Esse relançamento colocou novamente à disposição do público nacional um dos melhores discos do black metal nacional, que há muito se encontrava fora de catálogo. O LORD BLASPHEMATE foi uma das bandas mais respeitadas e apreciadas do cenário nordestino na década de 90 após o lançamento de algumas demos ensaio totalmente cult.
“The Sun that Never Dies” viu a luz do dia em 1997 e trazia uma banda com uma sonoridade imensamente influenciada pelo black metal grego, especialmente por bandas como o Varathron, Horrified, Necromantia e isso é evidente em todas as composições desse material. Ainda que outras influências fossem presentes, o metal negro helênico ajudou a forjar em ferro e fogo o som da banda. Tanto musical quanto liricamente o LORD BLASPHEMATE era uma banda que se destacava dentro da cena nacional por sua música que se apresentava como uma miríade de sonoridades e arranjos, alguns fenomenais, construindo uma sonoridade que se tornou uma marca registrada do grupo em todos os seus lançamentos.
Impossível não reverenciar uma composição como a magistral “The Arabs Expulsion of Iberian Peninsula’s by Carlos Martel in Poitier Battle”, uma música com várias camadas a serem descobertas. “The Egyptian Magick Ritual to Invocate Ra-Hoor-Khuit” é uma das melhores músicas da banda e me senti muito honrado em tocar o arranjo de guitarra bem no início da música, uma brincadeira que fiz enquanto ouvia a gravação e que a banda gostou e me pediu para repetir. Ficou gravada para a posteridade. Essa é mais uma música longa, mas genial. Aliás, músicas longas foram a principal característica desse material e a contrário do que possa se imaginar, não é um trabalho cansativo. A próxima faixa era uma espécie de hino da banda, que sempre era ovacionada ao executar essa faixa ao vivo. “The Neophyte, the Wiccas Awaken” era conhecida do público e tinha uma roupagem mais crua. Na versão do álbum ela ganhou mais arranjos, uso de flautas, criando uma grande atmosfera.
Infelizmente em alguns momentos o som da flauta ficou muito baixo. Eu não lembro se era assim. Outra música que é um momento a se destacar é a rápida “Yes, We Love Satan”. O início com dedilhados e piano (ouvindo hoje dá para perceber que estão um pouco fora de tempo) preparava para a faixa mais rápida e visceral desse material. O uso de vocal feminino também foi uma boa ideia. É a mais grega das faixas desse debut álbum. A faixa final tem uma sonoridade mais própria, com a cara do LORD BLASPHEMATE e chama-se “The Sun that Never Dies”. A cadência e a vocalização são um destaque dessa música. Esse foi um grande debut álbum a despeito dos problemas de execução aqui e ali. O clima underground dominou todo o disco e mostrava uma banda que tinha tudo para crescer.
A qualidade da gravação é apenas razoável, o que era compreensível pela falta de grandes recursos do estúdio onde o material foi gravado. Com exceção da primeira demo tape do Sanctifier, todas as produções de metal feitas nesse estúdio deixavam a desejar, principalmente se escutadas hoje em dia. A produção desse relançamento é maravilhosa. Um digipack duplo, limitado em 250 cópias, envernizado.
Além do álbum, as demo tapes de 94 (essa um demo tape que é clássica em cada nota e tem uma produção até melhor do que a do álbum), 92 e 93 (ambas gravações totalmente underground) foram incluídas, mostrando de forma clara uma linha temporal de evolução da sonoridade da banda. Definitivamente “The Sun that Never Dies…” marcou época na cena nordestina e nacional. Imagino como soaria um álbum como esse se tivesse sido gravado em um estúdio europeu. Parabéns à Blasphemy Productions pelo relançamento e cuidado com a produção.