CD/EP/LP

ENCHANTMENT – Cold Soul Embrace (2022)

ENCHANTMENT (Reino Unido)
“Cold Soul Embrace” – CD 2022
Transcending Records/Cosmic Key Creations – Importado
9/10

Vinte e Oito anos se alojam entre “Dance The Marble Naked” — disco de estreia do ENCHANTMENT e “Cold Soul Embrace” — seu há muito aguardado, segundo álbum. O Registro de oito composições foi finalmente lançado hoje pela Transcending Records (em CD) e pela Cosmic Key Creations (em vinil).

Nome de culto dos anos 90, o inglês ENCHANTMENT retorna fiel às suas raízes, ainda bebendo da icônica “Peaceville Three” — My Dying Bride, Paradise Lost e Anathema, mas não embriagado apenas dela, os tempos são outros, e a banda parece ajustada aos mesmos. Seu novo lançamento balança elegantemente como um pendulo entre a sua própria memorabília e os efeitos da modernidade. O repertório, a beleza da capa, o cardápio de melodias e o acervo de riffs dizem clássico, mas a produção, suas texturas e acabamentos pronunciam a atualidade. Vamos ao disco (aguardado por mim desde o ano passado). E um muito obrigado ao Requiem (Lacrima Mortis) por tornar essa resenha possível (foi meu presente de aniversário).

As Greed As The Eye Beholds” abre trabalho com muito peso e vigor sonoro. Progredindo entre seções melodiosas e parenteses abertos a velocidade. O baixo exibe personalidade, as guitarras são potentes, embora sóbrias. Os vocais estão ajustados aos humores da composição — com mais espaço para os guturais — as partes limpas surgem ocasionalmente, melancólicas e convincentes. O uso dos teclados é inteligente e confere um charme atmosférico e nostálgico a mesma, principalmente em seus últimos minutos. A envolvente “A Swanlike Duet” é mais voltada à face clássica do Death/Doom Metal. Seus quase cinco minutos se baseiam num contraste ideal entre peso, melodia e avanços rítmicos. Pseudo simples,  mas grandiosa ao contexto do álbum. “Painting Amongst The Feathers” explora quebras estruturais e arranjos irretocáveis. Oscilando entre momentos cadenciados e agressivos, claro que sem abdicar do peso. O vocalista Paul Jones entrega uma de suas melhores performances justamente nela. Simplesmente épica! “Of Glorious Vistas Forgot” inicia-se com arcos e alegorias sinfônicas, e logo desvenda-se numa dicotomia entre minúcias sofisticadas e inquietações rústicas.

The Wake Of The Hollering Tide” é um breve parágrafo instrumental, que combina melodias acústicas com guitarras repletas de sensibilidade e ambientações marítimas. Pena ser tão efêmera, contudo, ainda sublime. “In a Cello-Felt Glare” conjura um dos períodos mais ferozes do álbum — ainda que explore o mesmo território das faixas anteriores e o mesmo jogo de luzes e sombras — velocidade e recolhimento. “The Beauty Of Liars” acerta tanto na brutalidade quanto na ambientação sombria e caótica. Um pouco deslocada dentro do registro, é fato, mas funcionando bem no ambiente pouco mutável proposto pela banda. Por fim, “One Jump Of The Sun” — o derradeiro selo desse esperado e triunfal retorno. Uma revisita aos elementos dispostos no decorrer do disco, as mesmas variações e o mesmo entrar e sair de ritmos. Destacando também o talento dos guitarristas Marc Gibson e Steve Blackmore, o empenho vocal de Jones e os desenvolvimentos do baterista Aiden Baldwin.

“Cold Soul Embrace” é inevitavelmente nostálgico, todavia, não preso ao passado, ao menos não totalmente. Seus mais de 43 minutos foram bem aproveitados e isso por si só já é ótimo. Os discos lançados atualmente (não todos e sem generalizar, óbvio), soam demasiadamente cansativos. Ora excessivamente longos — ora verborragicamente pretensiosos em suas tapeçarias instrumentais. “Menos é mais” é um clichê clássico, mas necessário, às vezes. O ENCHANTMENT regressa revigorado, sentimental e disposto a conquistar seu lugar de direito no panteão das grandes bandas de Doom Metal. Suas velhas engrenagens finalmente voltaram a girar, besuntadas em porcentagens iguais de nostalgia e modernidade. Que esse não seja apenas o segundo álbum, mas o segundo capítulo de muitos outros.

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