O subgênero conhecido como Tech Death Metal é daqueles meio saturados, tendo gerado um número significativo de novas bandas nas décadas recentes. Boa parte delas costuma pecar pelos excessos. Em muitos casos, o virtuosismo dá no saco. Como em qualquer gênero musical, a técnica por si só não basta, é preciso que o som tenha alma, seja interessante e agradável aos ouvidos.
Felizmente, os londrinos do ATVM compreenderam a mensagem, e lançaram em abril desse ano o seu incrível álbum de estreia, sob o curioso título “Famine, Putrid and Fucking Endless”.
Trata-se de um trabalho único, dinâmico e variado, que une características do Tech Death e do Death Metal Progressivo, com doses agradáveis de energia e melodia, toques jazzísticos descarados, e girando em torno de 56 minutos sem tornar-se enjoativo, ou cansativo. Pelo contrário, a audição é muito divertida e aceitavelmente desafiadora. Sem dúvidas, o lado hiper técnico dos músicos é bem explorado, de forma a ressaltar o bom gosto das composições, não havendo demonstrações desnecessárias ou pirotecnia gratuita (talvez o solo de bateria no final da última música seja a exceção, perdoável).
Em termos de produção, o trabalho é fantástico. Equilíbrio perfeito, sonoridade dos instrumentos e vocais bem balanceada e com a devida nitidez, sem polimento excessivo.
O álbum também consegue escapar de uma armadilha tradicional das obras do estilo, que é a falta de emoção nas músicas. Não há aquela sensação desagradável de que a banda tenha sido substituída por um grupo de máquinas, ou robôs. Como por exemplo na faixa número 4 “वाघनख (Vagh Nakh)”, onde tudo soa orgânico e cheio de feeling, desde os excelentes riffs até os vocais (estes, por sinal, muito bons para o estilo).
O Thrash Metal é claramente uma influência forte dos caras, facilmente perceptível em diversas das músicas. Também fica claro que eles estão se divertindo pra caramba durante as respectivas performances, algo que se reflete de imediato para o ouvinte.
Criatividade latente, quando aliada à técnica muito acima da média, pode criar um combo dos mais eficazes, como eles provam logo na primeira faixa “Sanguinary Floating Orb”. A rifferama em “Anag-ou Matoy” é de cair o queixo, tanto em termos de qualidade quanto em relação à imprevisibilidade. Musicalidade e capacidade de composição geniais.
Excepcional disco de estreia do ATVM. Não se deixe influenciar pela capa ultra colorida e bizarra… Indico aos fãs de bandas como MARTYR (CAN), GORGUTS (CAN), SLUGDGE (ING), ANATA (SUE), ATHEIST (EUA), CYNIC (EUA), REVOCATION (EUA), GOROD (FRA).
O disco tem duração total de 55:57 minutos, distribuídos entre as sete faixas abaixo:
1 – “Sanguinary Floating Orb”
2 – “Anag-ou Matoy”
3 – “They Crawl”
4 – “वाघनख (Vagh Nakh)”
5 – “Squeal in Tourment”
6 – “Picture of Decay”
7 – “Slud”
Destaques: São quase cinquenta e seis longos e brilhantes minutos de Tech/Prog Death Metal. Individualmente, devem ser destacadas a memorável faixa de abertura, a quarta (pesadíssima, extrema, complexa e cheia de groove) e a magnífica quinta (que show da dupla batera e baixista, os andamentos que remetem ao Jazz tradicional dão um toque especial ao som). Aos apreciadores do som mais progressivo, confira a insanidade da sexta “Picture of Decay”e da última “Slud”.