SALIGIA é uma banda norueguesa de Black Metal ativa desde 2006, fundada na cidade de Trondheim e atualmente representada por “Ahzari” (Vocais, Guitarras e Baixo) e “V.” (Bateria).
Dois detalhes chamaram minha atenção, e me fizeram querer conhecer o seu som: O fato de pertencer ao rol de bandas da Ván Records da Alemanha (um dos melhores selos de metal extremo da atualidade) e o músico “Ahzari”, que já foi membro ao vivo do DØDSENGEL (uma banda norueguesa menos conhecida de Black, mas que tem uma discografia espetacular).
“Vesaevus” é o nome do seu terceiro álbum, lançado no final de 2019 digitalmente, em CDs (Digipack limitado a 500 unidades) e discos de vinil.
O nome da banda é um mnemônico (conjunto de letras que auxiliam na memorização de algum conceito) que contém as sete letras iniciais dos pecados capitais, em latim: Superbia (Vaidade), Avaritia (Avareza), Luxuria (Luxúria), Invidia (Inveja), Gula (Gula), Ira (Ira), Acedia (Preguiça);
Na capa do álbum, ilustração da artista lituana “Izabela Carlucci”. A exemplo do que ela já havia feito com a ONE TAIL, ONE HEAD (NOR), um desenho em preto e branco sombrio, frio e um tanto psicodélico, cheio de detalhes enigmáticos.
A banda pratica um híbrido do Black Metal ortodoxo norueguês, típico da segunda onda, e avant garde, com sua visão muito própria de sonoridade, e voltado liricamente ao ocultismo. Os momentos de brutalidade, crueza e rispidez misturam-se com eficiência e sem o menor problema a sons de teclado, piano e vocais limpos e melódicos. Vamos ao faixa a faixa:
“Ashes” abre muito bem o álbum, inicia com teclados que sintetizam o som de órgãos de igreja, o instrumental entra lentamente junto do potente e grave vocal de “Ahzari”. Excelentes riffs fluem em sequência, em meio a andamentos bastante incomuns. Ótimas variações rítmicas, trampo feroz de bateria.
“Malach Ahzari” continua a pegada avantgarde, com riffs criativos e diferentes do que se ouve habitualmente. A aceleração do som é insana, empolgante e duradoura, com alguns elementos punk sutilmente inseridos. Sua seção final possui uma passagem lenta e atmosférica, e outra aceleração menos intensa e repleta de psicodelia.
“Poison Wine” abre com teclados e riffs estrondosos, acompanhados por vocais dobrados com diferentes efeitos. Pausa dramática para novos riffs gigantescos, o ritmo médio vai ganhando em velocidade e tensão, com ótimo trabalho de bateria e baixo. Linda faixa, uma monstruosidade de estrutura exótica e demonstrações de muita técnica e criatividade da banda.
“The Feather of Ma’at” é bem mais direta, extrema e intensa, ainda que permaneça no campo exótico e não convencional do black norueguês. Mantém-se veloz praticamente todo o tempo, excelente.
“Draining the Well” tem pegada e estrutura mais tradicionais, com ritmo médio. Do meio em diante, ganha contornos típicos do Black n’ Roll que a remetem à fase mais moderna do SATYRICON, por exemplo.
“A Nuisance” retoma os riffs excêntricos e pouco convencionais, mas muito efetivos. É conduzida com muita atmosfera do ritmo cadenciado à velocidade brutal, com as guitarras criando camadas de riffs dissonantes. O Black n’ Roll retorna triunfante, e torna a seção final da faixa um dos pontos altos do álbum.
“Vesaevus” a música título é épica, há sons diferentes de violão, piano e teclados inseridos em meio ao caos instrumental, e vocais limpos e extremos intercalando-se. O auge da desarmonia e dissonância do trabalho é atingido, com efeito vertiginoso e claustrofóbico.
Esse terceiro disco de estúdio do SALIGIA deixou a dúvida: Por que só os conheci agora? Certamente, o universo amplo de bandas e lançamentos nos impossibilita conhecer tudo, mas a banda é muito boa e merece mais reconhecimento. Para fãs de SATYRICON (NOR),DØDSENGEL(NOR), ONE TAIL, ONE HEAD (NOR), AOSOTH (FRA), SHAMMASCH (SUI).
Relação das sete faixas, que totalizam a duração de 43:22minutos:
1 – “Ashes”
2 – “Malach Ahzari”
3 – “Poison Wine”
4 – “The Feather of Ma’at”
5 – “Draining the Well”
6 – “A Nuisance”
7 – “Vesaevus”
Destaques: As faixas dois e três são excelentes destaques, em meio a um trabalho bastante coeso e homogêneo, em que pese sua natureza caótica e desarmônica.