A banda Argentina de brutal death metal, Necropsia lançou o seu terceiro álbum intitulado “Antorchas”(2024) e fomos trocar uma ideia com o guitarrista Francis Jacob e ele nos dá mais detalhes sobre a banda e seus planos futuros.
Saudações meu amigo, Francis! É uma honra trocar essa ideia com o nobre amigo. Seja bem vindo ao site The Old Coffin Spirit Zine Portal. A atual formação da Necropsia e como surgiu a banda e porque escolheram o brutal death metal?
Francis Jakob: Primeiramente obrigado a você meu amigo pela oportunidade e pelo interesse em nossa banda. A “Necropsia” começou em 2006, em uma pequena cidade chamada Jardín América, província de Misiones, Argentina. Os atuais membros da banda são:Lucas Ayala: bateria
David Ayala: Voz
Nahuel Ramírez: baixo
Francis Jakob: Guitarra.
Desde o início a banda sempre seguiu o mesmo estilo de death metal brutal porque é o nosso favorito e também porque é complexo!
A banda surgiu em 2007 e em 2008, já lançaram a demo tape “Necromorfosis”. O que você pode nos dizer sobre esse artefato e como a mídia especializada e público que cultua o metal extremo aceitou esse cartão de visitas?
Francis Jakob: Necromorfosis foi o resultado de um grupo de caras que, na época, eram novos no death metal, mas queriam criar músicas inspiradas em Cannibal Corpse, Deeds of Flesh, Deicide, etc. Gravamos o EP em nossa sala de ensaio sozinhos com um pequeno mixer de áudio, alguns microfones e com a ajuda de um de nossos amigos, Cristian Martinez. Na época não havia gravação em estúdio na região e muito menos desse estilo musical. Conseguimos alcançar um som original e brutal, que realmente se diferenciasse das outras bandas da época e felizmente tivemos uma resposta incrível do público.
Em 2011, a Necropsia lançou o EP “Suportando o Pútrido Fermento…” e também participou de uma coletânea chamada:Ars Moriendi, no mesmo ano. Foi um ano bem proveitoso, né ? Como você vê hoje esses dois trabalhos na história da banda?
Francis Jakob: Foi uma ótima era. O Wry tinha uma banda muito bem estabelecida, com ideias claras sobre o que queríamos transmitir com as letras e a parte instrumental também. Na época, o som era puro death metal old school com letras extremamente grotescas. “Soportando…” Foi gravado no estúdio de Neco Psiderki, produzido de forma independente e este álbum, assim como a coletânea, nos abriu algumas portas para começar a tocar ao vivo em diferentes partes da nossa província.
Como surgiu esse convite para participar dessa coletâneas com as bandas: Muerte por Implosion, Grind Convulsion e Buccal Defecation? Eu realmente não conheço essas bandas! São bandas argentinas ?
Francis Jakob: Fomos abordados pela Grinder Cirujano, uma gravadora de música extrema da Argentina, e a ideia deles era promover bandas menos conhecidas do mesmo gênero por meio desse material físico. Duas das bandas incluídas (além de nós) são da Argentina, Grind Convulsion (Sta. Fe) e Buccal Defecation (Bs.As.) e uma da Colômbia, “Muerte por Implosión” (Bogotá). Mantemos contato com a Grind Convulsion, e até dividimos o palco há alguns meses no “Bien Extremo Fest”, o maior festival de metal do norte do nosso país, organizado por alguns dos nossos integrantes e outros amigos que têm bandas do mesmo gênero.
A banda só conseguiu lançar o seu primeiro álbum completo chamado Necrótico (2017) e três anos depois saiu Sumergido (2020) O que você pode nos dizer sobre esses dois trabalhos?
Francis Jakob: Após o lançamento de “Soportando..”, a banda começou a tocar ao vivo regularmente e sofreu algumas mudanças ao mesmo tempo. Eu costumava tocar baixo e mudei para segunda guitarra, então um amigo (Carlos del Valle, que não está mais na banda) assumiu o papel de baixo. Com “Necrotico” (Necrótico) nossa intenção era fazer soar o mais natural e cru possível mantendo nosso clássico brutal death sem nenhum retoque na gravação. Antes do lançamento de “Sumergido” (Submerso) lançamos um LP com 8 músicas chamado “Vestígios de la Humanidad” (vestígios da Humanidade) em 2020, que tinha um tema pós-apocalíptico mas não pudemos apresentá-lo ao vivo por causa da pandemia, então por isso, em 2022 lançamos “Sumergido” e nos concentramos apenas em criar música. Este último EP tinha apenas duas músicas, mas foi nosso trabalho mais complexo na época, e serviu como um exemplo do que estava por vir.
Como a imprensa especializada e os insanos “die hard” aceitaram esses dois trabalhos?
Francis Jakob: Com nossos últimos 3 discos tivemos uma ótima aceitação, mas com “Sumergido…” Foi ainda melhor porque conseguimos um produto final incrível que pudemos promover e apresentar ao vivo.
Qual a diferença entre Necrótico e Sumergido, referente às composições e a produção? Esses dois trabalhos hoje em dia você está satisfeito com eles ou mudaria algo neles?
Francis Jakob: Eles são bem diferentes. “Necrotico” é um death metal cru e tradicional. Com “Sumergido..” subimos na letra e no instrumental, criando um som mais moderno. Eu não mudaria nada do nosso trabalho anterior porque cada disco mostra o que queríamos na época.
Agora em 2024, vocês lançaram o novo trabalho “Antorchas” e gostaria que você nos desse mais detalhes sobre o mesmo, referente a produção e arte da capa. Quem produziu o álbum e quem foi responsável pela arte da capa e layout?
Francis Jakob: “Antorchas” é o reflexo da nossa experiência e trabalho duro ao longo de todos esses anos.Tem um som muito maduro, direto e violento. Ao mesmo tempo, nenhuma das músicas parece ou soa como a outra. Cada uma delas tem seu próprio ritmo, o que torna o álbum muito dinâmico. Tem 10 músicas e pode ser encontrado em todas as plataformas digitais existentes. Em relação ao tema, é um ambiente escuro e de selva, inspirado em nossa selva e folclore. Foi gravado, mixado e masterizado por mim (Francis Jakob) em nosso estúdio de gravação. A capa e o design de interiores foram feitos por uma tatuadora e designer, Fernanda Sánchez, que, além de projetar para nosso último projeto, também criou os designs para nossos três trabalhos anteriores. No início de 2025, o álbum será lançado em mídia física por várias gravadoras independentes, como Grinder Cirujano, Artes Negras, Fear Brutal e Hellriser Productions.
E como foi a experiência Francis, de você estar atrás dos botões em estúdio e cuidar da produção do disco? Afinal de contas, foi para cortar gastos ou você pensa em seguir uma correria como produtor no futuro?
Francis Jakob: Bom, eu venho gravando nossa banda desde “Necrotico” e com cada trabalho eu adquiri mais e mais experiência e isso, eu acho, você pode perceber em nosso último trabalho. Eu costumava gravar para algumas bandas no passado, mas por enquanto, meu foco está em nossa banda e “Extirpación Cerebral” (uma missão paralela onde eu toco baixo). Realmente toma muito tempo, horas infinitas, e com meu trabalho atual é quase impossível e além disso é muito difícil viver disso. E sobre cortar custos, não. É apenas uma atividade paralela que eu gosto e podemos levar todo o tempo que precisamos para gravar o que queremos.
Como surgiram as composições e como está sendo há aceitação desse trabalho no submundo sul-americano?
Francis Jakob: Geralmente, eu crio os riffs e então no estúdio de ensaio, tentamos estruturar as músicas com o baixo e a bateria. Normalmente nosso vocalista, David, é quem escreve as letras. Tentamos manter um tema para cada álbum, mas cada um de nós tem sua própria abordagem, e é isso que eu acredito que faz as músicas e a banda se destacarem e o que as pessoas gostam.
Fazendo uma pesquisa aqui, os materiais lançados pela Necropsia quase todos vocês fizeram lançamentos de forma independente, né? Esse último foi lançado pelo selo Grinder Cirujano Records. Como surgiu o contato para vocês trabalharem juntos e ficaram felizes com o trabalho deles?
Francis Jakob: Todos os nossos trabalhos anteriores, exceto o último, foram feitos de forma independente. Felizmente, tivemos a oportunidade de trabalhar com Grinder Cirujano em nosso último disco “Antorchas”, só porque queríamos conseguir atingir mais pessoas com uma mídia física e com melhor qualidade. Estamos muito gratos e super animados porque nosso material está sendo impresso no México e será distribuído para alguns países da América Latina e também para a Europa.
Entrando nesse assunto polêmico, gostaria de saber qual é a sua opinião sobre as plataformas de streaming. Você acha que ajuda ou atrapalha?
Francis Jakob: Claro que ajuda, e estamos totalmente a bordo com as plataformas de streaming. Às vezes é mais difícil porque todas as bandas que existem usam as mesmas plataformas e estamos enterrados sob milhares delas, mas por outro lado, encontrei ótimas bandas através do YouTube Music ou Spotify, por exemplo, e se não fosse por esse tipo de plataforma, eu não as teria conhecido. No final das contas, é tudo uma questão de ser ativo nas redes sociais e encontrar a maneira de usar essas ferramentas da maneira correta para poder mostrar nossa arte.
Infelizmente, a cena underground brasileira conhece muito pouco da cena metálica do submundo sul-americano e acho isso muito triste! Como você vê a cena Argentina nos dias atuais e quais bandas você poderia indicar aos nossos leitores e que tem o apoio da Necropsia?
Francis Jakob: Argentina tem uma cena forte, poderosa e com ótimas bandas por todo o país. Uma das coisas que ajudaram a decolar são os festivais de metal, por exemplo “Bien Extremo Fest” (Misiones), “Criminal Metal Camp” (Córdoba), “La campana del Infierno” (Santa Fé), entre outros. Alguns dos nossos favoritos são: Mortuorial Eclipse, Encoffined, Social Shit, Bestial Perception, Spontaneous Combustion, Necroabortion, Infección Crónica.
Eu conheço desde o início dos anos 90 bandas como: Rata Blanca, Hermetica, Almafuerte, Nepal, Horcas, Malon, V8, Tren Loco,Lethal, Serpentor e Nafak. Você aprecia essas bandas clássicas do metal argentino?
Francis Jakob: Claro que sim, nós os respeitamos muito, mesmo que hoje em dia não os ouçamos com frequência, eles criaram a base para nós e para outras bandas locais. “Horcas” e “Almafuerte” são nossos favoritos.
Recentemente descobri uma banda de heavy metal clássico, na linha dos ingleses do Judas Priest chamada: Patan. Que banda foda! Você conhece a Daniela proprietária do selo de Buenos Aires, Del Imaginario Discos? Felizmente eu tenho vários amigos e amigas em solo argentino, que sempre que vem para o Bombinhas-sc, na temporada de verão, me abastecem com bandas das antigas e contemporâneas argentinas. Meu amigo José Luiz, de Santa Fé e a Daniela (Del Imaginário Discos) , obrigado por sempre lembrar de mim.(hahaha) Óbvio que essas bandas que citei são mais ligadas ao mainstream, né. Como é a cena mais extrema e que habita os bueiros argentinos? Existem bons festivais,bares ou fanzines, ou mesmo sites que apoiam o verdadeiro underground argentino?
Francis Jakob: Patan”, que banda ótima! Eu os vi em um festival de metal por volta de 2006, se não me engano, e eles sempre apoiam nossa cena nacional de metal. E como mencionei anteriormente, há grandes festivais de metal por todo o país e em cada cidade sempre há um lugar onde podemos tocar nossa música.
Meu hermano, você conhece a cena brasileira? Quais bandas daqui do Brasil você aprecia?
Francis Jakob: Sim! Nós conhecemos muitos deles, na verdade tocamos com algumas várias vezes. A cena brasileira é emocionante e extrema ao mesmo tempo haha! Obviamente, a que mais conhecemos é Krisiun, mas também gostamos muito de Nervo Chaos, Espiritual, Podridão, Atropina, Gestos, entre outros.
Misiones, está a cerca de 200 km de Foz do Iguaçu, famosa terra das cataratas, e faz fronteira com a Argentina e também com o Paraguai. Eu sei que na tríplice fronteira sempre houve um intercâmbio metálico entre as cenas de Puerto Iguazu, na Argentina, Ciudad Del Leste, no Paraguai e Foz do Iguaçu, no Brasil. Vocês já tocaram várias vezes nessas cidades e como você vê a cena na tríplice fronteira? Quais bandas dessas regiões têm parceria, irmandade e amizade com a Necropsia?
Francis Jakob: Foz do Iguaçu tem uma ótima cena de metal, na verdade, há um pequeno lugar chamado “Casa Urbana” que hospeda bandas locais e também bandas conhecidas de todo o mundo, para citar algumas, Work e Blood Red Throne. Felizmente, como não é longe de onde moramos, podemos ir e curtir essas bandas incríveis algumas vezes por ano. E como sediamos o “Bien Extremo Fest”, existe uma espécie de irmandade e amizade entre as cenas da tríplice fronteira. Tentamos ser o mais calorosos possível com todos porque sabemos por experiência própria o quão difícil é ir para um lugar estrangeiro e tentamos tratar todos como família.
Francis, gostaria que você citasse 5 álbuns de metal sul americano que te influenciaram a ser um metaleiro e músico de metal?
Francis Jakob – Claro, é difícil nomear apenas 5, mas aqui estão os principais:
Genesis y horror – 1917
Obras de una Mente Enferma – Eternal Grave
Conquerors of Armageddon – krisiun
Crumbling Empires – Slow Agony
Sacro – Masacre
Meu amigo, espero vê-lo em breve em Bombinhas Beach no verão de 2024/2025. Obrigado por ceder um pouco do seu tempo conosco. Palavras finais suas. Um grande abraço hermano!
Francis Jakob: Obrigado pelo interesse em nossa banda, gostei muito desta entrevista e nos vemos em breve na praia, um dos melhores lugares do mundo, na minha opinião. E certamente poderemos aproveitar um ótimo asado argentino enquanto ouvimos black metal. Grande abraço a você e a todos os leitores deste portal.