“The Cyclic Reckoning” – CD 2021
Profound Lore Records – Importado
10/10
Ouvir música pode ser apenas uma forma de divertimento, um passatempo, pode envolver um hobby (uma coleção, por exemplo), fonte de conhecimento e cultura. Pode, também, tornar-se uma experiência que vai muito além, aguçando sentidos e criando momentos memoráveis ao ouvinte. Infelizmente, são poucos os que conseguem êxito em transcender na criação de sua arte.
O trio SUFFERING HOUR, de Minnesota, nos Estados Unidos, é uma das entidades que realizaram o feito esse ano, com o seu segundo e estupendo álbum “The Cyclic Reckoning”, lançado em fevereiro via “Profound Lore”.
A proposta é um Blackened Death Metal do mais alto nível, unindo elevado grau de complexidade nas composições, técnica invejável e performances instrumental e vocal acima da média. Tudo isso seria descartável, se não houvesse bom gosto e sabedoria na construção das músicas. Há traços progressivos, psicodélicos, e até de post-metal condensados no arsenal criativo dos norte-americanos.
O trabalho de Dylan “DgS ”Haseltine (Baixo, Vocais e Composição Lírica), Josh “YhA” Raiken(Guitarras, Vocais e Composição Musical) e Jason “IsN” Oberuc(Bateria, Vocais) resultou num disco hipnótico, desafiador, maduro e de personalidade marcante, o qual guia o ouvinte por uma jornada fascinante, em meio a uma dimensão intangível e obscura. Ali, as mais complexas e contraditórias emoções humanas são dissecadas e expostas, utilizando-se de riffs dissonantes majestosos e atmosfera pesada, simultaneamente rica e sombria.
As armadilhas cíclicas da vida são exploradas nas letras e estética da obra, analisando as obsessões, compulsões e batalhas psicológicas internas que espreitam e vitimam o ser humano em sua eterna busca pela iluminação. A ilustração da capa em preto e branco, do russo “Artem Grigoryev”, mostra sua interpretação para esse indivíduo que duela diuturnamente com sua própria mente.
Os riffs criados por “YhA” soam criativos e inconvencionais, e são a força motriz do som da banda. Note a grandiosidade com a qual eles evoluem e se intercalam em camadas, criando dissonâncias irresistíveis como na colossal “The Foundations of Servitude”, faixa que finaliza o trabalho com chave de ouro.
A produção do disco, conduzida quase que totalmente por “DgS”, deixou a sonoridade relativamente limpa, destacando com muito punch o trabalho fenomenal de bateria executado por “IsN”. O baixo do próprio “DgS” conecta-se com robustez às camadas de som ao longo de todo disco. As guitarras de “YhA” variam constantemente em timbre, muitas vezes adornando as músicas com passagens excêntricas, e sempre brilhantes. A capacidade criativa do trio, juntamente com seus elevados níveis de confiança e entrosamento, gerou um fortíssimo candidato a álbum do ano.
As influências mais notáveis no som sui generis da banda envolvem DEATHSPELL OMEGA (FRA), DODECAHEDRON (HOL), ULCERATE (NZL) e KRALLICE (EUA). Também é possível perceber características da sonoridade atmosférica das bandas islandesas de Black Metal, como o SVARTIDAUÐI.
Espetacular lançamento do SUFFERING HOUR, um disco viciante e que compele magneticamente o ouvinte a novas audições, revelando detalhes a cada audição. Trabalho obrigatório a qualquer fã de Blackened Death, Black Atmosférico e, ouso dizer, de metal extremo em geral.
Relação das cinco faixas que compõem o trabalho:
1 – “StrongholdsofAwakening”
2 – “TranscendingAntecedentVisions”
3 – “The Abrasive Black Dust Part II”
4 – “Obscuration”
5 – “The FoundationsofServitude”
Duração total: 44:29 Minutos
Destaques: A terceira faixa “The Abrasive Black Dust Part II” oscila magistralmente entre passagens atmosféricas e ataques intensos e furiosos de essência Death Metal e atmosfera Black e post-metal. A quinta e última “The Foundations of Servitude” é uma monstruosidade de mais de 16 minutos, que flui espetacularmente com sua aura tensa, riffs memoráveis, mudanças bem arquitetadas de tempo e conclusão apoteótica.
