O projeto de Black Metal LEIÞA é muito recente, criação solo do artista alemão “Noise”, responsável também pelo “KANONENFIEBER”, outro projeto que ele desenvolve sozinho desde o ano passado, porém mais voltado ao Black / Death, e por onde lançou seu primeiro álbum em fevereiro desse ano, o ótimo “Menschenmühle” – confira nossa resenha dele também!
Voltando ao LEIÞA, houve o lançamento, na semana passada, do álbum “Sisyphus” em formato digital, sem nenhum alarde e sem praticamente nenhum tipo de promoção. A versão em CD já está sendo comercializada em pré-venda.
Sísifo, o personagem do álbum, é figura importante na mitologia grega. Foi rei de Corinto, e era tido como um dos mortais mais inteligentes e astutos do mundo antigo. Rebelde nato, enganou e enfureceu diversos Deuses como ZEUS (divindade suprema), HADES (do mundo subterrâneo e dos mortos) e TÂNATO (personificação da Morte). Morreu de velhice, foi conduzido ao reino dos mortos e condenado a rolar, por toda eternidade, uma enorme pedra de mármore montanha acima. Cada vez que a pedra chegava ao cume, uma força a fazia rolar abaixo, fazendo com que o trabalho se reiniciasse num ciclo interminável.
A bela arte da capa, que ilustra essa cena, foi assinada pelo britânico “James C. Hutton”, inspirada na obra-prima renascentista de “Tiziano Vecellio”, um dos melhores representantes da escola de Veneza, na Itália (1490 / 1576).
Musicalmente, o álbum oferece Black Metal / Post-Black Melódicode primeira grandeza, com a bateria gravada pelo músico de estúdio “Noderra” e os demais instrumentos e vocais do próprio “Noise”. As línguas de origem germânica favorecem o metal extremo, em termos de rispidez da sonoridade dos vocais. Os riffs usam as melodias com sabedoria, ressaltando a natureza sombria, de sofrimento, desolação, auto fobia e misantropia do trabalho.
“Sisyphus” tem excelentes letras, refletindo o sofrimento interminável da sua condenação. O som varia do Black Metal ultra veloz, potente e furioso às passagens arrastadas e carregadas de melancolia, como que se alinhando à lenta e tortuosa subida montanha acima, acompanhado de seu fardo. Ótimas melodias e clima impecável, abre o álbum em grande estilo.
“Endlos” soa como uma lamentação desesperada do personagem, é carregada de angústia e pesar. O instrumental passa a carga negativa dessas emoções com eficiência, em muito carregado pelas ótimas melodias. Belíssima faixa que supera os oito minutos com boa dinâmica, sem tornar-se monótona em nenhum momento.
“Sterben um zusterben” começa com riffs incríveis, criativos e “fora da caixa” quando se pensa em Metal Extremo. As letras mergulham no campo filosófico, questionando a vida sem propósito e o destino de cada um. É um som que ganha muita força em sua seção final, quando tem seu ritmo intensificado.
“Gib mirHeimat“ inicia formando uma atmosfera tensa, somente instrumental, que toma corpo e cresce em espiral, até que os vocais torturados se apresentam e lamentam, como que um espírito buscando por repouso, buscando pela sua casa, ou abrigo (como entrega o título). É uma faixa menos agressiva e mais atmosférica de fato, até seus momentos finais, quando a frase que a nomeia é repetida de forma enfática e veemente.
“Mühsal” é uma instrumental de dois minutos, de guitarra fúnebre e reforçada pela percussão e baixo que soam cuidadosamente calculados para a elaboração e manutenção desse clima.
“Prometheus”abre com atmosfera melancólica, mas logo converte-se em fúria e caos. As linhas velozes e devastadoras da bateria aliam-se muito bem às guitarras mais climáticas, resultando em músicas bem estruturadas, diversas entre si e que agradam em cheio. Uma das melhores faixas, fala sobre o Titã também punido pelos Deuses, acorrentado ao monte Cáucaso pela eternidade, onde todos os dias uma águia vinha comer o seu fígado (que se regenerava, e assim, mantinha o castigo eterno). Motivo da punição? Prometeu entregou o mistério do fogo (exclusivo dos Deuses) ao homem, tornando-o superior aos outros animais.
“Der Feindlebt in mir” é uma coleção de pensamentos atormentados, de alguém que vê a si mesmo como inimigo. Tem passagens velozes contundentes, ótima pegada do início ao fim.
“Tötedich” finaliza o disco conclamando um “sujeito oculto” a acabar com sua própria vida miserável. É um som mais curto que a média do álbum, bem direto, cru e carregado de negatividade, pessimismo e sentimentos de autodestruição.
Estreia verdadeiramente excelente desse projeto alemão, qualquer um que goste de ouvir Black Metal Melódico deve conhecê-lo. Lembra um pouco o grande NAGELFAR (Alemanha), DAWN (Suécia) e DARK FORTRESS (Alemanha) da fase inicial. Do ponto de vista conceitual, percebe-se que todo o sofrimento e as metáforas presentes no trabalho estão diretamente ligadas ao artista, seu extremo desgosto e asco em relação à vida e suas experiências pessoais. Todos temos algo de Sísifo e Prometeu nos combates que enfrentamos em nosso íntimo.
Relação dasoito faixasque compõem o disco, totalizando 38:31 minutos:
1 – “Sisyphus”
2 – “Endlos”
3 – “Sterben um zusterben”
4 – “Gib mirHeimat”
5 – “Mühsal”
6 – “Prometheus”
7 – “Der Feindlebt in mir”
8 – “Tötedich”
Destaques: Disco muito equilibrado, e homogêneo. A primeira, música título, tem sido trabalhada como single pela banda. A segunda, apesar de ser mais longa, é uma viagem muito interessante pela mente perturbadoramente criativa do artista.