O MORTIFERUM já havia emitido sinais iniciais de que entraria para o mundo do Death Doom Metal como um dos principais players, não seria mero expectador ou participante mediano. A impactante Demo de 2017 intitulada “Altar of Decay” gerou muita expectativa no submundo do metal extremo, e chamou a atenção da Profound Lore (Canadá), que rapidamente assinou com os norte-americanos e os adicionando ao seu rol de bandas.
O Death Doom produzido pelo quarteto de Olympia (estado de Washington) é letal, repleto de energia agressiva, imundo tal qual uma carcaça exposta ao tempo, em avançado estado de decomposição. Um misto perfeito do que de melhor foi produzido nos Estados Unidos e na Finlândia no início dos anos 90.
Vocais guturais ultra graves, andamentos lentos, cadenciados e em midtempo perfeitamente balanceados, bateria e baixo de peso esmagador, com linhas impregnadas de perversidade, liderados por um trabalho irrepreensível dos dois guitarristas. Os riffs são massivos, sufocantes e suntuosos. Ocasionalmente, desfilam solos de ótima técnica, distribuídos entre as partes mais aceleradas.
“Disgorged from Psychotic Depths” é o nome do aguardado álbum de estreia, que foi lançado em 2019 no exterior e ganha sua versão nacional no final de julho/2021, sob parceria entre os selos “My Dark Desires Records” e “Nihil Productions”. A edição nacional será luxuosa, limitada a trezentas unidades em Slipcase contendo arte complementar à do álbum, e acompanhará pôster.
A seguir, a análise faixa a faixa desta monstruosidade:
“Archaic Visions of Despair” inicia a jornada pelo reino dos mortos-vivos vagarosamente, com atmosfera profundamente carregada e tensa, e muito peso. O andamento ganha dinâmica, com intensificação do ritmo e riffs cada vez mais doentios e marcantes. Os vocais de “M. Bowman” são aterradores, e acrescentam à aura perversa do trabalho. A aceleração na reta final da música é avassaladora, magistral. O solo de guitarra é direto ao ponto e preciso, sem excessos. Clássico automático do Death Doom produzido no século XXI.
“Inhuman Effigy”tem seu começo mais intenso, em ritmo mais acelerado. Performance brutal e de precisão cirúrgica do quarteto. Quando desacelera, o som acentua o clima asfixiante de putrefação.
“Putrid Ascension” retoma o cenário onde o MORTIFERUM pratica a sua melhor versão do Death Doom Old school… sob ritmo cadenciado e aura hostil. A pegada arrastada antecipa uma aceleração brutal e súbita, com guitarras esquizofrênicas e vertiginosas. Riffs mais melódicos acompanham a percussão destruidora, e criam ótimo contraste. O som mais extenso do álbum oscila entre as passagens lentas e velozes com primor. O riff principal é executado algumas vezes, em momentos diferentes, criando uma sensação contínua e perturbadora de opressão.
“FunerealHallucinations” movimenta-se como um predador prestes a investir contra o seu alvo indefeso. Faixa que contém alguns dos melhores leads das guitarras, e pegada matadora. A desaceleração toma proporções inéditas, beirando em alguns momentos o Funeral Doom, com posterior retomada fantástica. Um dos destaques do álbum, som doentio e extremamente envolvente, cativante.
“Interlude (Anamnesis)”o título entrega, e é exatamente isso. Um interlúdio instrumental (acústico) de menos de um minuto, que prepara o ouvinte para a conclusão do trabalho.
“Faceless Apparition” começa lenta, mas a atmosfera construída vai ganhando em tensão, e apontando para uma explosão apoteótica. Ao invés disso, guitarras mais limpas conduzem a música a uma passagem mais climática. Mantém-se em ritmo médio, e a prometida explosão de fúria e brutalidade ocorre na sua reta final, sob trabalho magistral de percussão.
O álbum full de estreia do MORTIFERUM justifica e até supera a expectativa criada a partir da Demo, e deixa o ouvinte ansioso por mais. Foi um dos melhores discos de Death Metal em 2019, e agradará sem dúvidas aos fãs de INCANTATION (EUA), AUTOPSY (EUA), UNDERGANG (DIN), DEMIGOD (FIN), RIPPIKOULU (FIN), CEREBRAL ROT (ALE) e HOODED MENACE (FIN).
Relação das seis faixas, que totalizam a duração de 36:03 minutos:
1 – “Archaic Visions of Despair”
2 – “Inhuman Effigy”
3 – “Putrid Ascension”
4 – “Funereal Hallucinations”
5 – “Interlude (Anamnesis)”
6 – “Faceless Apparition”
Destaques: Disco que merece ser apreciado na íntegra, cresce a cada audição e ganha novos detalhes e perspectivas. No entanto, pode-se apontar a primeira música como destaque natural, é um som de qualidade única e que se tornará clássico com o tempo.