CD/EP/LP

ETERNAL SOLITUDE – The Gates of the Beyond (CD 2023)

ETERNAL SOLITUDE (Brasil)
“The Gates of the Beyond” – CD 2022
Eclipsys Lunarys Productions – Nacional
9,5/10

Ainda que a própria banda e demais fãs os coloquem dentro de uma categoria voltada ao death/doom metal, ao ouvir esse álbum “The Gates of the Beyond”, fico pensando se realmente eu ouvi a mesma banda. Sim, os dois estilos citados estão presentes e são uma parte importante do trabalho criado por esse grupo, que tem suas origens em 1995, mas o som do ETERNAL SOLITUDE vai muito além em termos de cores e camadas.

A primeira faixa desse debut álbum, “Suffocated by Fear” é uma grande composição que abraça muito uma textura do black metal sinfônico, com partes rápidas, riffs cortantes e um uso muito bom dos teclados para criar a atmosfera necessária. As linhas melódicas tem algo muito latente do black metal grego e do norueguês, de bandas como o Dismal Euphony. Música realmente excelente. A próxima faixa mantém essa qualidade com a incrível “Unholy Flames”, uma faixa que se mantém rápida em muitos momentos, mas que tem uma pegada melódica belíssima. Mais uma vez o black metal sinfônico com uma roupagem doom metal me parece o estilo mais apropriado para descrever essa composição.

Quando “Death Wish” inicia o doom metal reina supremo, mas ele não se mantém e abre espaço para uma brutalidade controlada, que ao se aliar à melodia das guitarras, cria um efeito hipnótico no ouvinte. Não seria exagero construir um elo de ligação entre o que eles fizeram aqui e vários momentos do velho Dimmu Borgir. Acho que o que o ETERNAL SOLITUDE acertou imensamente foi criar essa mistura entre o melódico, o peso e a velocidade. Tudo acaba soando muito orgânico e de extremo bom gosto. Não há como não fechar os olhos e viajar no clima criado nessa composição.

As próximas são “Dark Pasage” e “The Last Breath”.  A primeira tem uma grande energia que emana de sua execução. Não é tão rápida quanto as anteriores, mas também não pisa totalmente no freio. Há realmente algo do metal extremo grego presente no DNA dessas músicas e isso as faz ainda mais interessantes. O lado doom metal da banda aflora nas melodias e nas cores que se imprimem nas notas utilizadas.  Já a segunda vai no caminho mais pesado e melancólico da proposta do ETERNAL SOLITUDE. É uma das músicas mais climáticas do álbum. É emocional e poderosa. A parte em que vocais cantados em português começam soa muito interessante.

“Cruzes em Chamas” é uma faixa que me deixou em conflito, pois ao mesmo tempo que me agradou imensamente em sua construção instrumental, não me convenceu totalmente no que diz respeito à vocalização em português. Pelo menos não em toda a faixa. No geral o resultado é excelente, mas há algo que eu não achei tão interessante. Mas obviamente isso não faz dessa uma faixa ruim, longe disso. Adorei o clima épico criado, principalmente na parte onde há pequenos arranjos de guitarra que soam quase como solos. O uso do português me trouxe à mente os brasileiros do Miathenia em alguns momentos.

Uma das melhores músicas do álbum é a pesadíssima e bela “Hopeless”. Que clima grandioso foi criado aqui com o uso do teclado. Não há muito o que falar de uma música como essa, pois a melancolia criada aqui só pode ser percebida com uma audição da música em si. Ouça e lembre-se dessas palavras. Na mesma pegada segue “Gates of Punishment”, apostando em uma construção progressiva de uma atmosfera épica e extremamente emocional. Outra faixa a ser destacada com toda a certeza.

“My Funeral Winter Day -I” trabalha muito bem com o uso do piano e o peso em torno dessa camada orquestral. O que me agradou muito foi que você sente a música nos seus ouvidos, não apenas como notas sendo executadas, mas como uma força, uma massa musical quase palpável em torno de um profunda dor.   “My Funeral Winter – II” complementa a parte I da composição com uma abordagem instrumental focada nas orquestrações, no teclado. Soa como um trecho de uma trilha sonora de um filme. Tiro o chapéu para quem compôs essas linhas. São realmente incríveis.

O álbum vai ser aproximando do final com a poderosa faixa “Tenebrarum” que é uma força épica com um peso enorme e que me lembrou os discos clássicos do Bathory. A atmosfera criada tem similaridades com aquelas grandes faixas da era viking e as faixas mais lentas dos outros álbuns. Com certeza é música que mais gostei.

As próximas duas faixas “Slowly Dying” e “Sentenced to Die” (ambas originalmente de 1999 e regravadas em 2019) afastam o rótulo death/doom. São duas músicas rápidas, melódicas e soam realmente black metal. Ambas poderosas. O álbum é finalizado com a versão da banda para a música “I of Forever”, cover dos gregos do Elysian Fields, que faz o ouvinte compreender muito da sonoridade do próprio ETERNAL SOLITUDE. Há uma proximidade estilística muito grande e essa versão fecha com louros um debut álbum realmente matador. 

1.       Suffocated by Fear

2.       Unholy Flames

3.       Death Wish          

4.       Dark Pasage         

5.       The Last Breath

6.       Cruzes em Chamas        

7.       Hopeless

8.       Gates of Punishment

9.       My Funeral Winter Day – I        

10.     My Funeral Winter Day – II        (instrumental)

11.     Tenebrarum

12.     Slowly Dying

13.     Sentenced to Die

14.     I of Forever (The Elysian Fields cover)

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