Fomos trocar uma ideia com Danilo Coimbra, a pessoa por trás da banda Divine Pain de Salvador–BA, falando do novo lançamento “Destructive Measures” que será lançado em setembro de 2024 e também sobre a nova formação e planos futuros. O vocalista Fábio Brayner também participou do papo em algumas questões:
Saudações, Danilo Coimbra, seja bem-vindo ao portal The Old Coffin Spirit Zine. Você montou esse projeto em 2008 e logo em seguida lançou de forma independente o EP “…Tomb of the Sun”. Você escreveu todas as músicas e como foi que a cena underground e mídia especializada receberam esse trabalho?
Danilo Coimbra – Saudações a todos, é com muita satisfação que venho aqui falar do DIVINE PAIN para todos vocês. Sim, o projeto foi montado por mim, e no primeiro momento eu fazia tudo (Guitarra, Vocais e Baixo), sendo a bateria montada de forma eletrônica por mim. O EP “…Tomb of the Sun” eu fiquei muito satisfeito com o resultado, onde teve a participação dos vocalistas Lord Vlad (MALEFACTOR) e Sérgio Ballof (HEADHUNTER DC). Nesse Ep eu tentei buscar um som mais cru e direto, tendo uma influência no Death Metal dos anos 90, onde foi minha escola. Fizemos 100 cópias e todas foram vendidas rapidamente, me dando mais ânimo e força para continuar o projeto. Fora a excelente repercussão nas mídias especializadas.
Então, em termos de vocalista, você começou com o pé direito, hein!? Duas lendas do metal extremo brasileiro participando de seu primeiro trabalho. Como rolaram essas parcerias com Lord Vlad e Sérgio Ballof? E como foram os trabalhos com eles e por que não efetivou um deles no Divine Pain?
Danilo Coimbra – Sim, queria que o EP causasse impacto nos ouvintes. Tanto o Lord Vlad como o Sérgio Ballof são meus irmãos de muitos anos. Vlad eu toco com ele na MALEFACTOR a mais de 30 anos, então não tenho nem o que comentar ( risos) e Sérgio, além de ser fã do Headhunter desde moleque, sempre admirei a forma dele se expressar nas músicas… tanto como compositor como vocalista, e agora como componente também do Headhunter DC, vejo o quanto ele é talentoso e sabe o que faz. No começo do projeto do DIVINE PAIN nunca tinha pensando em chamar eles para se efetivar na banda pois ainda estava pensando eu mesmo cantar. Mas percebi que meu negócio é mesmo compor e tocar guitarra(risos)
Ainda sob “…Tomb Of The Sun”, você poderia nos falar mais sobre detalhes de produção e arte da capa? Eu achei a arte simples, porém tem muito a ver com a temática do Death Metal e criou algo bem sinistro e pesado.
Danilo Coimbra – …Tomb Of The Sun eu comecei as gravações no meu home estúdio. Hoje com o avanço tecnológico conseguimos atingir resultados muito bons em relação a timbragem, captações e sonoridade. A gravação dos vocais e masterização ficou a cargo de Gera Cravo. Produtor onde a MALEFACTOR gravou os discos BARBARIAN e CENTURIAN. A capa do “Tomb Of The Sun” foi criada por Lord Vlad. Eu particularmente adorei, pois era isso que eu realmente queria… uma coisa simples, porém sombria.
Em 2010, você lançou o full length “Immortality” e ele está na minha coleção e gosto muito! Ele é diferente das bandas que você participa, como o grande Headhunter DC e o Malefector. Ele é mais brutal, mais agressivo e com bons riffs, técnica e bateria com muitos blast beats. O que você pode nos dizer sobre tudo que envolveu esse trabalho: produção, capa, estúdio e criação das músicas?
Danilo Coimbra – O full length “Immortality” foi lançado por 3 gravadoras. A Mutilation, Eternal Hatred e a Rising. A arte foi toda feita pelo mestre das artes Alcides Burn. Nesse trabalho, logo depois do lançamento do EP, e com o sucesso que ele fez, eu já comecei o processo de composição. Comecei a gravar no meu Home e também no Home, estúdio de Júlio, guitarra da banda Veuliah. Júlio foi o meu produtor musical, onde todo o trabalho de edição e masterização foi feito por ele. As letras foram feitas por Roberto Souza (ex -baixista do MALEFACTOR). Passei minhas ideias para Roberto na época e ele entendeu todo o contexto que eu queria atingir… soando realmente um trabalho mais agressivo e brutal.
No Full Length você contou com três selos apoiando a banda. Em setembro (2024), você estará lançando o segundo trabalho da banda, “Destructive Measures”. Vocês já têm contato com algum selo para esse novo trabalho? Por que demorou quase 15 anos para chegar ao segundo trabalho?
Danilo Coimbra – Bom, estamos já em negociação com 3 selos para lançarmos esse novo trabalho. 99% de chances de lançarmos. Estamos só esperando o trabalho gráfico ficar pronto para que possamos bater o martelo. Em relação a demora de lançarmos um novo trabalho, foi pelo fato de vários acontecimentos. Primeiro a pandemia que atrasou 2 anos nossas negociações… pois nem sabíamos que o mundo voltaria ao normal( risos). Segundo, a vocalista que eu tinha colocado na banda a Tati Klingel, que chegou a gravar conosco um single “ Scarlet” pediu para sair da banda por problemas pessoais e com isso fiquei sem vocalista para gravar as músicas que já estavam todas prontas. Foi aí que conversando com Alcides Burn ele falou de Fábio Brayner que estava já há um tempo parado, sem cantar, mas que toparia esse novo desafio. Então imediatamente entrei em contato com ele… pois eu já era um grande fã do seu vocal nas bandas SANCTIFIER e no AS THE SHADOWS FALL e ele aceitou esse novo desafio. Com isso ele gravou todos os vocais desse novo trabalho “Destructive Measures” e fiquei muito feliz com o resultado…AGUARDEM!!
A banda voltou com uma nova formação: Fábio Brayner nos vocais, (Ex- Sanctifier, ex- As The Shadows Fall), Luiz Magrão (Convulsive, Godhum, Gorempyre) e além de você Danilo. Digamos que é “um dream Team” do metal extremo brasileiro. Como está o entrosamento de vocês na banda e todos vocês participam de outras bandas, e isso não vai atrapalhar os trabalhos com a Divine Pain no futuro?
Danilo Coimbra – Apesar da distância, nos falamos sempre que necessário. Acho que, como o Divine Pain é composta com componentes maduros e experientes no Metal, todos nós já sabemos exatamente como agir, como fazer as coisas acontecerem. Essa experiência também se reflete nas músicas e composições, que facilitam esse nosso entrosamento. Recentemente nosso baterista saiu, o Daniel Falcão ( Headhunter DC, Malefactor e Insaintfication ) e com isso chamei um novo veterano do Metal nacional Iaçanã ( Ex : Headhunter dc, Zona Abissal, The Cross, Trashmassacre…) responsável por gravar um clássico do Death metal nacional ( Born..Suffer..Die…do Headhunter DC) onde ele aceitou esse meu convite e fiquei muito feliz com isso… Espero poder levar esse grande time aos palcos um dia. Em relação aos outros componentes terem suas bandas principais e a atrapalharem os trabalhos do Divine Pain, isso não acontece. Pois deixei bem claro que o Divine Pain é um projeto que visamos, nesse primeiro momento, consolidar o nosso nome no mercado nacional. E como eu falei anteriormente, a tecnologia hoje nos favorece em sempre estarmos conectados uns com os outros, aqui e no mundo todo. Então isso nos favorece também em nossas composições… e reuniões quando temos algo a discutir.
Recentemente, vocês efetivaram o baterista Iaçanã Lima, ex- Headhunter DC, que gravou um clássico do metal da morte, o grandioso “Born…Suffer…Die……” (1991) Ou seja: a Divine Pain deixou de ser um projeto e virou uma banda, mesmo? Como é ter um baterista desse nível na banda e vocês vão cair na estrada para divulgar o novo trabalho?
Danilo Coimbra – Sim, hoje somos uma banda com quatro componentes. Ainda penso em colocar outra guitarra, para futuros shows ao vivo. Tocar com Iaçanã pra mim sempre foi fantástico, além de ser um ótimo músico sempre foi uma pessoa divertida de se conviver. Já tive a oportunidade de tocar junto com Iaçanã em um projeto de cover do Exodus, tocando o clássico “Bonded by Blood” na íntegra. Foi uma experiência inesquecível… com esse projetos fizemos alguns shows em Salvador como no interior e essa “liga” começou por aí…(risos). Nós do Divine Pain pretendemos, sim, tocar ao vivo. Mas para isso, como falei anteriormente, precisamos fortalecer o nosso nome, para que possamos tocar em shows com alguma estrutura que possa nos dar o mínimo de suporte. Pois todos nós já somos coroas ( risos).
Em uma resposta sua mais acima, você citou: acho que, como o Divine Pain é composto por componentes maduros e experientes no Metal, todos nós já sabemos exatamente como agir, como fazer as coisas acontecerem. É um fato que uma banda é um casamento e quando somos mais jovens somos muito imaturos e até egoístas, né? O Metal está envelhecendo e muitos dos nossos heróis já partiram e outros já passaram dos sessenta anos ou estão quase lá. Como você vê o futuro do Metal e o underground daqui para frente?
Danilo Coimbra – O Metal e o Underground sempre irão existir, independe dos avanços tecnológicos da sociedade. Acho que temos que aproveitar esses avanços e tirar proveito; o que é de bom. Antigamente eu me correspondia através de cartas que demoravam 3 a 4 dias para chegar no destino que eu queria. Hoje com os meios avançados de comunicação podemos formar uma banda, onde os componentes, cada um mora em um estado (risos); hoje conseguimos gravar um disco dentro de casa… imagine ai…enfim, eu respeito o radicalismo saudável… pois no meu ponto de vista, é isso que ainda segura o Metal raiz. É isso que faz o Headbanger ainda usar roupa preta… casaco de couro…deixa o cabelo crescer…curtir fita cassete e Lp´s (agora crescendo novamente a procura…). Então fazendo um resumo, eu acho que essa nova geração de Headbangers devem aproveitar o que esse avanço tecnológico nos proporciona com um pouquinho de radicalismo…(risos).
Concordo com você em relação ao radicalismo consciente, algumas raízes não podem se perder! É fato que o mundo mudou e evoluiu para o bem ou para o mau, as coisas mudam e você tem que mudar junto, não é mesmo? Você provavelmente começou sua jornada metálica nos anos 80 e eu comecei no início dos 90. Como você vê a nova geração consumindo música através de plataformas de streaming e qual sua opinião sobre isso? Você acredita que, em um futuro próximo, estará decretada a morte da mídia física? Viveremos em um mundo sem CDs, livros e DVDs?
Danilo Coimbra – Nunca deixará de existir a mídia física. Principalmente para colecionadores como eu…(risos). Na minha opinião, eu, até acho válido, a divulgação do trabalho das bandas nas plataformas streaming, pois acho uma boa ferramenta para divulgação de um trabalho de qualquer banda que esteja querendo demonstrar seu material musical. Mas acho que um trabalho de uma banda vai muito mais do que simplesmente a música. Existe também a atitude, a forma de pensar e a paixão pelo o que faz. Hoje qualquer banda consegue uma boa gravação, uma boa composição…mas nem sempre consegue uma postura que os fãs respeitem e procurem se interessar mais pela banda e seus trabalhos.
Ontem mesmo estava assistindo um podcast com o guitarrista Kiko Loureiro (Ex-Angra, ex-Megadeth) e ele foi perguntado: por que no Metal os fãs do estilo têm que ouvir o álbum completo e não vivem de singles como o sertanejo e o funk, só um exemplo dos lixos que o mercado enfia goela abaixo? E o Kiko falou uma coisa interessante: porque o músico de Metal gosta de tocar, de aprender e fazer as coisas com amor e o fã de Metal também é exigente e tem bom gosto. Você mesmo disse: que a tecnologia está aí para nos ajudar, não é mesmo? Gostaria de saber, você, como músico experiente, o que você acha dessas produções modernas e pasteurizadas de algumas, ou melhor de muitas bandas contemporâneas?
Danilo Coimbra – A única coisa que me incomoda nessas produções modernas é que a maioria das bandas quando começa uma produção musical tentam buscar os mesmos timbres de outras bandas. Assim no meu ponto de vista todas as bandas acabam tendo a mesma sonoridade… diferenciando só na composição. Acho que independente dos meios de produção musical, a banda tem que ter postura (como falei anteriormente). Isso sim que irá fazer a diferença. Eu sempre achei que um disco clássico, mesmo gravado em outras condições menos modernas (masterização, mix, etc) nunca se deve regravar novamente… Ehehe no meu ponto de vista fazendo uma regravação o material acaba perdendo a magia…
Eu gosto muito de descobrir e apoiar bandas novas, e sim, as plataformas de streaming me ajudam e muito a descobrir bandas e trabalhos, que eu não tinha acesso na época de seus lançamentos. O problema é que 90% das bandas, apesar de seus músicos serem competentes e técnicos, faltam sentimentos, feeling e muitas vezes são cópias de bandas antigas. Eu acredito que dentro do Metal não tem mais o que inventar e todos os músicos ou bandas têm influências de bandas consagradas, né? Mas falta identidade em muitas bandas e essa personalidade, essa atitude que o nobre amigo citou. Você acredita que as novas gerações, se não conhecerem as raízes do Metal e o que é o Underground, teremos bandas e músicos sem atitude da causa Underground?
Danilo Coimbra – Eu também gosto e utilizo muito as plataformas de streaming. Exatamente para o que você falou: “conhecer bandas novas…”. Mas lá também existem bandas antigas, de todo o mundo. Que antigamente, antes de existir essas plataformas, era quase impossível de se conhecer. Sempre no meio do underground irão surgir novas bandas, umas por interesse e curiosidade e outras com atitudes; com isso o underground nunca irá deixar de existir. Essa nova geração tem tudo pela frente para fortalecer cada vez mais o underground. O que precisamos mesmo é nos unir, apoiando, indo a shows, comprando materiais das bandas que você curtiu, não só ouvindo ficar dentro de casa ouvindo som pelas plataformas digitais.
Danilo, gostaria de saber sua opinião sobre os trabalhos gravados por seus novos asseclas que fazem parte da Divine Pain… O que você acha dos vocais de Fabio Brayner no clássico do Death Metal Metal Nacional: “Awaked by Impurity Rites” (2004)? E o Sanctifier, aprecias a banda?
Danilo Coimbra – Fábio sempre foi uma pessoa fantástica. Eu ainda não o conhecia. Mas fui apresentado a ele no Sanctifier. Logo que ouvi eu fiquei impressionado pela forma dele interpretar as letras e também pela sua composição vocal. Logo quando eu comecei o Divine Pain eu tentei fazer uma linha vocal nesse estilo, mas logo percebi que não conseguia (risos). Com o Divine Pain eu tive várias ideias de vocais, mas o que eu mais gostaria que fosse gravado era vocais mais gutural… Brutal… Fechado… Sempre achei que Death metal combina com essa forma de cantar. Então a entrada de Fábio no Divine Pain, pra mim foi uma grande honra.
Luiz Magrão (Goreterrorist) é outro grande guerreiro do submundo e um defensor e amante do Death Metal. Recentemente entrevistei o Convulsive e os caras lançaram um grandioso álbum: The Grotesquery Ruins of Death.(2022) O que você acha desse trabalho e do trabalho de Luiz Magrão em suas 666 bandas e projetos que ele tem?
Danilo Coimbra – Magrão é um cara fantástico. Eu acompanho os trabalhos dele e curto muito o álbum “The Grotesquery Ruins of Death”. Old School Death Metal como deve ser, vocal foda da banda!! Espero que um dia possamos tocar no mesmo palco…
Danilo, como você vê a cena Underground nos dias atuais?
Danilo Coimbra – No meu ponto de vista o underground sempre estará se renovando… Seja musicalmente como tecnologicamente. Cabe aos headbangers escolherem o caminho que querem percorrer. Como eu falei anteriormente, eu sempre apoiei o radicalismo inteligente. Acho que todos nós precisamos sempre dar valor à história do metal e das bandas que iniciaram essa jornada a muitos anos atrás sem qualquer tipo de tecnologia que temos hoje em dia. Me preocupa só a falta de apoio e comprometimento ao que você realmente escolhe , quando se torna uma headbanger.
Tenho contatos com grandes guerreiros da cena da terra sem salvação. Entre eles, Robson Carvalho (Desgraça Zine) e Giovan Dias (Rex Lúcifer/T.G.P.F.zine), entre outros amantes do submundo. E todos eles me falaram: que a cena de Salvador–BA nos anos 80 e 90 era muito violenta e radical. Você frequentou a cena nessa época? E nos conte algumas experiências que você viveu ou vivenciou nessa época em que o radicalismo imperava? E como está a cena nos dias de hoje?
Danilo Coimbra – Sim frequentei… O radicalismo era muito forte aqui. Em compensação não existiam muitos shows e com isso a cena não crescia. Existiam muitas brigas. Onde isso fazia o público se afastar da cena. Eu participei de muitas brigas, mas me arrependo de algumas… Acho que a violência não é caminho para o desenvolvimento. Hoje as coisas estão bem melhores, muitas bandas, muitos shows, mas poucas casas de shows em Salvador e também pouco apoio do público. Acho que essa nova geração prefere ficar em casa curtindo som ou fazendo não sei o que que sair para dar apoio a cena underground baiana. Também acho que acontece isso aqui em salvador pelo fato da cidade também estar muito violenta.
Fábio Brayner, você é um Headbanger e um grande batalhador e defensor do Underground, já há muito tempo. Além de fazer parte de bandas e editar um fanzine, é o redator-chefe do site The Old Coffin Spirit Zine. Como foi que rolou o convite para você participar como integrante do Divine Pain? E foi fácil adaptar seus vocais nesse novo trabalho da banda?
Fábio Brayner: A entrada no DIVINE PAIN se deu por intermédio do Alcides Burn, um grande artista brasileiro. Um dia ele me mandou uma mensagem pelo zapp falando que o DIVINE PAIN estava sem vocalista e perguntando se eu não toparia assumir o vocal da banda. Sinceramente eu não estava pensando em fazer nada nesse sentido, mas acabei deixando a porta aberta. Falei com ele que se eu ouvisse o som e curtisse poderia tentar ajudar sim. Quando ouvi alguns sons do material novo da banda eu achei muito foda e acabei topando. Conversei com o Danilo, guitarrista e criador do Divine Pain e ficou tudo fechado. Olha, em um primeiro momento fiquei um pouco inseguro em relação a como trabalhar com essa gravação. Primeiro porque não gravava vocais há mais de 20 anos e como não estava em nenhuma banda, fazia muito tempo que não fazia vocais. No início dos ensaios estava achando minha voz um completo lixo, mas depois foi ficando mais tranquilo. O que eu tive mais dificuldade no começo foi o fato de já haver todo um contexto criado para o álbum e eu simplesmente não conseguia produzir em cima disso. Foi quando conversei com o Danilo e concordamos que seria melhor começar tudo do zero, minha visão, minha interpretação daquelas músicas. Quando fiz isso a coisa andou mais rápido. Criei as letras e gravei minha parte aqui mesmo em Brasília.
Como já citamos, você também fez parte da banda de black metal As The Shadows Fall e gravou um clássico do death metal nacional: “Awaked by Impurity Rites” (2004), da grandiosa banda Sanctifier. O que você lembra de sua passagem por essas duas bandas? E como você vê hoje os trabalhos e as gravações desses artefatos mortais que você gravou com o Sanctifier? Passando 20 anos desse lançamento, está feliz com os resultados finais?
Fábio Brayner: A minha entrada no Sanctifier aconteceu ainda antes do ATSF. Quando eu saí do Decomposed fiquei um tempo sem me envolver com música, mas surgiu um convite do Alexandre Emerson (guitarrista do Sanctifier) para entrar na banda. Porra, eu aceitei na hora, já que o Sanctifier é o responsável por uma das melhores demo tapes já lançadas nesse país e fazer parte daquilo seria incrível. Então entrei na banda e começamos a trabalhar. Em 2004 a banda lançou o debut álbum e foi incrível ter o nosso som finalmente em um CD. O As The Shadows Fall veio em um período em que o Sanctifier estava bem parado. Começamos a banda e o trabalho do ATSF se espalhou rápido, principalmente depois do lançamento da demo tape. Olha, em relação ao álbum do Sanctifier, acho o álbum realmente um trabalho muito foda, mas não fiquei satisfeito com a minha voz nele. Eu gravei o álbum bem doente e isso refletiu no meu vocal. Estava muito gripado e com a garganta detonada. Para mim, o meu vocal perfeito foi registrado em uma demo em cd-r lançada um ano antes do álbum. Mas infelizmente não rolou, mas sinceramente, acabou se tornando um álbum muito apreciado pela galera, então acho que o resultado final foi incrível.
Fábio, Você, nos anos 90, montou uma banda que foi muito apoiada e respeitada na cena black metal e mídia especializada. As The Shadows Fall lançou duas, demo tapes clássicas: For the Rising of a Pagan Age (1998) e As the Shadows Fall. (2002) Em 2016, você lançou esses dois trabalhos na compilação “Under the Sign of Decadence – The Pagan Years”. Foi uma boa sacada lançar esses dois trabalhos em um CD e assim tivemos acesso a todos os trabalhos da A.T.S.F. Realmente a banda findou mesmo ou existem planos de algum dia voltar, ou lançar material inédito?
Fábio Brayner: Sim, o As the Shadows Fall cumpriu seu papel dentro do período em que esteve ativo. Chegamos onde queríamos ? Com certeza não. O debut álbum, com as músicas que tínhamos na época, não viu a luz do dia. Mas fizemos nosso nome na cena black metal e extrema brasileira, tocamos muito e foi incrível. Sobre se a banda realmente acabou, isso aconteceu há 20 anos. Ficamos ativos de 1996 até por volta de 2004 e a banda se separou. Hoje em dia cada membro mora em um lugar diferente: Brasília, Recife, São Paulo, Espanha, Canadá… não tem a mínima chance de unir todo mundo e voltar à ativa e sinceramente eu não quero fazer isso, nem se fosse possível. Minha vida, meus interesses e minha visão de mundo se alteraram muito e voltar com o ATSF não seria algo realmente verdadeiro.
Na terça-feira , dia 19/08/2024, vocês lançaram um videoclipe para a faixa: “A Path Into The Void”, no YouTube e compartilhando o vídeo com amigos, todos ficaram surpreendidos com essa faixa. Inclusive eu! Estávamos todos esperando um Death Metal mais brutal e rápido e vocês vêm com uma música com uma pegada Death Doom Metal carregada de morbidez, peso e velocidade. Inclusive, com um vocal desesperado, achei os vocais do Brayner bem diferentes em relação aos outros trabalhos dele que já escutei. Ele deixou a música terrivelmente mórbida e sombria, misturando vocais guturais com partes limpas. Talvez essa seja aquela música fora da curva do trabalho ou vai ter muito Death Metal e também passagens mais Doom Metal?
Danilo Coimbra – Essa música é a única nessa pegada Death Doom. Eu queria muito fazer uma música nessa pegada. E com a pandemia isso ajudou. Esse momento fudido que passamos de muito sofrimento, dor, angústia, ódio, depressão, ansiedade…. Isso ajudou a compor uma música que remetesse a isso tudo. E consegui fazer transmitir esses sentimentos na música. Mas não se enganem, o restante do disco é uma pancadaria forte ( forte). Muito Death metal raiz. Estamos pensando em lançar outro vídeo clipe de outra música em breve… E esperamos que até o final do ano nosso disco possa ir para fábrica.
Fábio Brayner: Essa música realmente é a composição que foge do contexto musical do álbum, mas de forma alguma do contexto lírico. “A Path Into the Void” também retrata a seu modo a violência. Mas não a violência gráfica, física. Ela fala da dor da perda, das incertezas do fim e é uma composição que se tornou extremamente pessoal para mim, pois eu coloquei muito da minha própria dor de ter perdido o meu pai, em Dezembro de 2021. Essa música então se torna o veículo da minha própria dor e isso se refletiu na parte lírica e em como tudo foi feito. É uma música que me deixou muito impressionado com o resultado final.
Parabéns, pelo videoclipe! Ficou muito bom mesmo! Vocês gostaram da produção final e no mais sobre os detalhes do mesmo ?
Danilo Coimbra – Muito obrigado. Gostamos muito do resultado que está chamando atenção de muitas pessoas. Isso é um ponto muito positivo e significativo para nós.
Meu caro Danilo, obrigado pela entrevista! Esperamos ansiosos pelo novo trabalho. Palavras finais suas. Abraço.
Danilo Coimbra – Eu agradeço muito por esse apoio ao Divine Pain, esse projeto que eu tenho com muito orgulho. E também agradeço a todos os amigos e fãs que nos acompanham nessa jornada. Agradeço a você pela entrevista. Espero um dia estar presente com o Divine Pain aí na sua cidade para um grande show… Grande abraço a todos…666!