugares que  nunca esperávamos, tocamos com bandas que nunca em nossa mente iríamos tocar junto, foi uma ótima experiência, mas hoje se encontra morto e enterrado.

O WOLFLUST é aquela idéia que vc tem guardada faz tempo, sabe? Tentamos resgatar ao nosso modo aquele som, aquele radicalismo, aquela aura do final dos anos 80/ inicio dos 90, é raiva e ódio contra esse pseudo-underground que existe hoje aí, os net-bangers, as fofocas e o patético circo que se tornou o grande cenário metálico atualmente, WOLFLUST é guerra, caos e blasfêmia!

“Grindcorenoise” sempre foi um estilo que caminhou na contra-mão de tudo que é chamado como mainstream. Mesmo no auge do radicalismo da cena não era um estilo compreendido por todos (mesmo dentro da cena extrema). Você acha que essa postura por parte da cena continua ou o estilo é mais difundido hoje em dia?

Mauro Trojillo: o GRINDNOISECORE sempre foi algo contra tudo o que era “comercial”, especialmente o NOISECORE, creio esse que é o único estilo (anti)musical que se mantém totalmente fiel a sua proposta inicial, e as bandas que ainda existem mantem essa chama viva, o GRINDCORE infelizmente hoje está infestado de bandinhas “alegres” com temáticas realmente patéticas, engraçadinhas e sem sentido algum, pouquíssimas bandas mantém a postura/som como o velho, podre e sujo GRINDCORE como se fazia nos primórdios.

Logicamente sendo uma banda de grindcore as letras se diferenciam totalmente de qualquer outro projeto seu. O que serviu de inspiração liricamente falando para a criação de “Paradoxo”

Mauro Trojillo: Todas as letras foram feitas pelo Rodrigo, são reflexões, pensamentos, criticas, todas mescladas com suas vivencias pessoais e fatos do nosso cotidiano, sempre com uma visão mais pessimista e apocalíptica.

Falando no título do álbum, porque “Paradoxo” e como esse se liga com a incrível arte da capa que foi divulgada recentemente ? Aliás, que capa fudida. Quem é o artista que assinou essa arte ?

Mauro Trojillo: Essa capa foi feita a partir de um desenho que eu fiz acho que em 2002 para um 7´ep do INDUSTRIAL NOISE que acabou saindo com outra capa, eu mandei esse desenho pro Marcos Miller(já tinha trabalhado com ele no CAUTERIZATION e no WOLFLUST), e ele desenvolveu a arte a partir desse desenho e das idéias contidas nele, na própria capa você pode perceber o porque do titulo “Paradoxo”, o poder do estado, o poder financeiro, o poder religioso, todos com suas regras, normas, leis, padrões, que são ditos e não são seguidos por quem os prega, esmagando o ser humano, transformando-o em uma monte de merda literalmente, pode-se notar as engrenagens dos sistema que nos esmaga, e muitas outras imagens que podem ser analisadas e refletidas. A capa realmente ficou além do que esperávamos, Marcos Miller é realmente um artista espetacular!

“Paradoxo” vai sair pela Cianeto Discos. Quando estará disponível para compra ? Só posso imaginar a ansiedade de todos vocês para receber o álbum pronto em mãos. O que vocês estão sentindo esperando essa criação depois de 25 anos de criação do INDUSTRIAL NOISE ?

Mauro Trojillo: Conforme as informações do Gil da CIANETO, o prazo de entrega seria até o final de dezembro de 2020, estamos extremamente ansiosos porque estamos exatamente 3 anos ensaiando pra esse lançamento, e toda a vida pelo full rsrs.

Obviamente a banda está impossibilitada de tocar e divulgar o álbum por causa de todas as restrições causadas pela pandemia de covid-19. Como você tem encarado tudo isso ? Na sua opinião as coisas poderão voltar ao que eram antes ou teremos uma mudança realmente substancial na forma que o underground funciona ?

Mauro Trojillo: Cara, realmente essa pandemia fudeu tudo e a todos! Felizmente conseguimos ensaiar e gravar o álbum durante esse período, usamos mascaras e tomamos todos os cuidados possíveis, eu creio que tão cedo não vamos ter um panorama como tínhamos antes, existem alguns eventos acontecendo.. mas realmente é estranho ir em um show onde se tem de ficar de mascara e sentado(a parte do sentado me agrada visto que já estamos velhos rsrs), mas se essa é a nova condição, o jeito é aceitar e seguir a vida adiante conforme as normas vigentes, mas esperamos que tudo volte pelo menos parecido como se era antigamente.

Meu amigo, mais uma vez obrigado pelo tempo dedicado a responder essa entrevista. Espero que o álbum realmente seja bem recebido na cena extrema. Algo mais a acrescentar ?

Mauro Trojillo: Fabião!!!Eu que agradeço ao apoio que sempre tive com todos meus projetos! Daqui alguns dias o álbum estará a venda, quem quiser escutar o podre, sujo, barulhento Grindcore como se fazia antigamente, sem firulas, é só entrar em contato! E busquem pelos materiais das bandas, CDs, tapes, Lps, 7´Eps,… o mp3 está aí e as plataformas digitais também, mas nada substitui o material físico, assim você estará apoiando não só as bandas, mas os estúdios, os artistas que fazem as capas e layouts, fotógrafos, selos, distros, zines, promotores de show, e toda a engrenagem que faz a coisa girar, é legal ver o show no youtube? Sim, mas muito melhor ver a banda ao vivo, tomar uma breja, ver os amigos, comprar uma camiseta, um cd ou um zine e voltar pra casa suado, cansado e meio chapado, sou um velho sonhador nostálgico? Quem sabe… valeu!

INDUSTRIAL NOISE online: https://www.facebook.com/INDUSTRIALNOISEOLDSCHOOLGRINDNOISECORE

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