CD/EP/LP

NÚLL – Entity (CD 2020)

NÚLL (Islândia)
“Entity” – CD 2020
Ván Records – Importado
9/10

Embora seja mais conhecida por suas exuberantes belezas naturais, a surreal Islândia, mesmo sem possuir muita tradição ao que se compreende por Metal Extremo, guarda alguns tesouros sonoros valiosíssimos, no caso, o gigante do Post-Metal/Post-Rock, Sólstafir; o Almyrkvi com seu Black Metal altamente atmosférico e denso, e os sensacionais, Katla e Auðn. A lista é curta, mas substancial e inclui ainda: Misþyrming, Kontinuum, Sinmara, Mannveira (que teve seu debute resenhado pelo portal; texto e disco incríveis), Vofa e Andvaka (os últimos citados são responsáveis por dois excelentes discos de Funeral Doom Metal — ambos lançados em 2019).

O NÚLL ou simplesmente “0”, é um destes tesouros concebidos e rigorosamente protegidos pela Islândia. A banda foi fundada em 2012 e entre seus membros estão músicos dos já citados Misþyrming e Mannveira. Em 2014 ela debutou com o colossal “Null & Void”; trabalho este, composto por uma única e perturbadora faixa que ultrapassava os 34 minutos de duração. Originalmente o artefato foi lançado de forma independente nas plataformas digitais, e em formato físico (cassete) pelo selo conterrâneo Vánagandr. Em 2015 saiu sua versão em CD através da chinesa Pest Productions.

Seu segundo registro, “Entity” (Ván Records, 2020) apresenta padrões mais “normais” e acessíveis para um álbum, seus pouco mais de 42 minutos são compartilhados por 06 faixas, onde a menor ultrapassa os 05 minutos e a maior aproxima-se dos 09. A literalidade da palavra “normal” finda-se aí, visto que, o interior de “Entity” é constituído por inúmeros componentes, substâncias, camadas e inserções. Grosso modo — um híbrido entre Depressive Black e Doom Metal; numa audição mais centrada; edificações que divagam entre o Avant-Garde e o Post-Metal, com elegantes parênteses de Folk (sucintos e evocativos). Um trabalho musicalmente rico, repleto de detalhes e de alta carga reflexiva.

None”, o mais longo dos temas, soa como um cruzamento entre o supracitado Sólstafir e o belga, Amenra. Depressiva, amarga, mas mística e altamente envolvente. A atuação do vocalista “S.S.” é algo a ser destacado, tanto neste quanto no tema seguinte, “Reduced Beyond The Point Of Renewal”. A carga emocional que ele transmite e o uso de diversos recursos vocais tornam singulares estas duas primeiras extrações. “Grasping The Outer Hull Of The Tangible” e “(em)Pathetic” são ainda mais negras, abismais e excruciantes. Interessante notar como o NÚLL consegue criar ambientações insalubres e telas caóticas sem que sua música se torne maçante ou previsível (algo recorrente em bandas do gênero, onde o caricato é o bônus da cópia sem sentimentos orgânicos).

Acenando ao fim do trabalho, o penúltimo tema, “Conjoin The Vacuous” se revela como mais um claustrofóbico cômodo onde não há nenhuma luz ou brisa de esperança, apenas uma lodosa e tóxica angústia que não se dissipa nem mesmo pelas entoações vocais ou pelos pequenos fragmentos acústicos que a floreiam. Ao ato de imergir plenamente no trabalho — “An Idiosyncratic Mirage” e seus pouco mais de 06 minutos se fecham como intransponíveis paredes ao redor do ouvinte. Ruidosa e atmosférica, naturalmente íntima do Black Metal, mas não tão reta como são 90% das produções atuais do mesmo.

“Entity” é um trabalho expansivo lírica e musicalmente — por vezes resguardando-se a uma postura minimalista e cíclica, e noutras, dilatadamente ousado e ambicioso. Contudo, sempre austero, profundo e ameaçador. É iniciar a audição e deixar-se ser conduzido para dentro de um verdadeiro turbilhão de reflexões difusas, sentimentos conflitantes e verdades que se recusam a tomar a dose diária da morfina dos fúteis tempos atuais.

Bandcamp: https://0000000.bandcamp.com

Spotify: https://open.spotify.com/artist/1J6jFXKDefB0ya8hFo9kd2

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