A banda LABORE LUNAE é oriunda da cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e foi formada em 2002, ou seja, a experiência dos caras já ultrapassa duas décadas. Mesmo com esse tempo todo de existência a banda demorou a lançar o seu debut álbum. “Real e Abstrato” é o primeiro álbum oficial do LABORE LUNAE e foi lançado pela gravadora Eclipsys Lunarys no ano passado.
Antes disso a banda havia lançado apenas a demo tape “Devaneios” (2009) e o split “Mórbidos Dizeres”, de 2014.
Ainda que a música do grupo se encontre de forma mais geral dentro do espectro do death e doom metal, ao ouvir com mais atenção o som desse quinteto é fácil perceber que esses estilos são apenas uma ponta do iceberg. Há muito mais coisa envolvida na criação das sete faixas que fazer parte do tracklist desse primeiro trabalho full.
As duas faixas que abrem o álbum vão além desses estilos. “Desertos – Parte I” e “Real e Abstrato/Desertos Parte II” tem elementos mais focados na simplicidade e na profundidade lírica que eu encaixaria dentro uma abordagem mais Post, algo que tem se tornado comum em muitas bandas hoje em dia.
“Símbolo do Oriente” é uma música mais dentro das características tradicionais do grupo. Um death/doom metal, com vocais guturais e excelentes harmonias das guitarras. Ainda mais introspectiva é a sorumbática “Sombria”, que em alguns momentos me lembrou Solitude Aeturnus, por causa das bases de guitarra e algumas construções melódicas. A segunda parte da composição, após os 03:24, se torna mais densa e pesada. A letra evoca a violência do assassino e a sensação da morte e isso transparece na interpretação da composição.
Umas das grandes faixas do álbum é “Ruído”, com seu início mais singelo, mas que dura o tempo suficiente para preparar o ouvinte para águas mais tenebrosas e lúgubres. É uma música que evoca poesia e o faz de forma muito interessante. Muito mais pesada é a excelente “Descanse em Paz”. O seu andamento principal é diferente e fora do convencional e isso cria uma sensação de desconforto, o que a evidencia. Posso afirmar que em termos de camadas, essa é a música mais interessante do álbum.
A última faixa oficial do álbum é “O Mar e a Lua”, que tem um início onde o baixo segue uma linha bem anos 70, como um Black Sabbath com elementos de stoner. Os arranjos de guitarra também tem essa vibe mais old school. Logo em seguida o doom metal mais tradicional vai regendo e guiando a composição, criando momentos mais leves.
Como bônus as faixas da demo tape 2009 “Silêncio no Fim” e “Decatexis” que eu não encontrei mais informações se foram regravadas ou não. De qualquer forma a gravação é muito boa, principalmente das guitarras, que estão bem mais claras do que nas faixas do álbum em si. A primeira composição bônus é bastante pesada e com maior energia. Já “Decatexis” é, talvez, a música mais diferente aqui. Tem uma agressividade diferenciada em sua primeira metade e fica mais focada no feeling depois.
A produção de “Real e Abstrato” é boa, mas pensaria em uma próxima gravação em uma atenção maior às guitarras distorcidas. Dentro da proposta do grupo, soarem mais pesadas e claras é uma boa pedida. Obviamente existe o elemento gosto pessoal do guitarrista, mas o caso não se aplicar aqui, vale a dica. A arte de capa é muito bonita e a produção do álbum como um todo é boa.
O mais importante é o apoio que selos como a Eclipsys Lunarys dá a bandas nacionais, algo que vem diminuindo aqui no Brasil. O LABORE LUNAE é um bom nome da cena doom metal e com certeza ainda irá evoluir muito em sua própria proposta.
Tracklist:
- Desertos – Parte I
- Desertos – Parte II
- Símbolo do Oriente
- Sombrio
- Ruído
- Descanse em Paz
- O Mar e a Lua
- Silêncio no Fim (bônus)
- Decatexis (bônus)
ENGLISH VERSION:
The band LABORE LUNAE hails from the city of Campo Grande, in the state of Mato Grosso do Sul, and was formed in 2002, so the guys have more than two decades of experience. Even with all this time, the band took a while to release their debut album.
“Real e Abstrato” is LABORE LUNAE‘s first official album and was released on the Eclipsys Lunarys label last year.
Before that, the band had only released the demo tape “Devaneios” (2009) and the split “Mórbidos Dizeres” (2014).
Although the group’s music is more generally found within the spectrum of death and doom metal, when you take a closer look at the quintet’s sound it’s easy to realise that these styles are just the tip of the iceberg. There’s a lot more involved in the creation of the seven tracks that make up the tracklist of this first full-length.
The two tracks that open the album go beyond these styles. “Desertos – Part I” and “Real e Abstrato/Desertos Part II” have elements more focused on simplicity and lyrical depth that I would fit within a more Post approach, something that has become common in many bands nowadays.
“Símbolo do Oriente” is a song more in keeping with the group’s traditional characteristics. It’s death/doom metal, with guttural vocals and excellent guitar harmonies. Even more instrospective is the sombre “Sombria”, which at times reminded me of Solitude Aeturnus, because of the guitar bases and some melodic constructions. The second part of the song, after 3:24, becomes denser and heavier. The lyrics evoke the violence of the killer and the sensation of death, and this comes through in the interpretation of the composition.
One of the great tracks on the album is “Ruído”, with its simpler beginning, but which lasts long enough to prepare the listener for darker and more lugubrious waters. It’s a song that evokes poetry and does so in a very interesting way. Much heavier is the excellent “Descanse em Paz”. Its main tempo is different and unconventional and this creates a sense of unease, which makes it stand out. I can say that in terms of layers, this is the most interesting song on the album.
The last official track on the album is “O Mar e a Lua”, which begins with a very 70s bass line, like Black Sabbath with stoner elements. The guitar arrangements also have an old school vibe. Then the more traditional doom metal takes over and guides the composition, creating lighter moments.
As a bonus are the tracks from the 2009 demo tape “Silêncio no Fim” and “Decatexis”, which I haven’t been able to find out if they were re-recorded or not. In any case, the recording is very good, especially the guitars, which are much clearer than on the album tracks themselves. The first bonus composition is quite heavy and energetic. “Decatexis” is perhaps the most different song here. It has a distinctive aggression in its first half and becomes more focused on feeling afterwards.
The production of “Real e Abstrato” is good, but I would think that in a future recording, more attention would be paid to the distorted guitars. Within the group’s proposal, sounding heavier and clearer is a good idea. Obviously there’s the element of the guitarist’s personal taste, but if that doesn’t apply here, it’s worth mentioning. The cover artwork is beautiful and the production of the album as a whole is good.
The most important thing is the support that labels like Eclipsys Lunarys give to national bands, something that has been diminishing here in Brazil. LABORE LUNAE is a good name in the doom metal scene and will certainly evolve a lot in its own proposal.
Tracklist:
- Desertos – Parte I
- Desertos – Parte II
- Símbolo do Oriente
- Sombrio
- Ruído
- Descanse em Paz
- O Mar e a Lua
- Silêncio no Fim (bônus)
- Decatexis (bônus)