Entrevistas

NUNSLAUGHTER – O metal da morte em sua forma mais pura e underground

O NUNSLAUGHTER é um dos grupos veteranos da cena underground death metal americana e tem nos últimos quase quarenta anos criado uma música suja, agressiva e totalmente desconectada da moral e dos bons costumes. É uma música para quem não tem a alma pura. Com dezenas de lançamentos undergrounds e tenho perdido um de seus membros mais icônicos em 2015, a banda se reergueu e lançou agora um dos seus álbuns mais fudidos. Conversamos com o vocalista Don of the Dead sobre uma infinidade de assuntos e foi um papo muito bom… Confiram esse papo a seguir.

(Fábio Brayner)

Don of the Dead (vocal)

Em primeiro lugar, obrigado por aceitar responder às nossas perguntas. Bem, o NUNSLAUGHTER é agora uma banda de quase 40 anos (se incluirmos aqui o tempo com DEATH SENTENCE). Cara, isso é muito tempo tocando metal extremo. Você se imaginou estar aqui depois de tanto tempo criando esse tipo de música?

Don of the Dead: Porra, já faz tanto tempo? Nunca pensei que fosse durar 1 ou 2 anos. Éramos todos apenas crianças nos divertindo criando blasfêmias e fazendo música. Era uma maneira bastante simples de existir. Beber cerveja, fazer música e foder garotas. Estranhamente, não mudou muito para mim ao longo dos anos além de comprar uma casa e andar de motocicleta.

O DEATH SENTENCE foi a primeira encarnação do NUNSLAUGHTER e durou de 85 a 87 e aí teve uma mudança de nome. Qual era a principal diferença entre as duas bandas? E por que você decidiu usar um novo nome naquela época?

Don of the Dead: Nós, Jer the butcher e eu, queríamos fazer uma banda mais agressiva. Mais na linha do Death Metal. O Death Sentence era uma banda de thrash rudimentar. Minha voz na época ainda era infantil e estava bem no meio dos anos 80 thrash. Isso mudaria com Jer assumindo o papel de guitarrista e começando a escrever as músicas. Tínhamos que encontrar um vocalista melhor também então achamos Gregoroth. O NunSlaughter foi um esforço obstinado para colocar a morte e Satanás na linha de frente das letras e, ao invés de evitar muitos tópicos inadequados, fomos direto para a garganta como “I am Death”.

Lembro-me de ter lido em uma entrevista antiga que o NUNSLAUGHTER foi a primeira banda de death metal em sua área. Como foi a recepção da cena metal à sua música naquela época? Eles entenderam isso?

Don of the Dead: Não fomos tratados de uma forma ou de outra. Havia muitas bandas na área de Pittsburgh fazendo vários estilos de metal. Éramos bem jovens e não fazíamos shows, então as pessoas não prestavam muita atenção na banda. Acho que as pessoas pensaram que iríamos simplesmente fracassar como tantas outras bandas. Eles entenderam o que estávamos fazendo, mas o Death Metal era uma nova forma de metal que era visto como uma moda passageira. O NunSlaughter ainda está de pé.

Noah “Tormentor” (Guitarras)

O primeiro álbum do NUNSLAUGHTER veio apenas em 2000. “Hells Unholy Fire” é uma estréia matadora, mas por que demorou tanto para finalmente gravar e lançar o primeiro álbum oficial? Eu sei que vocês tiveram  muitos outros lançamentos antes disso.

Don of the Dead: Nós nunca pensamos realmente em fazer um álbum. Todos nós éramos pobres e não tínhamos pais que colocavam dinheiro na banda, então tudo o que fazíamos saía do bolso. Fizemos gravações simples porque não tínhamos dinheiro para um estúdio e não pensávamos que o que tínhamos estava pronto para uma  gravadora. Depois de tantos anos fazendo demos e alguns 7 “s, tornou-se evidente que deveríamos fazer um álbum e nessa mesma época fomos abordados para fazer um álbum completo. O engraçado foi que quando começamos nessa estrada, pensei que Jim sabia o que estava fazendo e acho que ele acreditava que eu sabia o que estava fazendo. Acontece que nenhum de nós sabia o que estava fazendo e foi uma experiência de aprendizado. Tudo desde trabalhar com uma gravadora e estúdio até arte, encarte, fotos etc. Aquele álbum foi um desastre de criar. A música foi gravada com 2 baixistas diferentes em 2 estúdios diferentes e os vocais foram gravados no meio do caminho ao redor do mundo no Havaí. As bobinas estavam dobradas. Não havia automação naquela época, então fizemos todos os faders manualmente. Às vezes, 3 ou 4 pessoas em faders diferentes. Um pesadelo, com certeza.

“Angelic Dread”

“Goat” e “Hex” seguiram-se a “Hells Unholy Fire” e mantiveram a música da banda intacta. É algo difícil de acontecer com a maioria das bandas. Elas basicamente mudam muitas coisas, influências, às vezes se tornam menos pesados ​​ou agressivos, mas o NUNSLAUGHTER permaneceu tão sujo e cru como sempre. Isso foi o segredo para manter os maníacos apoiando você por tanto tempo?

Don of the Dead: Não mudar foi muito importante para Jim e eu. Muitas bandas mudaram seus estilos e sua abordagem musical e queríamos que fosse o mesmo. Não mudamos com o tempo nem tentamos ser relevantes, apenas fizemos o metal que queríamos ouvir. Desenvolver as histórias que queríamos e criar uma banda que respeitássemos.

Depois de “Hex”, tivemos que esperar até 2014 para ver um novo álbum surgindo. “Angelic Dread” teve uma produção melhor, mas a música permaneceu intacta. Infelizmente, foi o último álbum completo com Jim Sadist. Sei que às vezes pensamos em quão diferentes as coisas em um álbum poderiam ter sido feitas para alcançar um resultado melhor. Olhando em perspectiva hoje, seria esse o caso? Se você soubesse que este seria o último álbum com ele, você teria feito algo diferente?

Don of the Dead: Olhando para trás, para “Angelic Dread”, a primeira coisa que eu mudaria é o guitarrista. Ele tinha uma abordagem preguiçosa das músicas e o álbum não saiu tão agressivo quanto deveria. Jim e eu estávamos no ponto no estúdio. Tantas gravações foram repletas de discussões e cabeçadas, mas em “Angelic..” nós finalmente alcançamos nosso ritmo. Nós conhecíamos os pontos fortes um do outro e pelo que lutaríamos ou abriríamos mão. Foi a melhor experiência de gravação que já tive com Jim. Se eu soubesse que era meu último álbum de estúdio com Jim, eu o teria deixado fazer o que quisesse. Tínhamos praticamente as mesmas sensibilidades quando se tratava do NunSlaughter. Pense nisso como alguém que você conhece há muito tempo terminando sua frase. Tínhamos esse tipo de relacionamento.

Jim Sadist – (1971-2015) – RIP

Ainda falando sobre o falecimento de Jim. Não consigo imaginar o quão difícil foi para todos vocês. A perda de um irmão não é algo fácil de lidar. Vocês –  Don e Jim – eram a alma do NUNSLAUGHTER. Você considerou, em algum momento após o falecimento dele, sair ou acabar a banda ou isso nem chegou a ser cogitado?

Don of the Dead: A resposta rápida é sim, mas logo depois de enterrá-lo eu percebi que não era algo que Jim gostaria, então nós, Tormentor, Mutilator e eu, começamos a juntar os cacos. Eu meio que surtei e vendi minha casa para me mudar para o outro lado do país e me tornar um mecânico da Harley Davidson. Percorri muitos quilômetros pensando no que faria sem Jim. Foi realmente o Tormentor que liderou a reunificação. Ele estava pronto para continuar o NunSlaughter e ele tomou a frente para providenciar  um substituto para  Jim. Esse membro foi o Wrath.

Joe “Wrath” (bateria)

O NUNSLAUGHTER veio ao Brasil em 2017 e foi um show incrível aqui em Brasília durante o Kill Again Fest. Essa turnê foi a primeira após a morte de Jim Sadist ? O que você lembra desses shows? E o público e os lugares?

Don of the Dead: Sim, foi a primeira turnê real após a morte de Jim. Essa turnê era exatamente o que precisávamos. Para mim fiquei muito animado por estar na terra que nos deu Sarcofago, Attomica, Sepultura e Sex Thrash. Visitando a Cogumelo e Bon Mi! Encontrar mentes iguais no metal bruto e sujo foi uma das melhores experiências que já tive. Precisamos voltar!

Falando agora sobre o novo álbum. Eu nem sabia do novo álbum quando o recebi no meu e-mail para análise. Foi uma surpresa incrível e, para ser honesto, está na minha playlist de todos os dias desde então. Ao meu ver “Red if the color of Ripping Death” é um dos melhores álbuns do NUNSLAUGHTER. É pesado pra caralho, duro como aço e manteve a identidade da banda com, talvez, novos elementos. Como foi o processo de composição deste álbum? Onde ele foi gravado? A qualidade do som é excelente.

Don of the Dead: Foda… e obrigado. Fico orgulhoso de ouvir isso, especialmente vindo de um ouvinte de longa data. Foi gravado em Cleveland Ohio pelo nosso guitarrista Tormentor. É seu estúdio chamado Mercinary Studios. Ele gravou muitas bandas excelentes como Midnight, Ringworm e Destructor. Ele gravou “Angelic Dread” e alguns outros discos do NunSlaughter no passado, mas acho que ele fez um trabalho exemplar em “Red is the Color of Ripping Death”. A maioria das músicas, incluindo a faixa-título, foi escrita pela banda como um todo. Acho que cada um de nós deu sua opinião, mas a maioria das novas faixas foi escrita por Tormentor e Wrath. Algumas das canções foram tiradas de fitas muito antigas que eu tinha de canções que Jim e eu escrevemos e gravamos em um aparelho de som, mas nunca gravamos adequadamente ou complementamos as letras. Fiquei feliz em incluir essas músicas no álbum porque isso significa que Sadist continua vivo.

“Red is the Color of Ripping Death” (2021)

No press release, podemos ler que algumas músicas foram escritas em cooperação com Jim Sadist. Quais ? Enquanto ouço, posso sentir a vibração antiga em todos os lugares, mas também algo diferente que não sou capaz de identificar, MAS ainda é um álbum de death metal massivo.

Don of the Dead: “Banished”, “Eat your Heart” and “The Temptress” são três que eu consigo pensar. Também escrevemos e gravamos “To A Whore” alguns anos antes de Jim morrer. Eu realmente acho que é uma música excelente e um ótimo acompanhamento para “Satanic Slut”. Acho que o que você pode estar ouvindo é a abordagem agressiva da guitarra. Tormentor detonou e estava no ponto com as guitarras. Ele também trouxe seu talento como produtor para a mistura. No passado éramos Jim e eu e realmente não sabíamos o que estávamos fazendo. Tormentor tem a habilidade de ouvir como as músicas deveriam soar e então fazê-las soar assim. O som desse álbum é todo ele e eu gosto disso.

O NUNSLAUGHTER não é uma banda com muitos vídeos oficiais, mas quando vocês fazem, é sempre algo muito especial. Foi “God” seu primeiro vídeo oficial? Posso imaginar o quão divertido foi gravá-lo. Agora o novo vídeo traz uma animação matadora com muito sangue, tripas, blasfêmia e, claro, sua música como trilha sonora. Quem teve a idéia de fazer um vídeo animado? É brilhante.

Don of the Dead: Obrigado, nós realmente gostamos do vídeo. Não temos uma gravadora que paga por vídeos, então é preciso dinheiro para produzir um vídeo. Meu amigo, que já faleceu, Brian Pattison me mostrou um vídeo de sua banda Anthropic e eu fiquei chocado. Pedi informações aos caras e depois de alguns e-mails ele começou a trabalhar no vídeo “Below the Cloven Hoof”. Ele gostou da imagem nas letras e simplesmente foi em frente. Eu não contei aos caras até que estivesse quase na metade. Quando eles viram, ficaram maravilhados e mal conseguimos guardar para nós mesmos. Acho que pode surpreender as pessoas e pelo menos fazer com que gostem do vídeo. O vídeo de “God” simplesmente aconteceu. Eu escrevi o roteiro e o cinegrafista demorou um pouco e, por meio de alguns contatos, convenceu alguns de seus amigos a ajudar. Foi divertido, mas nas filmagens os dias são muito longos. No final valeu a pena. A edição foi feita por um amigo e ele viu o que eu procurava no que diz respeito ao humor. Tudo deu certo.

Nate “Detonate” (baixo)

A pandemia de COVID criou um caos em todo o mundo e todo o mundo da música foi afetado por ela. Suponho que vocês tiveram mais tempo para trabalhar com seu novo álbum, certo? Como estão as coisas na sua área agora? Quais são os planos do NUNSLAUGHTER nos próximos meses e 2022? Com certeza vocês estão ansiosos por uma chance de mostrar as novas músicas nos palcos.

Don of the Dead: O estado de Ohio foi reaberto. Todos os negócios não precisam de máscaras, mas acho que edifícios federais ainda precisam de máscaras. O Covid realmente fechou o mundo e fodeu países inteiros. Temos shows acontecendo quase todo fim de semana aqui nos estados. Nenhuma turnê está programada mesmo para 2022, mas estamos trabalhando em uma turnê pelos EUA com o Demonical. Espero ver isso acontecer. Fomos, como muitas bandas, muito produtivos durante a pandemia. Muitas músicas novas foram escritas, bem como muitos split álbuns rolaram. Temos um split com o Blood, um split com o Morbosidad, um split com o com Migauss e um split com o Nuctermeron. Também começamos a separar as músicas para o novo álbum.

Bem, muito obrigado pelo seu tempo e pelo novo álbum matador. Espero ver o NUNSLAUGHTER aqui no Brasil o mais rápido possível … Cheers and mantenham a brutalidade fluindo …

Don of the Dead: Metal is Death ! Death is Metal NunSlaughter Death Metal

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