CD/EP/LP

SKEPTICISM – “Companion” (2021)

SKEPTICISM (Finlândia)
“Companion” — CD 2021
Svart Records — Importado
9/10

Falar sobre os finlandeses do SKEPTICISM é falar sobre arte, legado e magnitude. Não se trata de uma banda qualquer entre tantas outras que sobrevive de registrar os instantes, é algo mais profundo e substancioso — mais amplo e atemporal, embora sempre solene e melancólico. Sua essência pouco mudou de um lançamento para outro, assim como sua abordagem e sua distintiva estética. Ainda absoluta, imaculada e ressoante. Claro que o novo álbum porta algumas mudanças e alguns leves refinamentos, mas nada tão acentuado a ponto de lhe furtar de suas características primais.

Imersivo e inegavelmente devastador, “Companion” (Svart Records), vai muito além de ser mais um lançamento trivial dentre inúmeros — ou mesmo, o resultado de especificações contratuais. Ele é o sexto e novo épico de estúdio de um dos pioneiros do Funeral Doom Metal. Magistral e distante da fugacidade das percepções comuns, ele não apenas ilustra a longevidade criativa da banda, mas também celebra suas três décadas de serviços prestados à tristeza trajada de música.

Gravado e mixado por Nino Laurenne (Amorphis, Sinisthra, Wintersun e outros) nos Sonic Pump Studios em Helsinque, Finlândia, o disco apresenta todos os elementos que forjaram e forjam a assinatura musical única do SKEPTICISM. As texturas monumentais; os arranjos, cujos avanços são, por vezes, lentíssimos, mas sólidos e pertinentes; as atmosferas épicas e opressivas; as  sinfonias volumosas que vão formando imensas cascatas frente ao ouvinte, e toda a pungente carga emocional tão sabiamente trabalhada pela banda e já registrada em clássicos como: “Stormcrowfleet” (1995), “Lead And Aether” (1998), “Farmakon” (2003) e “Alloy” (2008). Enfim, todas as subliminares qualidades do quarteto e também todas as suas pequenas sutilezas se fazem presentes em seu novo álbum — ou melhor, nessa nova jornada pelos confins da lamentação.

Designada como abertura, “Calla”, vai um tanto além do proposto, curta, mas densa e totalmente vestida de SKEPTICISM. As tradicionais linhas de órgão solenizam-se logo nos primeiros segundos da mesma e vão ganhando forças junto aos escritos íntimos do guitarrista Jani Kekarainen e da bateria forte e esparsa de Lasse Pelkonen. A colossal “The Intertwined” surge na sequência sem qualquer aviso ou adorno inicial, apenas peso sendo maximizado e flutuações etéreas.

O cortejo avança com “The March Of The Four”; onde cada movimento soa único, grandioso e indispensável, ainda que lento. “Passage” traz em si texturas dissonantes e um certo imediatismo hostil — que é, principalmente, transmitido pela bateria quase selvagem de Lasse e pelas guitarras opressoras Jani. Há uma certa velocidade, mas nada que destoe do pulso que rege os registros da banda desde sempre. “The Inevitable” é pura alquimia “skepticismiana”. Os vocais de Matti Tilaeus são aperos, desoladores e sincronizados ao instrumental espartanamente sufocante. Interessante é o desdobramento desta composição, não que seja atípica ou irregular, mas sim, pelo modo como seus elementos crescem; indo da serenidade orquestrada pelas teclas e linhas acústicas até ápices de peso e melodia.

The Swan And The Raven” (cujo vídeo e letra são belíssimos) é o parágrafo final deste minucioso documento musical chamado “Companion”. Todos os sentimentos e adjetivos ouvidos nas malhas anteriores migram para a ele, formando uma elegante sinfonia de luto e melancolia. Taciturna, harmonizada e repleta de elevações.

É realmente admirável perceber que mesmo depois de tantos anos a banda ainda consegue soar honesta e inspirada, criando peças únicas onde cada instrumento tem seu papel bem definido e também sua relevância, seja sozinho ou em conjunto. Poucos nomes deste extremo conseguem obter êxito nessa arte, pois, criar algo lento e lamurioso pode até parecer simples, mas não o é, caso assim fosse, estaríamos num oásis de criatividade e não na aridez de um deserto de repetições. “Companion” é mais um grande momento na carreira e no legado do SKEPTICISM. Um disco que se ajusta perfeitamente como trilha sonora para nossa travessia — seja pela vida ou pelo Estige. Triunfal, simplesmente triunfal!

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