Entrevistas

WARFORGED – “Uma manifestação… um espírito de guerra em forma de arte…”

Conversamos com o músico Daeroth Inglorion, membro do projeto extremo WARFORGED. Uma conversa que passou por assuntos dos mais diversos e de uma forma totalmente descontraída, mostrando o conteúdo que o mesmo tem a compartilhar com todos. Com a palavra, Daeroth Inglorion:

Saudações Daeroth Inglorion! Desde já agradecemos a sua disponibilidade por participar e trocar esse bate-papo conosco do The Old Coffin Spirit Zine/Portal. Para iniciarmos, como você descobriu o Rock/ Metal e como isso mudou a sua vida ?

Daeroth Inglorion: Saudações Walter e a todos os leitores do The Old Coffin Spirit! Para nós é uma honra compartilharmos um pouco da nossa jornada, muito obrigado pelo convite. A música sempre foi muito presente em meu ambiente familiar, desde muito cedo tive vivências fantásticas vendo meus familiares tocando violões e violas caipiras, compondo suas próprias músicas, realizando apresentações, etc. Isso fortalecia muito o interesse pela música para mim e meus amigos próximos, e como cresci nos anos 90, bandas como Metallica, Iron Maiden, Guns n’ Roses, AC/DC a todo momento tocavam em rádios e alguns programas na TV, e toda aquela energia nos fascinava muito. Mas a virada de chave sem dúvida foi com o Iron Maiden, pois comecei a procurar as traduções das músicas, e descobri que existia um universo repleto de histórias e reflexões fantásticas nas letras. Esse sem dúvida foi o ponto principal para eu também querer compor minhas próprias músicas e desenvolver minhas habilidades nos instrumentos musicais. Depois disso, ao longo de toda minha juventude fui descobrindo um novo mundo nas discografias das mais diversas bandas e diferentes estilos, desde power metal até o death/black metal. Somado a isso, as temáticas sempre me guiavam para o estudo da filosofia, da história e posteriormente, do oculto, algo que sem dúvida expandiu muito a minha visão pelo caminho.

Realmente nos anos 80 e 90, era só nos ligarmos o rádio ou assistir programas de auditório na televisão e o Rock e o Metal estava rolando. No Brasil o Rock brasileiro tocava direto. O metal através das baladinhas de Skid Row, Guns n’ Roses, entre outros. Bons tempos! E o início da descoberta do Rock/ Metal, de onde surgiu a vontade de montar uma banda e vivenciar o Underground ?

Daeroth Inglorion: Em meu círculo de amigos na cidade onde cresci no interior do Paraná, já existiam várias bandas que viviam o underground, sendo assim, era comum viajarmos para cidades ao redor para curtirmos os eventos, etc. Inclusive foi nesse período que comecei a ouvir e compreender melhor o Black Metal, visto que as primeiras vezes que me apresentaram eu achei horrível (hoje entendo que eram os álbuns errados, pois considero-os ruins até hoje… hahaha), mas essa visão mudou quando ouvi o Anthems to the Welkin at Dusk do Emperor, que um grande amigo me emprestou e disse que seria algo totalmente diferente do que eu tinha ouvido até então. E de fato, é um dos álbuns mais impressionantes que ouvi na minha vida. A partir daquele momento, começamos a montar algumas bandas autorais, fizemos algumas apresentações, e eu passei a integrar o Perpetual Disgrace de Londrina e um Sarcófago Tributo chamado “Satanic Lust”. Com essas bandas fizemos diversos shows ao longo dos anos, conheci muita gente legal no caminho, e senti a necessidade de montar um projeto one man band, visto que eu tinha várias composições que não se encaixavam nas bandas que eu integrava na época. Então nasceu o Warforged.

Realmente nos anos 90 tinha muito disso de descobrirmos as bandas da cidade e da região. Muitas delas eram apresentadas por amigos,que  faziam parte delas. Perpetual Disgrace  eu lembro de uma demo tape “Triumph of Satan’s Steel”, resenhada na seção demos da Roadie Crew, se não me engano. Infelizmente, nunca consegui material deles. Além do Perpetual Disgrace antes de você  montar a sua própria banda, você tocou em outras bandas?

Daeroth Inglorion: Além de bandas menores “de garagem” com amigos, onde o objetivo era mais nos divertirmos, tive uma banda de Black Metal chamada Vlad Dracullare com dois grandes amigos e músicos fantásticos Renato e Diogo que hoje tocam com o Christophobia e o Escasso. Tivemos a banda por alguns anos, gravamos uma demo chamada “The Divine Mistake of Creation” e realizamos algumas apresentações que foram memoráveis, mas cessamos as atividades em 2007 Como eu faço parte de uma geração mais recente, muita coisa que o pessoal vivenciou eu não tive acesso, minhas memórias são de períodos de no máximo 20 anos atrás. O underground no norte paranaense nesse período era repleto de shows fantásticos, tanto em Londrina quanto em Maringá. E ao mesmo tempo, repleto de um monte de brigas e discussões entre diferentes grupos da região. Isso acabava sendo um grande motivo para viajarmos para outras regiões para conhecer galeras novas, bandas novas e deixar de lado as intrigas regionais que sempre se faziam nos eventos daqui de alguma forma.

A cena no interior paranaense era muito forte. Eu sou de Foz do Iguaçu e vivi os anos 90, frequentando shows locais e a cena de Cascavel, que sempre foi forte desde aquela época. E por morar na tríplice fronteira ainda tínhamos contato com as cenas do Paraguai e Argentina. O que você lembra daqueles gloriosos dias e como era a cena no Norte do Paraná?

Daeroth Inglorion: Anos após o Warforged já ter lançado o primeiro álbum, passei a integrar o Hurtgen de Death Metal em Maringá em 2010 ao lado do Amaethon e dois antigos membros. O Hurtgen então passou a ser nossa principal banda em atividade realizando diversos shows importantíssimos até que em 2014 tivemos uma mudança grande na formação, e o Hurtgen e o Warforged passaram a ser compostos pelos mesmos membros.

Infelizmente essas brigas e discussões sempre existiram dentro da cena, acredito eu no Brasil todo. Mas lá no início dos anos 90 quando eu comecei a frequentar e entender o que era a cultura Underground (1993) e talvez pela ingenuidade eu não via essas brigas, saca. Me lembro dos velhos colocando a gente contra-a parede para provar que merecíamos fazer parte daquela cena e que não éramos posers. Hoje acho ridículo! Mas era outra época, outra história e o código fazia parte. Enfim, como citado, a cena do interior paranaense era forte e tínhamos representantes em todos os lugares. Em Londrina e também em Maringá, e em toda a região, tínhamos ótimas bandas. Em Maringá existia e ainda existe o Tribus Bar, né? Que bandas aí de sua região tens o apoio de você e que nossos leitores merecem escutar/descobrir?

Daeroth Inglorion: Com certeza! O Tribos continua firme e forte até hoje, sem dúvida é o principal bar da nossa região. E sobre as bandas, hoje felizmente existem várias bandas excelentes em atividade como o Terrorsphere, Hereticae, Payout, Hellway Patrol, Dismal Foresight, Putrefação Cadavérica, Enslaver, Christophobia, Escasso entre outras… É até difícil lembrar de todos os nomes.

Em 2007, desperta do seu sono a horda Warforged. Por que você optou por tocar black metal?  Por qual razão, seguiu o caminho solitário e optando por uma “one man band”?

Daeroth Inglorion: A ideia do Warforged nasceu como uma entidade onde eu pudesse dedicar meus estudos em forma de arte na música. Eu sempre fui fascinado pela aura gélida do Black Metal dos anos 90’s e queria criar algo exatamente com aquela atmosfera. E sobre a decisão de ser um projeto One Man Band, entendo que quando você tem uma banda com outros integrantes, é uma soma das influências de cada um que traz novas características para os sons. E eu não queria fazer nada novo para chamar a atenção, minha ideia era ter algo pessoal e introspectivo, totalmente sincero e autêntico dentro do que eu apreciava. Por isso nunca me importei com apresentações ao vivo, lançamentos frequentes nem nada disso, mesmo hoje, considero o Warforged um projeto, e não uma banda.

Na época a internet estava engatinhando por aqui. Redes sociais não existiam e ainda era difícil de divulgar as bandas e lançamentos. As divulgações eram por cartas/flyers, e por e-mail. Internet era uma realidade para poucos, ainda. Como os metalheads e mídia especializada receberam esse trabalho?

Daeroth Inglorion: Sem sombra de dúvida o principal canal de contato da época foi o Myspace, visto que foi uma das primeiras experiências de proximidades reais que tivemos com diversas bandas que apreciávamos mundialmente. O youtube estava bem no início, mas já era possível conhecer muita coisa por lá, e outro canal que fortalecia muito os contatos com diversos apreciadores, eram as comunidades fechadas no Orkut como a Pure Fucking Black Metal e a Brazilian Underground, onde diariamente apresentávamos e descobríamos diversos sons por lá.

Ótimas memórias! Nossa tinha esquecido do MySpace e o Orkut. Era as redes sociais da época. Daeroth Inglorion em 2010, você lança o full álbum do Warforged “The Black Age of Light’s Fall”, o que você pode nos dizer sobre tudo o que envolve esse trabalho? Você ficou feliz com a produção, arte da capa, divulgação e aceitação desse trabalho no submundo?

Daeroth Inglorion: É um trabalho muito especial, pois passei pouco mais de 2 anos compondo e gravando de forma independente, ainda sem muito conhecimento sobre produção musical e recursos limitados, mas o resultado ficou fantástico, consegui deixar exatamente com a aura que eu desejava. O álbum felizmente teve uma aceitação muito boa por parte do underground principalmente fora do Brasil, visto que na época várias bandas como o Patria, Thy Light, Vulturine, Spell Forest estavam com ótimos lançamentos e no radar de gravadoras e zines de vários países, isso também acabou contribuindo para que conhecessem o Warforged e surgissem os primeiros convites para lançamentos. Com o passar dos anos, o álbum continuou sendo muito bem aceito e lembrado dentro do Underground, e isso trouxe então a oportunidade de fazer uma apresentação especial no Profana Aliança em 2013, onde contei com o suporte do Demogorgon na Bateria e dos membros do Hurtgen para o show.

Nossa que cenário foda dentro da suprema arte negra brasileira, né?  Você citou bandas que na minha opinião são as melhores hordas do Brasil, e que estavam lançando material na época, e estão até hoje na ativa, e continuam lançando trabalhos que orgulham a cena do metal negro.  Então, em 2013, a Warforged resolveu sair do estúdio e mostrar o seu espírito, e seu poder negro ao vivo. Como surgiu esse convite para participar do “Aliança Profana” e como foi a apresentação de vocês no evento? Foi como esperavam?

Daeroth Inglorion: Com certeza foi um dos momentos mais especiais e marcantes da nossa história, pois eu nunca imaginei que seria possível, e foi uma soma de acontecimentos que contribuíram para que a apresentação acontecesse. Nossa banda de Death Metal, o Hurtgen, vinha em um momento muito forte no underground, realizando uma série de shows e se aproximando de um pessoal muito sério e competente nas organizações. E foi isso que possibilitou o Warforged subir no palco, pois estávamos em uma confraternização na casa de uma banda parceira na época, onde o Flávio Necrovisceral comentou que estava finalizando os detalhes para o próximo Profana Aliança Nacional, e o pessoal que estava na confraternização de imediato comentou para colocar o Warforged em uma apresentação especial. Naquele mesmo momento eu estava conversando com o Demogorgon (Que conheci pessoalmente neste dia) e o Arnahell, outro grande amigo, e como eu já conhecia o trabalho da banda anterior do Demogorgon, o Hargonath, fiz o convite se ele toparia participar do show como baterista e os demais membros do Hurtgen seriam a banda de suporte. Enfim, a oportunidade certa no momento certo. Sempre fui muito grato a todos os amigos e antigos colegas que contribuíram para esse momento, aos meus parceiros que subiram ao palco conosco, e ao Necrovisceral por uma das organizações mais profissionais e competentes que tive o privilégio de presenciar.

Warforged ficou 4 anos adormecido nos cemitério, frios e escuros. Só em 2014, lançou um novo trabalho que foi o ep “Heretic Path”. Esse foi o primeiro trabalho que você lançou sendo um “duo”. Como surgiu o convite para o seu novo parceiro de projeto Demogorgon e o que mudou no processo das  composições?

Daeroth Inglorion: Além de ser um baterista excepcional com uma técnica fantástica, o Demogorgon compartilha da mesma visão e influências que o Warforged tem, então o convite foi um reflexo da excelente performance que obtivemos ao longo dos ensaios para o Profana Aliança. O Heretic Path foi justamente um teste para entendermos como seria a dinâmica de novas composições, e o resultado foi muito melhor do que esperávamos. Entendemos que unindo forças, conseguiríamos elevar ainda mais o nível das composições, mantendo exatamente a essência do Warforged.

Então, a parceria funcionou bem. Mas como surgiram as composições da horda? Você e Demogorgon dividem as composições e como é o processo de criação das músicas entre vocês dois?

Daeroth Inglorion: Eu continuo compondo e escrevendo a ideia principal das músicas, e passo para o Demogorgon compor a bateria. Depois disso passamos lapidando e melhorando cada uma das partes de acordo com a atmosfera que desejamos alcançar com aquele som. É um processo com muita fluidez e também muito prazeroso de trabalhar, visto que cada música se torna única e repleta de muito significado para nós.

Se não me falha a memória nós, nos esbarramos no saudoso “templo do metal catarinense” na cidade de Guaramirim, na última edição eu acho do festival “Nos Bosques de Satã”, (2015) que rolou no Curupira Rock. Me lembro que você me disse: W altinho, vou no carro buscar o último lançamento da Warforged e se eu me esquecer, me procure para pegar à sua cópia. Mas estamos em um fest e encontra amigos (as) e muitas cervejas, acabamos esquecendo.(haha) Na época era o split que vocês lançaram com os gregos da horda “Dødsferd”. Esse split chamado “Anthems of Desecration and Demise”. Como rolou essa parceria? Mas, na verdade, não são músicas inéditas né? Praticamente é o ep “Heretic Path”.

Daeroth Inglorion: Aquele evento foi uma experiência única, lembro que tive a oportunidade de ver bandas fantásticas, com destaque para uma banda que conheci no dia, Sangue Antigo, que fez uma das apresentações mais sinceras dentro da essência do Black Metal que cresci ouvindo. Sobre o Split com o Dodsferd, o Wrath é um contato de longa data que conheci em uma oportunidade de lançarmos o Dodsferd aqui no Brasil através da minha antiga gravadora, a Wolves Curse Records. Depois que o lançamento foi concretizado, surgiu a ideia de lançarmos um split com ambas as bandas para divulgarmos o Dodsferd aqui nas Américas, o Warforged ser divulgado na Grécia e países vizinhos, e como nós havíamos recém lançado o Heretic Path, optamos por incluir os sons do EP no Split.

Ah, sim. Banda do meu amigo Anderson. Sangue Antigo, é muito bom! Tenho aqui as duas demos – Cd lançado por ele. Então, Daeroth Inglorion como anda à sua gravadora? Está na ativa ainda com ela? Se sim! Você não pensa em lançar os materiais antigos do Warforged como os já citados; The Legacy of Antichrist, Heretic Path, The Battle of Belial Against Gabriel, em CD físico ou alguma edições especiais desse materiais por sua gravadora?

Daeroth Inglorion: Atualmente a Wolves Curse cuida apenas dos lançamentos das nossas próprias bandas, e com certeza temos planos de lançamento de edições especiais de todos os álbuns do Warforged para o futuro. Gosto muito de formatos diferentes com encartes ricos em informações, fitas K7, etc. Então faço questão sempre de realizar versões que de certa forma remetem aos tempos antigos invocando boas memórias que tínhamos ao apreciar os materiais. É um sentimento único!

Em 2019, vocês lançaram um EP que na minha humilde opinião tem uma das melhores músicas da história da Warforged. Esse ep saiu em mídia física ou só saiu nas plataformas de streaming. O que você pode nos dizer desse grandioso lançamento “The Battle of Belial Against Gabriel” ?

Daeroth Inglorion: Esse EP é muito especial, a música “The Battle of Belial Against Gabriel Pt.2” sem dúvida é a melhor música que já compomos até hoje. É uma obra conceitual inspirada nos dois primeiros cantos do Paraíso Perdido de Milton, e toda a parte instrumental dela foi literalmente “se construindo” ao longo de mais de 11 anos. A princípio foi lançado apenas por streaming, e posteriormente uma versão em Fita K7 ultra limitadíssima na França por alguns amigos colecionadores. Temos um plano futuro de lançá-lo como um Duo EP Heretic Path + The Battle of Belial Against Gabriel no mesmo material com um encarte bem legal, mas primeiro, vamos nos concentrar no lançamento do Quintessence, visto que nele regravamos a Belial Pt.2 também.

Hoje as coisas mudaram muito no submundo e muitas coisas para melhor, né? Então em 2023, antes de postar o novo trabalho nas plataformas digitais, vocês lançaram dois singles: Horns Against Heaven & Beyond the Realms of the Forgotten Swords. Por que lançar primeiro os singles e como os amantes da suprema arte negra aceitaram esses dois lançamentos?

Daeroth Inglorion: É uma excelente maneira de anunciar o que está por vir, principalmente por se tratarem de duas músicas bem diferentes (mas com a mesma essência) do que fizemos com o Warforged até então. Quando lançamos a Horns Against Heaven, foi um teste de mixagem ainda definindo qual seriam os timbres ideais e a atmosfera perfeita para a obra. Já na Beyond The Realms, que tem uma pegada um pouco mais épica soando mais como um “hino de guerra”, foi quando realmente definimos qual seria a mixagem do álbum. E a recepção foi muito boa, pois mesmo sendo um trabalho totalmente inspirado na arte do Black Metal, recebemos excelentes comentários por parte de apreciadores de outros gêneros musicais dentro do Metal, e até mesmo fora dele.

Realmente a produção e os timbres estão muito bons! Finalmente 13 anos depois do full album “Beyond the Realms of the Forgotten Swords”, vocês lançaram o novo trabalho “Quintessence”. Por que demorar tanto tempo para lançar e como foi o processo de composições deste novo artefato?

Daeroth Inglorion: Quando comecei a escrever o Quintessence, eu queria imediatamente lançar um segundo álbum nos anos seguintes ao The Black Age of Light’s Fall de 2010, pois fiquei muito satisfeito com a repercussão e queria dar continuidade em tudo aquilo. Mas o Warforged não se trata disso. No decorrer dos estudos e das composições, comecei a entender que para alcançar o resultado que eu desejava, seria necessário alguns anos de um certo amadurecimento em diversos pontos, seja ele mental, espiritual e até uma grande evolução técnica dentro das composições e produção musical. Para nós, o Warforged é algo muito forte, totalmente espiritual, não é uma música que você simplesmente “coloca no plástico” de um CD ou Vinil e comercializa como produto. São capítulos da nossa própria jornada, de nossas próprias vidas. Por isso levamos o tempo necessário para criar algo que para nós, não fosse apenas mais um amontoado de riffs e letras sem sentido.

Como você descreveria o novo álbum e seus significados estética, visual e lirismo? O que ele acrescentou ou diferencia do último trabalho de estúdio lançado em 2010? E a produção, mixagem e arte da capa foi tudo produzido por vocês mesmos, certo? Porque optaram pelo “faça você mesmo” ?

Daeroth Inglorion: O Quintessence é uma obra que fecha o ciclo do que iniciei em 2007 com as composições do EP The Legacy of Antichrist, narrando uma história inspirada na vingança e ascensão dos anjos caídos como descrita em cenários e livros como o Paraíso Perdido de Milton, Matrimônio do Céu e Inferno de Blake, A Divina Comédia de Dante, etc. Ao mesmo tempo, é uma obra que revisita todos os álbuns anteriores do Warforged com uma regravação de uma música principal de cada EP lançado anteriormente. E mesmo tendo diversos parceiros e profissionais fantásticos a nossa disposição, optamos pelo “Do It Yourself” como um desafio pessoal e introspectivo, para que a obra realmente expressasse totalmente nossa Quintessência. Desde o conceito e criação da capa com a imagem de um arquétipo de Lúcifer alcançando a iluminação, até a gravação e produção completa do álbum foi feita por nós. Assim finalizamos este grande ciclo em nossa jornada, e damos espaço para um novo ainda mais nobre e mais amplo.

Analisando o mundo da música atualmente é fato que a evolução tecnológica mudou o jeito das pessoas consumirem músicas e isso é um fato a nível mundial. Porém, dentro da esfera do submundo, do underground metálico, o metalhead ainda tem o hábito de comprar o material físico, seja ele em CD, Vinil e recentemente houve um saudosismo para os lançamentos em Fitas Cassetes. Qual a sua opinião sobre os pontos positivos e negativos em relação às plataformas de streaming?  Você acha que o artista/banda continuaram lançando seus materiais/obras em CDs, vinil e k7 ou com o tempo a tecnologia também vai tornar essas mídias físicas obsoleto?

Daeroth Inglorion: A forma de consumo pode mudar, mas a admiração pela arte continua a mesma. Não vejo que as plataformas digitais tem pontos negativos, pelo contrário, trouxeram um universo ainda mais amplo e repleto de vantagens para as bandas e públicos. Hoje eu ouço e mantenho contato com bandas e apreciadores do mundo todo, isso é fantástico. Em relação aos materiais, tenho duas visões. Uma é que sempre existirá público interessado e a oferta de edições especiais e limitadas será algo ainda mais presente. Outra, é que existem um monte de pessoas que compram e nem ouvem o material, ficam apenas “colecionando plástico” e postando fotos para mostrarem aos outros materiais que pagaram centenas de reais. Consumo vai ter, mas se o público consumidor realmente vai ouvir e apreciar o material que compra, é outra coisa.

Realmente concordo com você. Eu escuto um monte de bandas & álbuns que ouvi falar nos anos 90 e que naquela época era impossível imaginar de tê- los na minha coleção, mesmo que fosse uma gravação de uma k-7, para outra k-7. Coisas tão comum naqueles tempos. Eu vou atrás desses álbuns, dessas bandas nas plataformas digitais e isso me deixa tão feliz. Continuo comprando meus CDs, camisetas e Zines e isso não afeta nada meu espírito e minha postura dentro do submundo. Como você vê o Underground atual, a nível nacional?

Daeroth Inglorion: Vejo que hoje existem vários undergrounds diferentes, houve uma espécie de subdivisão para os gêneros que tinham mais afinidade. Todos eles com bandas excelentes, shows fantásticos acontecendo por todo o Brasil. É muito legal ter a oportunidade de descobrir novas bandas e grandes álbuns todos os dias, sempre de acordo com o que você realmente aprecia e não sendo obrigado a ficar dividindo espaço com bandas e gêneros que você não é muito chegado. O pessoal sempre falou muito sobre a importância da “união” da cena, mas não vejo que isso é necessário, vejo que o certo é que as pessoas que compartilham da mesma paixão e admiração por certa arte, se reúnam para compartilharem os gostos em comum. Vejo isso acontecendo com uma organização maior hoje.

Capa do álbum “Quintessence”

Você já citou várias vezes nessa conversa que a entidade Warforged não é só mais uma banda de black metal atrás de fama. E o Warforged representa algo profundo e espiritual. Então, gostaria de saber o que o metal negro representa para vocês e se vocês seguem alguma filosofia mais profunda no caminho da mão esquerda?

Daeroth Inglorion: Desde muito jovem iniciei meus estudos na filosofia, história antiga e no oculto em busca de respostas e explicações que eu não encontrava no conhecimento mundano. Vindo de uma família simples (e muito respeitosa) criada no campo e com uma base religiosa muito forte, porém muito carente de estudos, entendi logo cedo que aquilo não era para mim. Ao decorrer da minha adolescência, tive o primeiro contato com leituras um pouco mais aprofundadas, e isso foi me guiando em uma jornada de descobertas e entendimento sobre diversas culturas diferentes. Sou um espírito totalmente livre, que trilha o caminho da evolução e iluminação pessoal através de meus próprios estudos e interpretações. Sem políticas, sem religiões, apenas guiado pela luz do conhecimento. Essa nobreza de espírito encontro na imagem de Lúcifer e de tudo o que ele representa, mas vejo isso como um ideal, e não como uma divindade. Já no Black Metal e na música em geral, encontrei uma forma de manifestar esse sentimento e espírito de guerra em forma de arte, pois aqui posso reunir a filosofia, a história, o oculto, a poesia, a pintura e a música em uma obra única.

Perfeito sua colocação. Eu não sigo religião alguma e o metal me faz tentar entender o mudo à minha volta e buscar me aprofundar em filosofia e na busca de evolução. Acho que é isso que o metal faz conosco. Faz a gente correr atrás para não sermos marionetes de uma instituição e de um sistema que nos aprisiona. Mas enfim, você disse que o Emperor é uma grande referência para você. Gostaria que você citasse três álbuns essenciais do black metal da cena norueguesa?

Daeroth Inglorion: Sem dúvida, Emperor é uma das minhas principais influências. São raras as bandas que conseguiram lançar albuns com a maestria que eles lançaram no passado. Mas vamos lá, sobre 3 álbuns, a lista é fácil: Emperor – Anthems to the Welkin at Dusk, Darkthrone – Panzerfaust e Dimmu Borgir – For All Tid. Escreveria dezenas de álbuns aqui facilmente, mas para mim, esses 3 tem um valor muito especial.

Para finalizar. Quais os planos futuros? E suas considerações finais. Obrigado, pelo tempo disponível! Força – Sempre!!!

Daeroth Inglorion: Eu que agradeço nobre irmão, foi uma grande satisfação conversar com você e com todos os leitores do The Old Coffin zine Portal! Nossos planos agora com o Warforged estão voltados para algumas seletas apresentações com o Warforged para celebrarmos juntos as conquistas com nossos amigos e parceiros, iniciando pelo Nordeste em novembro e as demais regiões do Brasil a partir do próximo ano. Depois, os próprios ventos se encarregarão de nos guiar pelo caminho.

Hail Chaos! A.L.R.!

Related posts

GÓRGONA – NWOBHM vivo e atuante na cena de Cascavel

Walter Bacckus

LACRIMA MORTIS – Doom metal e maturidade em meio ao caos

Fábio Brayner

LUCIFER´S CHILDREN – Melancólico doom metal paraguaio

Walter Bacckus