Lançado no final de novembro de 2021 pela The Vinyl Division, “Ultracrepidarian” é o trabalho de estreia do duo espanhol de Doom Metal, TODOMAL. A banda iniciou suas atividades em 2020 e seus controles criativos são divididos entre Mile e Wildman (ambos responsáveis por todos os instrumentos, sendo que o último também atua como vocalista). A dupla também é conhecida por suas outras bandas e projetos como Harmpit e o Nexus 6, ainda que o currículo de ambos seja bem mais extenso.
O trabalho foi gravado entre 2020 e 2021 no Montseny Studios e Trinitat Studios. A produção, um dos destaques do álbum, é simplesmente sublime! Poderosa, clara e detalhista — creditada ao próprio Mile, que acertou ao dosar a atuação de cada instrumento, dando a cada um deles a sua porção de protagonismo. A mixagem foi realizada no mítico Priory Recording Studios e assinada, claro, pelo requisitado mago sonoro, Greg Chandler (Esoteric).
Curiosidade (antes de adentrar no mundo sonoro do TODOMAL): “Ultracrepidarian”, traduzido ultracrepidário, é alguém imprudente ou presunçoso, que vai além dos limites de seu conhecimento, tecendo opiniões sobre assuntos que fogem ao seu domínio e sua (quando há), especialização.
O disco é marcado por sua sonoridade forte, atmosférica e melodiosa — onde se ouve a solenidade do Epic Doom Metal aliada às climatizações e deslumbres cósmicos do Rock Progressivo e Space Rock. Em miúdos: Imagine o improvável fruto de um cruzamento entre o Candlemass e o Pink Floyd, é justamente isso que “Ultracrepidarian” oferece. São 38 minutos de uma odisseia musical extasiante, cheia de riffs poderosos, melodias divagantes, solos soberbos, atmosferas envolventes, vocais emotivos e melancolia.
“Prelude” abre o álbum com belíssimos dedilhados de guitarra espanhola creditados ao convidado Darío Garrido, também responsável pelas linhas de baixo nas faixas “The Growing Pain” e “Gods Fucking In The Sky”. “Wraith” é a primeira faixa propriamente dita e ilustra categoricamente todas as qualidades sonoras e as inspirações da dupla. A supracitada “The Growing Pain” é um verdadeiro bálsamo sob a forma de música. Uma composição emocionante em todos os sentidos, cujas evoluções e transições revelam não apenas a sensibilidade do TODOMAL, mas também sua inteligência. O trecho dominado por órgão é algo tão assombroso quanto mágico.
“Horror Vacui” conta com a participação da vocalista Teodora Gosheva. É praticamente impossível ouvi-la e não trazer à memória a atemporal “The Great Gig in The Sky” do também atemporal “The Dark Side Of The Moon”, joia sonora lançada pelo Pink Floyd em 1973. Essa faixa vai além da simples mecânica do ouvir, ela é uma experiência transcendental — poesia, melodias e ambientações em perfeita simetria. “Gods Fucking In The Sky”, a faixa título e “Born Of The Earth” configuram o fim do trabalho. Cada qual com seus próprios chamarizes — seja a imponência da primeira, o peso e aura mística da segunda ou as transições da última. Em fim, um lançamento que não perde o fôlego nem por um segundo sequer. Tudo é impecável e envolvente. São raros os projetos que estreiam com um nível tão alto de qualidade, o TODOMAL conseguiu essa proeza e cometeu um registro que faz inveja tanto a bandas de meia-idade quanto as já consolidadas.
Aos fãs de Candlemass, Pink Floyd, Solitude Aeturnus e Fvneral Fvkk fica essa recomendação. Imperdível!
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