Existem álbuns que carregamos conosco quase como uma marca de nossa própria trajetória dentro de nossa vida. Músicas que te marcam, que fazem partes de momentos importantes de cada um. E são esses álbuns que você sabe que, mesmo depois de décadas, vai continuar sendo tão impactante quanto foi na primeira vez em que o escutámos. “Thy Mighty Contract” é um desses álbuns impactantes. E mais do que isso, é um desses álbuns que criam um estilo, que pavimentam caminhos que serão seguidos por muitos depois de seu lançamento. A primeira vez que ouvi esse álbum foi pouquíssimo tempo após o seu lançamento. Já conhecia a banda por suas demo tapes, incríveis por sinal, mas não estava esperando algo como o que pude ouvir nesse curto álbum.
O que hoje chamamos de escola helênica do black metal era apenas um punhado de bandas em seus primórdios gravando demos e seus primeiros álbuns que eram algo fora da curva. Enquanto no norte da Europa a cena se atolava em poserismo e polêmicas, o metal grego se reinventava a dava ao mundo uma musicalidade grandiosa. O ROTTING CHRIST, em seu primeiro álbum de estúdio, resumia essa grandiosidade. As músicas não soavam como o black metal costumava soar. Não havia a rispidez característica do estilo, não havia a ingenuidade de um Venom. Era uma união poderosa do heavy metal mais tradicional possível com climas totalmente épicos que criavam uma atmosfera única. Os teclados, tão odiados por 10 entre 10 fãs de metal, se faziam presentes e faziam a diferença. Antes de adquirir o CD original pude ver o álbum com um amigo de outro estado no formato vinil e aquilo era lindo. A simplicidade da capa, a heresia presente, a blasfêmia não subliminar que o próprio nome da banda emanava não criava dúvidas.
“Thy Mighty Contract” nunca gerou dúvidas do que significou para uma geração que via o black metal se tornando algo gigante, ainda que dentro de suas limitações. E um álbum desses não poderia deixar de ser lançado no Brasil e união de quatro selos nacionais, entre eles a Cold Art Industry, tornou isso possível. A produção do álbum foi primorosa. Trazendo a arte original do álbum (com acréscimos mais do que bem vindos) fica evidente o esforço de preservar ao máximo a simplicidade envolvente que “Thy Mighty Contract” tinha desde o seu lançamento original. A edição limitada traz ainda algumas faixas bônus do EP “Αποκαθήλωσις”, com a incrível “Visions of the Dead Lovers” e “The Mystical Meeting” e da clássica demo tape “Ade´s Winds”. Há também um pôster exclusivo para esse lançamento que torna o material ainda mais especial.
Mesmo hoje, quase 30 anos depois do seu lançamento, ouvir músicas como “The Sign of Evil Existence”, “Transform all Suffering into Plagues”, “Exiled Archangels”, “Fourth Knight of Revelation” ainda me faz pensar na capacidade de permanência das verdadeiras obras de arte e “Thy Mighty Contract” é uma obra de arte. Não existe uma verdadeira coleção de black metal em que esse álbum não faça parte. Prefiro acreditar nisso.
Para adquirir esse e outros álbuns do ROTTING CHRIST lançados no Brasil, acesse: www.coldartindustry.com