“Scarecrow II” – CD 2021
Narcoleptica Productions/Wise Blood Records – Importado
9/10
Lançado em outubro de 2021 através de parceria entre a Narcoleptica Productions e a Wise Blood Records, “Scarecrow II” é, como o próprio título entrega, o segundo capítulo discográfico do quarteto russo SCARECROW. Sua sonoridade abrange o Doom Metal, o Hard Rock e o Rock Progressivo — e torna-se ainda mais rica graças a contínuas doses de Blues e psicodelia. Sua discografia é composta pelo álbum homônimo de estreia, lançado em 2019 e por dois EPS: “Nosferatu” e “Ghost”.
O álbum abre com “The Endless Ocean Overture”; uma peça de caráter sinfônico — de crescentes épicos e apoteoses cinematográficas. Belíssima como abertura e surreal pela forma como se desabrocha em espessas camadas instrumentais. “Blizzard” é uma colisão entre riffs inteligentes, vocalizações potentes (dramáticos/teatrais na escola Robert Plant, Geddy Lee, King Diamond e similares) e texturas agradáveis. Os solos são incendiários e as investidas de bateria são ótimas, para dizer o mínimo. “Magic Flower” projeta-se como Doom Metal, mas espere, surge uma gaita — inusitada, mas deliciosamente necessária. Um condimento a mais é sempre bem-vindo. Os duelos entre a mesma e as guitarras são sensacionais, as emanações “Ledzeppianas” também. O final é um intenso orgasmo sonoro. “Spirit Seducer” é um Hard/Heavy Rock potente, vibrante e totalmente mergulhado nos azeites (e outros fluidos) de procedência setentista. Espetacular!
Na sequência chega a suíte “The Moors”. Um parágrafo musical de extremo bom gosto dentro de um trabalho que soa como um tributo, mas que possui vitalidade e características próprias. Seus pouco mais de oito minutos se fartam da classe do Rock Progressivo e as ondulações cintilantes do Rock Psicodélico — do início acústico em meio a sussurros e ambientações ao primeiro culminar entre guitarras imensas e flautas paradisíacas. Os talentos vocais de Artemis pedem passagem em meio as bases robustas e sutilmente desenvolvidas; a dicção do baixo é perfeita, a bateria é firme e se permite aventuras. Sobre as guitarras, estas se dilatam tanto em melodias quanto em solos primorosos. “The Mushroom Wizard” é palco para experimentações — ácidos — texturas bicho-grilo e Rock And Roll da melhor categoria. Geralmente sou avesso a esse tipo de composição, contudo, eis uma exceção à regra. É praticamente impossível não ser envolvido pela música do SCARECROW.
“The Golden Times” traz aos lábios o néctar dos grandes e mais inspirados momentos da dupla Page e Plant. Quase que toda desplugada, a música avança com violões ora delicados e ora frenéticos, quando impulsionados pela percussão. Mais ao fim, a mesma cresce na virtuose vocal de Artemis e nas guitarras de Max — que condensam décadas de referências sonoras com uma maestria que poucos possuem. “The Endless Ocean” vai do Doom (quase Epic) ao Hard Rock (e Progressivo) com uma naturalidade impar. Todos os elementos que formam não apenas a superfície do registro, mas também sua cerne, eclipsam nessa composição. Os arranjos meticulosos, as seis cordas em estado de graça, o baixo volumo, a cozinha sólida e os vocais (Ok, soam como Robert Plant, mas não de forma cômica/cópia descarada como o Greta Van Fleet), Artemis tem paixão, entrega e teatralidade, não apenas trejeitos “wannabe”. Coroando o fim da faixa ( e do disco), um saxofone (creio). Convenhamos, é muita qualidade e ousadia num lançamento só.
“Scarecrow II” é como um campo permanentemente aberto às possibilidades e criativa combinação de ideias, ritmos, décadas e formas instrumentais. Do esmero da produção, passando pelas composições e chegando até a arte de Igor Odincov — um álbum realmente fabuloso! O SCARECROW é uma banda a ser descoberta, valorizada e cultuada por todos os amantes da boa música.
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