Entrevistas

FINAL CREATION – Death metal pernambucano com o fedor do underground

O Norte / Nordeste do Brasil, sempre teve uma cena forte e o FINAL CREATION, é de Jaboatão Dos Guararapes.(PE), que lançou recentemente o debut cd “In The Valley Of Death”. (2022) Conversamos com Jônatas (baixista) e que nos conta um pouco mais sobre a trajetória deles.

Saudações Jônatas! Primeiramente obrigado por ceder essa entrevista ao The Old Coffin Spirit. Sejam bem – vindos! Para quem não conhece a banda, apresente os integrantes e quando a banda despertou de sua tumba gélida?

Jônatas: Primeiramente agradeço muito o convite feito a Final Creation para esse entrevista, e vamos lá meter bronca. Sobre a formação, a banda já teve algumas ao longo de sua história, mas a atual conta com os seguintes integrantes: Alexgrind (Vocal), Gabriel Lorde Erebus (guitarra), Junior Dark (guitarra), JC Armagedon (Bateria), Jônatas Lins (Baixo). Tirando Alexgrind, todos os outros integrantes tocam em outras bandas, Grabriel toca no Malkuth, JC na Necrolust Alcoholic, Junior no Necropatia e eu, Jônatas, no Lucto. A banda foi formada em meados do ano de 2010, contabilizando 12 anos de estrada, mas que só conseguimos lançar o nosso primeiro material o “In The Valley of Death” agora, por alguns problemas no percurso de nossa história, as mudanças de formação foi um desses problemas. A proposta da banda foi sempre fazer um death metal sem muita firula, focado nas escolas tradicionais do estilo, mas tentando incorporar o máximo dos elementos influenciadores de cada integrante. Dessa forma acredito que dê para perceber que cada música desse debut cd tem uma identidade, mas não destoante de uma faixa para outra. Sendo que ainda não dá para ver muito dos nossos atuais guitarristas nesses músicas porque foram compostas com a antiga formação. Se torna perceptível as influência dos novos integrantes com as novas faixas que estamos compondo, já pensando em um lançamento novo.

Recentemente a banda lançou o seu primeiro artefato no submundo chamado: In The Valley Of Death. Como foi o processo de produção e gravação deste trabalho?

Jônatas: O processo de gravação debut Cd intitulado “In the Valley of Death” iniciou-se em 2018, sendo que esta não foi a nossa primeira gravação feita para lançar essas músicas. O primeiro processo de gravação se deu em 2012, mas o resultado não foi o esperado, então deixamos em stand by. Esse material serviu como pré-produção para o lançamento atual que fizemos, visto que, mesmo que as músicas pudessem ser antigas, mas os guitarristas eram novos, tinham pouco tempo de banda, no máximo 6 meses, então serviu para eles pegarem as músicas e uma referência do nosso som. Agravação como já falei começou em 2018 no Studio Darkside, de Diego Do’urden, que é baixista e vocal do Mystifier e guitarra e vocal do Infested blood. Ela durou de maio de 2018 à fevereiro de 2021, demorou todo esse tempo pois pegamos no percurso, a mudança de lugar do estúdio, algumas turnês do Mystifier e a pandemia, mas tirando isso, fomos muito bem assessorados por Diego Do’urden, e o Studio Darkside, que fez também a mixagem, a masterização, como também a intro que está junta da música Caronte, primeira faixa do CD. O resultado já pode ser conferido no CD, que nos agradou em muito.

Eu gostei bastante desse trabalho. Ele é direto, agressivo e traz influências do velho death metal. Daquela escola de Cannibal Corpse. Dismenber, Autopsy e também do velho Death. Ou seja: metal da morte sem frescura! Agressivo, sujo, cadenciado e rápido. Gostaria de saber como é o processo de composição das músicas, às líricas falam sobre o que ? E essas influências que citei realmente fazem sentido (no meu ponto de vista é claro) ou além delas quais outras bandas influenciam vocês na hora de compor?

Jônatas: As referências que você citou estão completamente correta e além dessas temos várias outras referências que as vezes não fica tão explicita, mas está lá, como o monstrosity, Severe Torture, Obituary, Morbid angel, Suffocation, Prostitute Disfigurement, Death e outras mais. O processo de composição das primeiras músicas foi feito mais pelo antigo guitarrista, tinha mais dele, mas nunca deixando de ter toques de outros integrantes, sendo sempre feita em conjunto. Já essas novas músicas que estão sendo produzidas atualmente, estão sendo com mais interação de todos os integrantes, está tendo uma cara um pouco diferente das primeiras músicas mas seguindo a mesma linha. Esse processo flui bem porque sempre estamos gravando as nossas ideias e repassando um para o outro, fazendo com que flua fácil as novas composições. É tanto que depois do termino da gravação já temos três músicas novas partindo para uma quarta. Já a parte lírica ficava muito a cargo do nosso vocalista Alexgrind e com uns toques dos outros integrantes. Hoje já existe uma participação maior dos outros integrantes, até tendo letras sem a participação do vocalista. Mas as temáticas desse primeiro CD foi focada no submundo, em demônios, rituais demoníacos e também na luxuria. Já as músicas novas tá com um temática diferente das primeiras faixas, voltando-se para psicopatia humana, bem nas linhas de bandas mais clássicas do metal da morte.

Vocês fecharam uma parceria de lançamento do Debut CD com o selo “De Profundis Production”. É um selo novo né? Como rolou o contato e o que vocês podem nos dizer dessa parceria e o que esperam do trabalho deles?

Jônatas: A parceira com a De Profundis Production não foi uma coisa muito inusitada para nós não, porque eles já são parceiros de longas datas em outra empreitada. Antes mesmo da De profundis se transformar em selo, Tadeu, um dos que encabeçam o selo, já vinha conversando com a banda e sempre dizendo que tinha muito interesse em nos lançar, nós sempre tivemos interesse nessa parceria, visto que conhecíamos quem eram as pessoas e sabíamos quem eles eram, que era para nós um ponto bem positivo, sentíamos confiança. Após iniciarmos em estúdio para a gravação do disco, a De Profundis Production, agora já como selo, entra em contato conosco assinalando o interesse real para o lançamento do “In the Valley of Death”, então fomos ver a proposta deles e como eles pensavam em trabalhar para a divulgação do material. No primeiro encontro foi muito bom com várias ideias e possibilidades para o lançamento, nos empolgamos bastante. A partir do segundo encontro o De Profundis production, já tinha basicamente tudo já esquematizado para o lançamento, não parecia um selo iniciante o que nós tranquilizava, até porque a nossa preocupação não era com o selo, pois confiávamos no que eles estavam nos mostrando, mas sim lançar o nosso primeiro material com qualidade e a De Profundis foi o que estávamos precisando. Um selo novo mais com muito profissionalismo, empenho e foco no seu trabalho, resumidamente isso. Vejo eles hoje com uma grande opção para quem quer fazer o lançamento de sua banda e conseguir uma boa distribuição e visibilidade dentro do underground brasileiro.

Nota Do Editor / Walter Bacckus – Além do Tadeu ser do selo De Profundis Production, ele também edita o grandioso “Turvo zine” impresso e que eu tenho em minha coleção de escritas do submundo e sou um grande admirador de seu trabalho com o zine.

Jônatas, para quem não conhece o trabalho da Final Creation, que música seria o cartão de visita para apresentar para os insanos Metalheads e por que essa faixa?

Jônatas: Seria presunção minha dizer qualquer faixa do disco kkkkkkkk. Mas falando sério, acredito que “Caronte”, a primeira faixa que a banda lançou oficialmente, no caso no Youtube, visto que essa música traz um pouco de tudo que é a Final Creation, das levadas bate cabeça, a parte mais agressiva, como também a parte técnica. Sei que tem a faixa título do disco “In the valley of death” que é uma faixa muito boa, como também tem “Night of Ritual”, que pessoalmente adoro essa música, mas para esse primeiro contato com a banda “Caronte” é a faixa para se conhecer a essência da Final Creation com toda certeza.

Na minha opinião, a cena do metal extremo no Norte / Nordeste do Brasil, é riquíssima e sempre nos surpreende com ótimas bandas e lançamentos acima da média em tratando – se de Brasil, já que por aqui nada é fácil. Destacaria Salvador, Campina Grande e Recife como destaques dessa cena. Como é a relação de vocês com o submundo que eu citei?

Jônatas: Conhecemos bem a cena de recifense tanto como banda, como público, já que somos de uma cidade vizinha. A cena de Recife nos acolhe muito bem nos shows que fazemos e temos relações muito boas com as bandas da região como com o público em geral. Durante esses anos de banda foi o que explorar, a cena recifense, visto que só lançamos o debut CD agora em 2022 o que fez com que ficássemos um pouco limitados a nosso estado e região. Por conta desses motivos não tentamos explorar as oportunidades a nossa volta, a cena de Salvador e a de Campina Grande, mas agora com o CD em mãos e nos streaming de música, vamos buscar adentrar esses espaços. Agora se inicia uma nova jornada para desbravar com a banda, buscando contatos com produtores e outras bandas para fazer com que as postas se abram nesses dois estados e outros também.

Vocês são de Jaboatão Dos Guararapes, Pernambuco, e que já revelou para o submundo a banda de black metal “As The Shadows Fall”(1996) e o grandioso Malkuth. Que eu me lembro neste momento. Com certeza existem muitas outras. Como é a cena aí na sua região, existem muitos festivais/shows e casas de espetáculo que abrem as portas para a cena extrema?

Jônatas: Aqui em Jaboatão tem uma grande efervescência de bandas muito boas. No grind tem o Desacordo e tínhamos o Lepra, com o black metal tem a Necrolust Alcoholic, já no metal da morte tem o Horrorface, Restinpeace, Cetus, Sepulchral Whore, Carnir, Falling in Disgrace e nós e outras mais bandas que eu possa ter deixado passar sem querer. Sobre espaço em Jaboatão para show, espaço tem o problema é que muitas vezes o público não quer se deslocar para um lugar que seja descentralizado, mesmo havendo possibilidade de locomoção, como metrô e ônibus próximo, nem vamos falar do uber né. Hoje basicamente os shows underground de metal se resume a acontecer no Darkside, que além de ser local para ensaios e gravações e casa de show, mas é bem no centro do Recife o que facilita para muitos a locomoção e lá hoje é o ponto não só do metal, mas do rock em geral da região metropolitana do Recife.

Hoje a cena underground mudou muito em relação ao que acontecia há 20 anos atrás… Nos anos 80 e 90 era muito difícil ter acesso por exemplo há uma demo tape ou conhecer uma banda de uma cidade próxima. Hoje ao contrário, está tudo no seu celular. Vocês acreditam que ainda vale a pena lançar um “cd físico”? Acredita que em um futuro próximo o Streaming será uma realidade mais do que já é nos dias atuais?

Jônatas: Hoje em dia lançar CD, não é tão vantajoso se formos pensar em lucros financeiros, mas temos que respeitar é pensar no headbangers, pois eles não são qualquer um não. O headbanger é um cara que ainda gosta de ter em casa o CD da banda que curte, de adquirir material de bandas novas que saca em show, é vantajoso e importante para nossa cena. Eu consumo os streaming de música, até porque termino não ocupando memória do celular com os mp3 convertidos dos CD’s e dos baixados, pois agora temos as plataformas para quando saímos de casa, o que não impede de ninguém ter a sua coleção de CD’s para escutar em casa. O problema que vejo é que até mesmo os aparelhos eletrônicos estão deixando de ser fabricados com leitores das mídias físicas, hoje tudo é pendrive e wifi, vejo o fim do CD físico não por conta das bandas ou do público, mas sim por conta dessa imposição mercadológica.

Te fiz a pergunta acima por que não vi nada de vocês relacionado a um “single” por exemplo, divulgado nas plataformas digitais, antes do lançamento físico. Como muitas bandas fazem ultimamente. É a realidade atual, né? Vocês vão postar esse trabalho nas plataformas digitais em breve?

Jônatas: Não lançar o material primeiramente de forma digital foi uma escolha da banda, visto que como somos da velha escola do metal da morte, somos também da velha escola que é importante que as pessoas adquiram material físico. Fora que temos uma arte muito foda do ilustrador baiano Emerson Maia e um trabalho gráfico fantástico de Alcides Burn, que já faz várias capas para bandas consagradas nacionalmente e banda gringas, ai lhe pergunto como não querer privilegiar algo assim? Então esses foram os motivos que não fizemos o lançamento digital primeiro, mas a partir do dia 26 de outubro deste ano, já pode ser encontrado o disco na integra em várias plataformas digitais como: Spotfy, Deezer, ITuner, Amazon entre outras que não são tão conhecidas como essas. Só é procurar por “Final Creation” ou o nome do disco “In the valley of death”, vai ser muito fácil de encontrar.

Vocês têm acompanhado a cena underground brasileira? E quais bandas tem chamado atenção de vocês e que tem o apoio da banda e indicaria aos nossos leitores?

Jônatas: Acompanho o underground brasileiro sim, mas na medida do possível, até porque é muito lançamento para acompanhar, então muitas coisas terminam passando batido. Tem várias bandas que curto bastante e indico também a quem tá lendo, muitas dessas são até bem conhecidas. Aqui vai algumas das bandas: Escarnium, Vazio, The troops of doom, Jupiterian, Pesta, Infested Blood, Inherence, Labirinto, Open the Coffin, Surra, Desalmado, Necrohunter, Rotborn, Cerberus Attack, Corporate Death, Armum, Daimonos, Torturizer e Crypta. Essas são algumas das bandas que deixo como indicação e que curto também.

Como anda a agenda de vocês? Tem alguma tur marcada para esse último semestre de 2022 ou algo para o próximo ano ?

Jônatas: A nossa agenda está um pouco vazia nesse momento, para não dizer que não temos shows programados para o final do segundo semestre de 2022, o que tivemos foi a show de lançamento do “In the Valley of Death” agora no dia 16 de julho e voltamos com tudo para o estúdio, tanto para os ensaios como para a produção de músicas novas, como isso terminou que deixamos um pouco de lado os shows dessa segunda metade do ano, mas para o ano de 2023 não ter tur ainda, mas já temos o primeiro show marcado para o dia 27 de janeiro em Recife mesmo, com as bandas Escarnium, Goth e Open the Coffin, mas estamos nos preparando para possíveis show nesse primeiro bimestre de 2023. Estamos disponíveis!

Gostaria de saber a sua opinião sobre a trindade do Death Metal brasileiro e que estão aí desde do final dos anos 80 até os dias atuais na luta e levantando a bandeira do metal da morte nacional. O que acha do Headhunter DC, Embalmed Souls e do Corpse Grinder?

Jônatas: Sobre a trindade da morte não tenho muito o que falar não. São bandas que dá muito gosto de escutar, como também tenho muita vontade de um dia poder dividir palco com elas. São bandas que inspiraram diversas bandas e continuam inspirando. Elas são símbolos e exemplo dentro do underground nacional, de perseverança, luta e qualidade, são fodas de mais.

Além dessa grandiosa “trindade do death metal brasileiro” você acredita que teremos bandas levantando a bandeira do metal da morte e que terá uma carreira de respeito e longínqua na cena nacional como essas que citamos, no futuro?

Jônatas: Eu acredito que sim, pois temos bandas muito boas hoje na cena extrema brasileira. Eu mesmo acredito que já são hoje uma das melhores bandas nacionais o Escarnium e coloco minhas fichas nela, ela vai seguir por longínquas décadas. Vejo o Rotborn como um grande potência para seguir nessa mesma trajetória. Falei dessas duas, mas acredito que tem bem mais e algumas estão na lista de bandas que citei anteriormente.

Jônatas é o final da criação, é o final da entrevista! Obrigado pela conversa. Considerações finais suas. Abraço & força – sempre !!!

Jônatas: Walter, novamente agradeço muito esse convite, foi um prazer enorme responder a todas 13 perguntas feitas. Quero dizer que a Final Creation com o lançamento do debut “In the Valley of Death”, galga voos mais altos dentro do cenário underground brasileiro, mas que não vamos dar moleza e pro isso já estamos nos preparando para o quanto antes estar lançando material novo. Vida e honra ao metal da morte e ao underground nacional e por fim, para quem não puder adquirir o material físico da Final Creation, reforço que ele se encontra disponível nas principais plataformas de streaming, é só procurar. Valeu mesmo meu velho e um grande abraço!!

Ouça abaixo a faixa “Caronte”, presente no álbum da banda.

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