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DOOMSDAY FEST – Pain of Souls, Eternal Sorrow e Helllight – Curitiba/PR

Doomsday Fest – Pain Of Souls (SC) Eternal Sorrow (Curitiba), Helllight (SP)
Local – 92 graus-Curitiba/PR
Data – 06/07/2024
Fotos By – Mariana Fernanda

Fim de semana de correria, frio e chuva. Nós que amamos o underground e poder ir em dois eventos muito bons e bem organizados no mesmo fim de semana não tem preço! Porém, nós moramos no litoral catarinense e o primeiro show foi na cidade de Joinville (180 km) e o segundo em outro estado, na cidade de Curitiba (300 km), e mesmo assim nós nos organizamos e fomos.

O problema é que não temos mais vinte anos e o corpo cobra: cansaço, privação de sono, estrada e má alimentação. Saímos de Joinville, embaixo de chuva, (SC) às 13 horas e chegamos por volta das 15h30min em Curitiba, o tempo nublado e um frio intenso. Comentei com a minha amiga de estrada, Mariana Fernanda: clima perfeito para um show de Doom Metal! Fomos para o hotel, tomar um banho, descansar já que na noite passada, após show do Sinister (Bélgica), dormimos pouco. Saímos comer algo e dar uma volta pelo centro da capital paranaense e a noite foi caindo e o frio foi ficando cada vez pior…

Chegamos no 92 graus às 19 horas e o bar estava fechado. No cartaz, marcava que o evento e o bar estariam com suas portas abertas às 18 horas em ponto. Talvez a única crítica para o evento. Fomos dar um rolê no Largo da Ordem, tradicional ponto de encontro de boêmios na capital paranaense, e encontramos minha querida amiga, Amanda Rafaela, para dar um abraço nela e tomar um chopp com ela e o Allan e acabamos encontrando outros amigos, que não nos víamos há algum tempo. 

Voltamos para no 92 graus e o frio intenso estava demais e as brumas caem sobre Curitiba. Entramos na casa e os  catarinenses do Pain Of Souls já estavam se preparando para iniciar o seu show e foi perfeito, como sempre! 

Daniele Martendal, vocal lírico, Joel Sebold, guitarras e vocal gutural, Mailon Bugmann, guitarras, Aline Bonates, baixo e Eduardo Follmer, na bateria, trouxeram um clima de tristeza e desolação que combinaram perfeitamente com o frio Curitibano e seu Gothic/Doom Metal com muita qualidade, peso, belas melodias e vocais angelicais contrastando com vocais cavernosos e assustadores, deixaram todos na casa felizes.

O setlist deles foi focado no próximo disco de estúdio que está para sair em breve chamado: “Grey Bird Melody”, gravado nos estúdios Hurricane, em Porto Alegre (RS) com produção de Sebastian Carsin, e os dois singles lançados nas plataformas digitais: “Pharaoh’s Funeral” e “Bitter as Bad Wine”, nos deixaram com uma boa expectativa e esse disco promete muito para a cena brasileira de Gothic Doom Metal. Abriram o show com as músicas “Madness Maze”, “Climbing”, “Bean Of Light” e “Pharaoh’s Funeral”. E o bom público presente já recebeu a banda de braços abertos e aplaudiu muito a banda! Composições muito bem elaboradas e trabalhadas! “Pharaoh’s Funeral” deixou o público de boca aberta, tamanho bom gosto dessa música e suas influências de música árabe, que casaram perfeitamente com o instrumental. Coisa linda! Essa faixa no instrumental tem uma vibe bem Heavy Metal, com uns vocais mais agressivos e com certeza tornará-se um clássico da banda! Lá fora, um frio intenso e dentro do 92 graus, o clima era de melancolia, mas com um calor humano e as sinfonias fúnebres continuam com as faixas: “Grey Bird Melody”. Guitarras pesadas, baixo dando peso e consistência, uma bateria poderosa e os vocais guturais de Joel contrastando com os vocais de Daniele que dão um clima perfeito.

A próxima música é “Past Winters” que Dani e Joel explicaram que ela foi composta em homenagem aos anos 90 e toda aquela união que existia na época do nosso saudoso “templo catarinense do metal” o nosso Curupira Rock, na cidade catarinense de Guaramirim, essa casa de shows fez história no submundo sulista. Grande música! E fechando com a única faixa do passado, “The Rustle of the Leaves”, que dá nome ao último álbum de estúdio lançado em 2013 e que fez a alegria de nós que gostamos e admiramos o trabalho dos “doomers catarinenses” e estamos esperando ansiosos pelo novo trabalho. A banda saiu muito aplaudida do palco e com um show matador!

A próxima banda é o Eternal Sorrow comemorando trinta anos de história no submundo e todos eles dedicados ao Doom Metal. Antes de iniciar a resenha, vou fazer uma pequena introdução aqui, se os amigos leitores me permitirem. Minha história com fanzine está ligada aos curitibanos. Lá em 1996, eu era um garoto que estava há uns cinco anos habitando o underground e descobrindo o submundo, correndo atrás de bandas e fanzines para minha coleção e para me manter informado. 

Em uma época sem internet, as informações eram difíceis de chegar, imagina descobrir bandas do submundo e pior ainda ter acesso a material físico. Mas éramos arqueólogos do underground e queríamos pertencer a ele e fazer a roda girar. Eu e meu amigo e irmão de coração e alma, Jeff Menzen tentamos montar uma banda chamada: Dark Souls, que nunca saiu da garagem. Até porque éramos péssimos músicos, ou melhor, nem perto disso chegávamos.(Hahaha) Uma noite, bebendo vinho barato e nós dois frustrados, meu amigo chegou e disse: vamos montar um zine!? Ele montou o Azathoth Zine e eu o ajudei na divulgação e tal. Na segunda edição, ele me convidou para fazer parte da staff e eu aceitei, e na época nós estávamos descobrindo o Doom Metal através da “trindade inglesa” Anathema, Paradise Lost e My Dying Bride.

Logo depois descobrimos as bandas brasileiras: Silent Cry, Lugubrious Hymn e Eternal Sorrow. E foi amor a primeira nota melancólica. Na época, o Eternal Sorrow tinha lançado o Debut-álbum: “The Way Of Regret” (1998) pelo selo mineiro Demise Records. Entrei em contato via cartas e os curitibanos foram minha primeira entrevista no underground lá na segunda edição do Azathoth Zine, que saiu no inverno de 1999, mas os trabalhos começaram em 1997 e todos nós que vivemos aquela época sabemos como era difícil e demorado fazer um zine no underground. Isso posto,sem mais delongas vamos à resenha do Eternal Sorrow. Infelizmente, apesar de acompanhar a banda desde os anos 90, eu nunca consegui vê-los ao vivo. Já fizeram alguns shows em Santa Catarina. Mas por trabalho ou por falta de grana ou outros imprevistos, não dava para ir. Mas eu acredito que tudo tem sua hora e razão para acontecer. 

Os doomers curitibanos subiram no palco com: Maurício Pampuch (baixo e vocal), Adriano de Moraes (bateria), Rodrigo Viana Bueno (guitarra) e Eduardo França (guitarra). Depois do show grandioso dos catarinenses do Pain Of Souls e seu Gothic Doom Metal, era a vez do Eternal Sorrow mostrar seu Doom Metal tradicional e trazer um pouco de calor aos nossos corações que estavam congelados com o frio curitibano. Sob uma intro a banda sobe no palco e já manda a música: “Dunes” de 1995 e é bem recebida pela plateia presente. E nós queríamos ouvir músicas de um dos melhores discos do estilo dos anos 90, lançado no Brasil, e eles mandaram: “Eternal Sorrow”, faixa que abre o clássico “The Way Of Regret” (1998). E outras três faixas desse disco e tome hinos de tristeza: “Final State Of Depression”, “Funeral Waltz” e “Dreams Of Reality”. Não tem como não lembrar dos anos 90 e a sensação de ouvir pela primeira vez ao vivo uma banda de que você gosta muito, muito mesmo! 

Fiquei petrificado na frente do palco ouvindo cada melodia do vocal gutural, cada riff e bases  de guitarras, cada nota e  cada passagem dessas músicas. Muito peso, guitarras arrastadas, fúnebres e um clima soturno, desespero e um vazio na alma. A próxima é “Ashes” que saiu na demo tape: “Sadness Elevation” (1995) que foi eleita na época do seu lançamento como a melhor demo tape em Portugal em 1995. A faixa é carregada de peso e vocais mais etéreos, com um instrumental mesclando o peso do Death Metal, passagens atmosféricas e viajantes.

Outra faixa da clássica demo tape de 1995,  “To Perpetuate My Distance” e “Ammanda These”. Que sensação maravilhosa de ouvir essas duas músicas ao vivo. É uma viagem profunda dentro de nossas mentes e espíritos. Tudo aqui é cinza e nublado. 

Guitarras viajantes, pesadas e riffs que colam na sua mente e você só vai sentindo o poder da música e suas poderosas melodias tristes. Talvez a única crítica foi a banda não ter um tecladista ao vivo para o show do Eternal Sorrow ser impecável. O Doom Metal que eles fazem tem várias passagens deste instrumento e que deixaria tudo mais carregado e sombrio, com um tecladista ao vivo. 

Mas depois do show, conversando com o Maurício, ele me disse: Waltinho o Fernando Nathanael (ex- tecladista) foi morar no Nordeste do Brasil e aqui em Curitiba é muito difícil encontrar um tecladista que queira tocar e viver em uma banda do Underground.  Deixando claro: que mesmo sem o teclado, o show deles foi maravilhoso!

A banda volta ao clássico álbum deles e faz algo com extrema intensidade na faixa: “Lonely Sufference” uma das melhores composições dos curitibanos na minha opinião. Eternal Sorrow entrega músicas e um show carregado de lugubridade, lento, pesado, viajante e atmosférico, toca sua alma e os caras fazem isso com uma presença de palco poderosa e com técnica apurada. A banda fez um trabalho maravilhoso com o peso da bateria, o baixo explodindo nas caixas de som e as guitarras viajantes e pesadas. Os vocais de Maurício Pampuch é algo carregado de melancolia e sentimentos de desespero. 

Fechando o set deles e lembrando que nossas vidas são uma dor eterna, mas que a música, a arte e a cultura estão aí para nos sentirmos bem e o Doom Metal tem esse poder de nos fazer questionar sobre a vida e pensarmos sobre nossas experiências e nossa existência. “Shroud” fechou com chave de ouro a apresentação dos curitibanos. Senti falta de uma ou duas músicas do último álbum de estúdio deles, o espetacular e soturno “The House” (2015) .Mas foi uma honra e uma sensação única de ver e ouvir o Eternal Sorrow pela primeira vez.

O último funeral da noite era dos paulistas do Helllight e meus amigos, que show fúnebre, melancólico e triste. O trio soturno é formado por:  Fabio De Paula, guitarra, vocal, Renan Bianchi, na bateria, e Alexandre vida, no baixo. Iniciaram o show com a música: “Dying Sun”, do último álbum de estúdio “Until the Silence Embraces” de 2021.

O segundo hino lúgubre é uma faixa nova que sairá em breve, no novo lançamento da banda e que música carregada de melancolia e peso, é “Echoes Of Eons”. O público presente abraçou a banda e ficou encantado com a presença de palco da banda.

Apesar de músicas longas com mais de dez minutos, soturnas, carregadas de peso, crueza, passagens lentas e sombrias, o público curtia intensamente o show. A banda executa: “Dead Moment” e “While The Moon Darkens”. Como já dissemos, as músicas longas não cansam o público, já que quem estava na pista sabe e conhece o estilo Funeral Doom e gostam do estilo, exatamente por suas viagens longas e climas atmosféricos. Com guitarras bem executadas, pesadas, um baixista que tem presença de palco e o baixo segura o peso e os graves com muita maestria e bom gosto. 

Bateria precisa com momentos de muito peso, rapidez e cadências. Os vocais urrados e mesclados, com vocais limpos, assombrados e lúgubres, que nos levam para o abismo e entram no fundo da alma tamanha tristeza. O funeral está chegando ao seu fim com mais uma música nova que sairá no próximo lançamento, “As The Daylight Fades” e me lembrou os ingleses do Anathema da época que eles sabiam fazer música e tinham orgulho de ser “doomers” e me remeteu ao clássico “Serenades” (1993), porém os paulistas fazem um som  muito mais arrastado, muito mais sorumbático, muito mais sombrio, muito mais tenebrosa, é sua composição. 

O Helllight não é cópia dos ingleses e sim o Anathema é uma influência e os paulistas têm muita identidade e já estão na labuta no submundo desde 1996 com muitos álbuns lançados e inclusive saíram lançamentos deles na gringa, e já fizeram tours no velho continente. Influências fazem parte de qualquer banda de metal e além do Anathema existem também algo do velho My Dying Bride, entre outras influências, no desgraçado e melancólico funeral Doom do Helllight. A performance dos paulistas foi muito prestigiada e saíram do palco aplaudidos e o público pedindo bis, porém não retornaram para o encore. É tão bom para nós doomers, que gostamos das melodias fúnebres, arrastadas e soturnas, assistir a um evento com três vertentes do estilo: o Gothic Doom, Doom Metal tradicional e o Funeral Doom em uma noite fria na capital paranaense.

O juízo final é real, a dor da alma é inevitável, a luz do inferno nos ilumina, a tristeza é eterna! O Doom Metal é a prova que o submundo é forte e que o estilo Doom Metal e o arrastar de correntes evoluiu com ótimas bandas do passado fazendo ainda sua parte, fazendo shows memoráveis, lançando material e existem também bandas contemporâneas levantando a bandeira do estilo e mostrando que o movimento da música soturna cresceu desde os anos 90, com um bom público apoiando e existem poucos festivais ainda, mas felizmente tem um ou outro, voltado para o estilo, mas que felizmente tem pessoas fazendo a roda girar, tem público e o Doomsday Fest foi a prova disso. Stay Doom 

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