Já faz um tempo que o Brasil vem sendo inundado por uma quantidade significativa de relançamentos, principalmente de licenciamentos de álbuns clássicos que nunca estiveram disponíveis no mercado nacional. Muita gente critica, mas convenhamos que era uma vergonha um país do tamanho do Brasil depender unicamente de pirataria ou de versões importadas a preço de ouro. Um dos álbuns que mais me surpreendeu ver lançado aqui foi esse debut dos gregos do SEPTIC FLESH e ainda por cima, com a arte original. “Mystic Places of Dawn” é um daqueles álbuns que passam-se décadas e ele não perde nem um pedacinho da sua relevância.
Foi responsável por apresentar uma outra face do metal extremo helênico, que já vinha despontando para o mundo com o black metal de bandas como Rotting Christ, Varathron e Necromantia. O SEPTIC FLESH seguiu outro caminho e criou uma obra-prima que trazia uma imensa carga emocional em sua execução, um senso melódico e arranjos bastante sofisticados para uma cena que era mais direta e crua. Não seria exagero colocar “Mystic Places…” como um dos primeiros álbuns de death metal a inserir uma abordagem mais sinfônica e funcionar, pois você encontra com facilidade a dureza do estilo, mas ela se funde de maneira peerfeita à pompa de um clima criado para ser soberbo desde as primeiras notas. É improvável que alguém que aprecie o metal extremo não se renda à faixa de abertura, a incrível “Mystic Places of Dawn”. Para quem conhece o não menos incrível Horrified, o trabalho de guitarras aqui sobra em qualidade.
Há também brutalidade como na direta “Return to Carthage”, que mixa bem todas essas características do SEPTIC FLESH. Músicas mais longas como “Crescent Moon” e “Mythos – Part I and II” permitem uma abordagem ainda mais ampla e épica da proposta que banda possuía na época do lançamento desse álbum. Os climas, a percussão, os arranjos de “Crescent Moon”, por exemplo, são uma viagem e é facilmente perceptível a influência de outros estilos fora do metal que fazem desse trabalho algo tão rico.Para mim, se pudesse falar apenas de 1 música, essa seria a etérea “The Underwater Garden”, a melhor música de um álbum que não tem melhores músicas, se é que me entendem. “Mystic Places of Dawn” não teve aquela mega produção de estúdio que muitos esperam, mas essa crueza (que foi típica de muitas bandas gregas da mesma época) é o elemento que corrobora com essa grandiosidade.
A versão nacional para jogar uma pá de cal na eterna conversa fiada dos “exibicionistas musicais” das first press ainda traz como bônus o EP “Temple of the Lost Race”, lançado em 1991 e com uma sonoridade mais direta e menos épica, mas que já continha muita da qualidade que chegaria ao seu ápice em “Mystic Places of Dawn”. Toda a parte gráfica é incrível, com um encarte todo em papel envernizado, slipcase e um detalhe na mídia do CD que ficou foda demais. A versão nacional é limitada em apenas 500 cópias, ou seja, em um país de mais de 200 milhões de habitantes, apenas 500 indivíduos terão o prazer de possuir esse material, então não vacile. Ah, não esquecendo também o matador pôster que vem com o álbum. Um clássico que não envelhece nunca.
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