Entrevistas

DIVINE PAIN – Violência e dor representadas pelo metal da morte

Danilo Coimbra – Saudações a todos, é com muita satisfação que venho aqui falar do DIVINE PAIN para todos vocês. Sim, o projeto foi montado por mim, e no primeiro momento eu fazia tudo (Guitarra, Vocais e Baixo), sendo a bateria montada de forma eletrônica por mim. O EP “…Tomb of the Sun” eu fiquei muito satisfeito com o resultado, onde teve a participação dos vocalistas Lord Vlad (MALEFACTOR) e Sérgio Ballof (HEADHUNTER DC). Nesse Ep eu tentei buscar um som mais cru e direto, tendo uma influência no Death Metal dos anos 90, onde foi minha escola. Fizemos 100 cópias e todas foram vendidas rapidamente, me dando mais ânimo e força para continuar o projeto. Fora a excelente repercussão nas mídias especializadas.

Danilo Coimbra

Danilo Coimbra – Sim, queria que o EP causasse impacto nos ouvintes. Tanto o Lord Vlad como o Sérgio Ballof são meus irmãos de muitos anos. Vlad eu toco com ele na MALEFACTOR  a mais de 30 anos, então não tenho nem o que comentar ( risos) e Sérgio, além de ser fã do Headhunter desde moleque, sempre admirei a forma dele se expressar nas músicas… tanto como compositor como vocalista, e agora como componente também do Headhunter DC, vejo o quanto ele é talentoso e sabe o que faz. No começo do projeto do DIVINE PAIN nunca tinha pensando em chamar eles para se efetivar na banda pois ainda estava pensando eu mesmo cantar. Mas percebi que meu negócio é mesmo compor e tocar guitarra(risos)

Danilo Coimbra – …Tomb Of The Sun eu comecei as gravações no meu home estúdio. Hoje com o avanço tecnológico conseguimos atingir resultados muito bons em relação a timbragem, captações e sonoridade. A gravação dos vocais e masterização ficou a cargo de Gera Cravo. Produtor onde a MALEFACTOR gravou os discos BARBARIAN e CENTURIAN. A capa do “Tomb Of The Sun” foi criada por Lord Vlad. Eu particularmente adorei, pois era isso que eu realmente queria… uma coisa simples, porém sombria.


Danilo Coimbra – O full length “Immortality” foi lançado por 3 gravadoras. A Mutilation, Eternal Hatred e a Rising. A arte foi toda feita pelo mestre das artes Alcides Burn. Nesse trabalho, logo depois do lançamento do EP, e com o sucesso que ele fez, eu já comecei o processo de composição. Comecei a gravar no meu Home e também no Home, estúdio de Júlio, guitarra da banda Veuliah. Júlio foi o meu produtor musical, onde todo o trabalho de edição e masterização foi feito por ele. As letras foram feitas por Roberto Souza (ex -baixista do MALEFACTOR). Passei minhas ideias para Roberto na época e ele entendeu todo o contexto que eu queria atingir… soando realmente um trabalho mais agressivo e brutal.

Danilo Coimbra –  Bom, estamos já em negociação com 3 selos para lançarmos esse novo trabalho. 99% de chances de lançarmos. Estamos só esperando o trabalho gráfico ficar pronto para que possamos bater o martelo. Em relação a demora de lançarmos um novo trabalho, foi pelo fato de vários acontecimentos. Primeiro a pandemia que atrasou 2 anos nossas negociações… pois nem sabíamos que o mundo voltaria ao normal( risos). Segundo, a vocalista que eu tinha colocado na banda a Tati Klingel, que chegou a gravar conosco um single “ Scarlet” pediu para sair da banda por problemas pessoais e com isso fiquei sem vocalista para gravar as músicas que já estavam todas prontas. Foi aí que conversando com Alcides Burn ele falou de Fábio Brayner que estava já há um tempo parado, sem cantar, mas que toparia esse novo desafio. Então imediatamente entrei em contato com ele… pois eu já era um grande fã do seu vocal nas bandas SANCTIFIER e no AS THE SHADOWS FALL e ele aceitou esse novo desafio. Com isso ele gravou todos os vocais desse novo trabalho “Destructive Measures” e fiquei muito feliz com o resultado…AGUARDEM!!

Danilo Coimbra – Apesar da distância, nos falamos sempre que necessário. Acho que, como o Divine Pain é composta com componentes maduros e experientes no Metal, todos nós já sabemos exatamente como agir, como fazer as coisas acontecerem. Essa experiência também se reflete nas músicas e composições, que facilitam esse nosso entrosamento. Recentemente nosso baterista saiu, o Daniel Falcão ( Headhunter DC, Malefactor e Insaintfication ) e com isso chamei um novo veterano do Metal nacional Iaçanã  ( Ex : Headhunter dc, Zona Abissal, The Cross, Trashmassacre…) responsável por gravar um clássico do Death metal nacional ( Born..Suffer..Die…do Headhunter DC) onde ele aceitou esse meu convite e fiquei muito feliz com isso… Espero poder levar esse grande time aos palcos um dia. Em relação aos outros componentes terem suas bandas principais e a atrapalharem os trabalhos do Divine Pain, isso não acontece. Pois deixei bem claro que o Divine Pain é um projeto que visamos, nesse primeiro momento, consolidar o nosso nome no mercado nacional. E como eu falei anteriormente, a tecnologia hoje nos favorece em sempre estarmos conectados uns com os outros, aqui e no mundo todo. Então isso nos favorece também em nossas composições… e reuniões quando temos algo a discutir.

Fábio Brayner


Danilo Coimbra – Sim, hoje somos uma banda com quatro componentes. Ainda penso em colocar outra guitarra, para futuros shows ao vivo. Tocar com Iaçanã pra mim sempre foi fantástico, além de ser um ótimo músico sempre foi uma pessoa divertida de se conviver. Já tive a oportunidade de tocar junto com Iaçanã em um projeto de cover do Exodus, tocando o clássico “Bonded by Blood” na íntegra. Foi uma experiência inesquecível… com esse projetos fizemos alguns shows em Salvador como no interior e essa “liga” começou por aí…(risos). Nós do Divine Pain pretendemos, sim, tocar ao vivo. Mas para isso, como falei anteriormente, precisamos fortalecer o nosso nome, para que possamos tocar em shows com alguma estrutura que possa nos dar o mínimo de suporte. Pois todos nós já somos coroas ( risos).

Danilo Coimbra – O Metal e o Underground sempre irão existir, independe dos avanços tecnológicos da sociedade. Acho que temos que aproveitar esses avanços e tirar proveito; o que é de bom. Antigamente eu me correspondia através de cartas que demoravam 3 a 4 dias para chegar no destino que eu queria. Hoje com os meios avançados de comunicação podemos formar uma banda, onde os componentes, cada um mora em um estado (risos); hoje conseguimos gravar um disco dentro de casa… imagine ai…enfim, eu respeito o radicalismo saudável… pois no meu ponto de vista, é isso que ainda segura o Metal raiz. É isso que faz o Headbanger ainda usar roupa preta… casaco de couro…deixa o cabelo crescer…curtir fita cassete e Lp´s (agora crescendo novamente a procura…). Então fazendo um resumo, eu acho que essa nova geração de Headbangers devem aproveitar o que esse avanço tecnológico nos proporciona com um pouquinho de radicalismo…(risos).


Danilo Coimbra – Nunca deixará de existir a mídia física. Principalmente para colecionadores como eu…(risos). Na minha opinião, eu, até acho válido, a divulgação do trabalho das bandas nas plataformas streaming, pois acho uma boa ferramenta para divulgação de um trabalho de qualquer banda que esteja querendo demonstrar seu material musical. Mas acho que um trabalho de uma banda vai muito mais do que simplesmente a música. Existe também a atitude, a forma de pensar e a paixão pelo o que faz. Hoje qualquer banda consegue uma boa gravação, uma boa composição…mas nem sempre consegue uma postura que os fãs respeitem e procurem se interessar mais pela banda e seus trabalhos.

Luiz Magrão


Danilo Coimbra – A única coisa que me incomoda nessas produções modernas é que a maioria das bandas quando começa uma produção musical tentam buscar os mesmos timbres de outras bandas. Assim no meu ponto de vista todas as bandas acabam tendo a mesma sonoridade… diferenciando só na composição. Acho que independente dos meios de produção musical, a banda tem que ter postura (como falei anteriormente). Isso sim que irá fazer a diferença.  Eu sempre achei que um disco clássico, mesmo gravado em outras condições menos modernas (masterização, mix, etc) nunca se deve regravar novamente… Ehehe no meu ponto de vista fazendo uma regravação o material acaba perdendo a magia…

Danilo Coimbra – Eu também gosto e utilizo muito as plataformas de streaming. Exatamente para o que você falou: “conhecer bandas novas…”. Mas lá também existem bandas antigas, de todo o mundo. Que antigamente, antes de existir essas plataformas, era quase impossível de se conhecer. Sempre no meio do underground irão surgir novas bandas, umas por interesse e curiosidade e outras com atitudes; com isso o underground nunca irá deixar de existir. Essa nova geração tem tudo pela frente para fortalecer cada vez mais o underground. O que precisamos mesmo é nos unir, apoiando, indo a shows, comprando materiais das bandas que você curtiu, não só ouvindo ficar dentro de casa ouvindo som pelas plataformas digitais.


Danilo Coimbra – Fábio sempre foi uma pessoa fantástica. Eu ainda não o conhecia. Mas fui apresentado a ele no Sanctifier. Logo que ouvi eu fiquei impressionado pela forma dele interpretar as letras e também pela sua composição vocal.  Logo quando eu comecei o Divine Pain eu tentei fazer uma linha vocal nesse estilo, mas logo percebi que não conseguia (risos). Com o Divine Pain eu tive várias ideias de vocais, mas o que eu mais gostaria que fosse gravado era vocais mais gutural… Brutal… Fechado… Sempre achei que Death metal combina com essa forma de cantar. Então a entrada de Fábio no Divine Pain, pra mim foi uma grande honra.

Iaçanã Lima

Danilo Coimbra – Magrão é um cara fantástico. Eu acompanho os trabalhos dele e curto muito o álbum “The Grotesquery Ruins of Death”. Old School Death Metal como deve ser, vocal foda da banda!! Espero que um dia possamos tocar no mesmo palco…

Danilo Coimbra – No meu ponto de vista o underground sempre estará se renovando… Seja musicalmente como tecnologicamente. Cabe aos headbangers escolherem o caminho que querem percorrer. Como eu falei anteriormente, eu sempre apoiei o radicalismo inteligente. Acho que todos nós precisamos sempre dar valor à história do metal e das bandas que iniciaram essa jornada a muitos anos atrás sem qualquer tipo de tecnologia que temos hoje em dia. Me preocupa só a falta de apoio e comprometimento ao que você realmente escolhe , quando se torna uma headbanger.

Danilo Coimbra – Sim frequentei… O radicalismo era muito forte aqui. Em compensação não existiam muitos shows e com isso a cena não crescia. Existiam muitas brigas. Onde isso fazia o público se afastar da cena. Eu participei de muitas brigas, mas me arrependo de algumas… Acho que a violência não é caminho para o desenvolvimento. Hoje as coisas estão bem melhores, muitas bandas, muitos shows, mas poucas casas de shows em Salvador e também pouco apoio do público. Acho que essa nova geração prefere ficar em casa curtindo som ou fazendo não sei o que que sair para dar apoio a cena underground baiana. Também acho que acontece isso aqui em salvador pelo fato da cidade também estar muito violenta.

Fábio Brayner: A entrada no DIVINE PAIN se deu por intermédio do Alcides Burn, um grande artista brasileiro. Um dia ele me mandou uma mensagem pelo zapp falando que o DIVINE PAIN estava sem vocalista e perguntando se eu não toparia assumir o vocal da banda. Sinceramente eu não estava pensando em fazer nada nesse sentido, mas acabei deixando a porta aberta. Falei com ele que se eu ouvisse o som e curtisse poderia tentar ajudar sim. Quando ouvi alguns sons do material novo da banda eu achei muito foda e acabei topando. Conversei com o Danilo, guitarrista e criador do Divine Pain e ficou tudo fechado. Olha, em um primeiro momento fiquei um pouco inseguro em relação a como trabalhar com essa gravação. Primeiro porque não gravava vocais há mais de 20 anos e como não estava em nenhuma banda, fazia muito tempo que não fazia vocais. No início dos ensaios estava achando minha voz um completo lixo, mas depois foi ficando mais tranquilo. O que eu tive mais dificuldade no começo foi o fato de já haver todo um contexto criado para o álbum e eu simplesmente não conseguia produzir em cima disso. Foi quando conversei com o Danilo e concordamos que seria melhor começar tudo do zero, minha visão, minha interpretação daquelas músicas. Quando fiz isso a coisa andou mais rápido. Criei as letras e gravei minha parte aqui mesmo em Brasília.

Arte da capa do novo álbum, by Alcides Burn


Fábio Brayner: A minha entrada no Sanctifier aconteceu ainda antes do ATSF. Quando eu saí do Decomposed fiquei um tempo sem me envolver com música, mas surgiu um convite do Alexandre Emerson (guitarrista do Sanctifier) para entrar na banda. Porra, eu aceitei na hora, já que o Sanctifier é o responsável por uma das melhores demo tapes já lançadas nesse país e fazer parte daquilo seria incrível. Então entrei na banda e começamos a trabalhar. Em 2004 a banda lançou o debut álbum e foi incrível ter o nosso som finalmente em um CD. O As The Shadows Fall veio em um período em que o Sanctifier estava bem parado. Começamos a banda e o trabalho do ATSF se espalhou rápido, principalmente depois do lançamento da demo tape. Olha, em relação ao álbum do Sanctifier, acho o álbum realmente um trabalho muito foda, mas não fiquei satisfeito com a minha voz nele. Eu gravei o álbum bem doente e isso refletiu no meu vocal. Estava muito gripado e com a garganta detonada. Para mim, o meu vocal perfeito foi registrado em uma demo em cd-r lançada um ano antes do álbum. Mas infelizmente não rolou, mas sinceramente, acabou se tornando um álbum muito apreciado pela galera, então acho que o resultado final foi incrível.

Fábio Brayner: Sim, o As the Shadows Fall cumpriu seu papel dentro do período em que esteve ativo. Chegamos onde queríamos ? Com certeza não. O debut álbum, com as músicas que tínhamos na época, não viu a luz do dia. Mas fizemos nosso nome na cena black metal e extrema brasileira, tocamos muito e foi incrível. Sobre se a banda realmente acabou, isso aconteceu há 20 anos.  Ficamos ativos de 1996 até por volta de 2004 e a banda se separou. Hoje em dia cada membro mora em um lugar diferente: Brasília, Recife, São Paulo, Espanha, Canadá… não tem a mínima chance de unir todo mundo e voltar à ativa e sinceramente eu não quero fazer isso, nem se fosse possível. Minha vida, meus interesses e minha visão de mundo se alteraram muito e voltar com o ATSF não seria algo realmente verdadeiro.

Danilo Coimbra – Essa música é a única nessa pegada Death Doom. Eu queria muito fazer uma música nessa pegada. E com a pandemia isso ajudou. Esse momento fudido que passamos de muito sofrimento, dor, angústia, ódio, depressão, ansiedade…. Isso ajudou a compor uma música que remetesse a isso tudo. E consegui fazer transmitir esses sentimentos na música. Mas não se enganem, o restante do disco é uma pancadaria forte ( forte). Muito Death metal raiz. Estamos pensando em lançar outro vídeo clipe de outra música em breve… E esperamos que até o final do ano nosso disco possa ir para fábrica.

Fábio Brayner: Essa música realmente é a composição que foge do contexto musical do álbum, mas de forma alguma do contexto lírico. “A Path Into the Void” também retrata a seu modo a violência. Mas não a violência gráfica, física. Ela fala da dor da perda, das incertezas do fim e é uma composição que se tornou extremamente pessoal para mim, pois eu coloquei muito da minha própria dor de ter perdido o meu pai, em Dezembro de 2021. Essa música então se torna o veículo da minha própria dor e isso se refletiu na parte lírica e em como tudo foi feito. É uma música que me deixou muito impressionado com o resultado final.

Danilo Coimbra – Muito obrigado. Gostamos muito do resultado que está chamando atenção de muitas pessoas. Isso é um ponto muito positivo e significativo para nós.

Danilo Coimbra – Eu agradeço muito por esse apoio ao Divine Pain, esse projeto que eu tenho com muito orgulho. E também agradeço a todos os amigos e fãs que nos acompanham nessa jornada. Agradeço a você pela entrevista.   Espero um dia estar presente com o Divine Pain aí na sua cidade para um grande show… Grande abraço a todos…666!

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