Black Metal fundamentado na chamada segunda onda (Exemplos: DARKTHRONE, MAYHEM, ULVER em seus primeiros discos voltados ao Black Metal), emprego pesado de elementos de DarkAmbient, Atmosférico, Drone e Folk ritualístico. São essas as matérias-primas utilizadas pelo FYRNASK na elaboração da sua música, da sua arte.
A banda existe desde 2008, e nasceu em Bonn, cidade que foi a capital da antiga Alemanha Oriental. Inicialmente, era um projeto solo do artista “Fyrnd”, que é o vocalista principal e compositor até hoje. Após uma pausa, retomou os trabalhos com membros fixos – “Rune” é o segundo vocal, “Exhord” guitarrista, “Fhez” baixista e “Alghol” o baterista.
“VII: Kenoma” é o novo e quarto álbum Full do FYRNASK, fruto da parceria com o lendário selo alemão Ván Records, disponível no mercado desde o final de abril desse ano, com diferentes versões limitadas em Vinil, CDs (Digipack) e Digital.
Prepare-se para uma experiência única.
A obra é conceitual, de músicas longas, escritas em Nórdico Arcaico (língua falada na antiguidade pelos Vikings), e inspirada no chamado “Livro do Sofrimento”, escrito pelo poeta, filósofo e místico persa “Attar Faridud-Din”, que viveu entre os anos 1145 e 1221 DC (Século XIII). Um dos questionamentos principais é a relação entre o sofrimento humano versus os supostos amor e misericórdia divinos (seria o sofrimento uma forma de purificação? Por que o criador infligiria tormento aos filhos que diz amar?);há uma intensa análise dessa jornada nas letras, por meio dos universos físico e metafísico.
“Hrævaþefr” tem seu início atmosférico,que constrói por pouco mais de dois minutos as fundações para que a entrada da instrumentação mais pesada. A percussão soa tribal, e abre caminho para um Black Metal perverso, dotado de riffs dissonantes e vocais ritualísticos, não necessariamente comuns ao estilo. É o som mais extenso do disco, com mais de treze minutos, e suas passagens são majoritariamente climáticas e hipnóticas. Há efeitos sonoros e vocais que dão uma cara épica à música. Causa um primeiro impacto muito bom, e seu final cria grande expectativa;
“Sjóðandiblóð” também abre com instrumental totalmente atmosférico, a faixa caminha lentamente rumo a uma explosão de metal extremo, formando uma densa parede de som que lembra seus conterrâneos do LUNAR AURORA e do THE RUINS OF BEVERAST. Vocais sussurrados e belas passagens quase limpas assumem, e logo dão lugar a um som de pegada Folk, mais pesado, progressivo e com jeitão ritualístico, de contemplação. O ápice desse som é muito cativante. A transição entre as passagens é conduzida sempre de forma magistral.
“Niðamyrkr” se arrasta em princípio, com uma levada típica de Funeral Doom / Drone. O coração Black da banda volta a pulsar, com um ritmo médio cheio de riffs tensos e percussão bem variada e intensa. Vocais mais característicos do Black dão as caras, mas intercalados com camadas de vozes etéreas e limpas, criando uma das faixas mais exóticas do álbum. Encerra-se com uma bonita passagem acústica.
“Helreginn“ é outro monstro de treze minutos, os sinos ao fundo e sons que lembram o mar criam uma ambientação quebrada pelas guitarras e, em seguida, pela bateria em tom marcial, soando progressivas e grandiosas. Os vocais trabalham em coral, colaborando com a atmosfera carregada. Partes extremas, venenosas e empolgantes se seguem, a música tem a vibedos discos mais recentes do DEATHSPELL OMEGA nas partes mais extremas.
“Dauðvána” soa como um monolito, pesada e densa. Destaca-se o ótimo trabalho de bateria, especialmente nos momentos em que a ambientação se mostra mais hostil. Vocais que continuam oscilando entre corais e vozes limpas, e alguns efeitos que lembram DungeonSynth.
“Blótguð” conta com vocais femininos em coro, e tambores tribais em sua abertura. Violinos, violoncelos, xilofone e efeitos sintetizados a deixam integralmente atmosférica, e de beleza única. Pegando carona no tema metafísico e transcendental do disco, é como se esta representasse a passagem do mundo físico ao espiritual, a um mundo por nós desconhecido.
A obra é ótima, mas certamente a sua estrutura ousada não se converte em audição “fácil” a todos. Recomendado aos fãs verdadeiros de Black Atmosférico, de trabalhos densos, e admiradores de metal extremo de mente aberta e espírito aventureiro.
Relação das seis faixasque compõem o disco:
1 – “Hrævaþefr”
2 – “Sjóðandiblóð”
3 – “Niðamyrkr”
4 – “Helreginn”
5 – “Dauðvána”
6 – “Blótguð”
Tempo total de duração: 58:52 Minutos
Destaques: Não é o tipo de disco para se pinçar uma faixa ou outra, a viagem é ouvi-lo por inteiro. Se, ainda assim, o leitor quiser escutar uma faixa de forma isolada, a mais indicada seria a primeira, mais extensa, muito rica, ela captura uma fração de todos os elementos contidos na obra.