Uma das manifestações mais respeitadas e reconhecidas do Black Metal Português, a MORTE INCANDESCENTE completa em 2021 vinte anos de atividade, trazendo ao mundo um novo álbum completo de estúdio, intitulado “Vala Comum”.
O trabalho será lançado internacionalmente amanhã (31/10 – Halloween) pelo selo lusitano “Signal Rex”, integralmente focado em bandas praticantes das artes obscuras.
A sonoridade dos portugueses não tem erro… Black Metal tradicional, ortodoxo, cheio de personalidade, bastante ríspido e cru em boa parte do tempo, orientado pela segunda onda escandinava dos anos 90. Impossível não gostar de como o novo álbum soa, vigoroso e cheio de ímpeto. O trabalho de produção ficou excepcional, a habitual crueza não foi obstáculo para que todos os instrumentos pudessem ser apreciados com nitidez, mesmo esquivando-se a todo custo do excesso de polimento.
Como bônus, as letras e vocais em português, que soam eficazes e um pouco exóticos (ao menos aos meus ouvidos), os quais são vomitados com ferocidade e doses incomensuráveis de insanidade pelo veterano duo “Vulturius” e “Nocturnus Horrendus”, encaixando-se perfeitamente à proposta.
Sons como a primeira faixa “Instalação Humana” têm a rispidez e a truculência de um Neandertal, e podem, num primeiro momento, ajudar na típica categorização dos caras como uma banda puramente de Raw Black Metal. De fato, há muito mais que isso, o que fica claro ao ouvir-se atentamente a música de abertura, repleta de nuances e alternativas bem sacadas.
A seguinte “Anula-te” é outra que se destaca pela impetuosidade, aliada à morbidez. Os segmentos velozes e cadenciados intercalam-se com sagacidade maquiavélica, o instrumental é impecável e os vocais, perturbadores e sinistros. Som viciante.
“Cerra os Dentes” brilha mais intensamente quando a dupla diminui o ritmo e insiste com os riffs monolíticos, criando passagens das mais memoráveis. O refrão dessa música ficou absolutamente foda. Os riffs irresistíveis e a percussão certeira são o carro chefe em “O Véu”, uma pequena joia que ressoa como uma homenagem ao Black Metal primitivo.
Um curto interlúdio de teclados e vozes atormentadas antecede a “O Uivo da Noite”, uma das melhores do disco, que descamba para o Crust Punk e conclama o ouvinte com contundência: “Quebra as algemas – liberta-te!”
“Nós somos o Underground” é intensa, de ótima atmosfera e com alguns leads interessantes. “As Luzes da Cidade” destaca-se pela percussão marcial e a aura maléfica, que deixam a faixa com um jeitão beligerante, muito em linha com a agressividade intrínseca da obra.
“A Seia dos Vermes” é rápida e mortífera, abrindo caminho para a última e excepcional “Planeta Parasita”, pesadíssima e de andamento médio e cadenciado, onde o duo clama (compreensivelmente) pelo fim imediato deste mundo infausto.
Memorável trabalho da MORTE INCANDESCENTE. Recomendo muito não só o álbum, como também que o ouvinte fã de Black Metal conheça as duas outras entidades lideradas pela dupla: CORPUS CHRISTI do “Nocturnus Horrendus” e IRAE do “Vulturius”, duas das mais dignas representantes do estilo, de origem lusitana.
Tracklist do álbum, totalizando 36:00 minutos de duração:
1 – “Instalação Humana”
2 – “Anula-te”
3 – “Cerra os Dentes”
4 – “O Véu”
5 – “Interlúdio”
6 – “O Uivo da Noite”
7 – “Nós somos o Underground”
8 – “As Luzes da Cidade”
9 – “A Seia dos Vermes”
10 – “Planeta Parasita”