CD/EP/LP

ASHTORETH – Bruxólico (CD 2022)

ASHTORETH (Brasil)
“Bruxólico” – CD 2022
Antichrist Hooligans Distro/Fat Zombie/Dejetos Sonoros – Nacional
8/10

Eu sempre leio entrevistas em fanzines, sites, ou mesmo nas redes sociais de  músicos que fazem parte de bandas de metal underground dizerem que não existe cena, ou mesmo não acreditam em cena. Eu realmente não consigo entender esses comentários. Até porque algumas bandas fazem parte de algum selo underground, fazem shows, têm cds gravados, e até comercializam camisetas para seu público, e dizem que “não existe cena”. Eu acredito, que a cena não existe mais como nos anos 80 e 90, que ela realmente mudou muito mesmo.

Mas existe, sim, uma cena séria, com pessoas sérias fazendo as coisas acontecerem e fazendo o submundo girar. E muitos tiram grana do seu próprio bolso, e na maioria das vezes o retorno não cobre nem o que foi investido. Sempre no vermelho. Mas não desistem e fazem isso porque “amam o metal / a cena”, e mesmo tirando grana do bolso continuam a produzir, a lançar material. Nós todos temos que fazer a nossa parte para a cena continuar.

 Desculpa a introdução longa mas eu  precisava dizer isso antes de fazer a resenha. Por que tenho que agradecer ao Pablo (Opium) baterista da banda ASHTORETH por  me enviar vários cds e fazermos umas trocas que ficou bom para todos. Hoje é tão difícil uma banda enviar um material dessa qualidade para um simples fanzine. Muitas bandas não fazem trocas ou preferem enviar, por exemplo, para uma Roadie Crew e não para um fanzine.  E temos que valorizar a verdadeira cultura do underground que sempre priorizou as trocas.

Vamos falar desse lançamento dos bruxos de Florianópolis. Os caras executam um black/doom metal com passagens progressivas e atmosféricas. Não é um material fácil de escutar, porque é cheio de detalhes e cada vez que escuto esse trabalho, vou descobrindo novas nuances. O play abre com a intro mais longa que já escutei em um trabalho “Convenções no Pântano do Sul”, com barulhos de um vento terral, barulhos do mar, de ondas quebrando; e funciona como um chamado para um ritual profano a beira-mar em um noite de lua cheia. É uma faixa carregada e traz um clima angustiante, e parece que o demônio ou uma bruxa sussurra em seus ouvidos.

A segunda faixa é “Lua Errante” que também tem um clip no YouTube muito bem feito e produzido. Guitarras carregadas de peso, melancolia e um vocal desesperado, sussurrado e angustiante. É uma faixa com guitarras pesadíssimas e um clima com uma pegada black / doom metal.

 A próxima é “Serpente no Cabelo” uma faixa longa com quase treze minutos. Mas que passa muito rápido e é muito rica em detalhes. Com influências de música árabe e, inclusive, com uso de uma cítara executada pelo musicista Jeff Nefferkturu. Algumas passagens até me lembraram os “lobos lusitanos” do Moonspell no início de carreira, com tambores percussivos em um “clima pagão” e viajante. São 12:57 min que passam muito rápido, tamanha é a qualidade da música executada por esses bruxos.

A percussão evoca um ritual satânico e profano. Opium executa sua bateria com partes rápidas e partes cadenciadas com técnica e precisão. Os tambores sempre naquela pegada ritualística chamando o povo para sentar em frente a fogueira e ouvir as criaturas da noite em um ritual profano.

A quarta faixa é “Majestade Caída / Visão ” que são dois poemas do poeta da “ilha da magia”, o diamante negro Cruz e Souza. Aqui, Meimendro Negro, vocalista que fez parte de outras bandas clássicas da cena catarinense, como Osculum Obscenum e Antichrist Hooligans, declama esses poemas em um clima fúnebre e cheio de efeitos aterrorizantes. Aliás, a proposta dos músicos é contar histórias & causos de Florianópolis, que é conhecida como a ilha da magia, suas lendas de casos “bruxólicos” e sobrenaturais por todos os cantos da cidade. É tudo contado em português, o que agrega muito para entender todo o conceito que envolve esse trabalho.  Brasileiro também sabe contar suas histórias e sua cultura sem soar chato, basta ter bom gosto e domínio de seu instrumento.

A quinta faixa “Menestrel e o Oceano” é outra faixa carregada de peso, passagens mais viajantes e progressivas. A bateria é executada com uma pegada mais cadenciada e guitarras pesadas, viajantes e sorumbáticas. O baixo segura os graves e dá todo o apoio e o peso para deixar a música matadora

E fechando esse grandioso trabalho o mantra segue “O Retorno de Lúcifer”. Depois de mais de 40 minutos de uma música carregada, angustiante, profana e negra, chega ao fim o primeiro ato dessa obra que segundo os músicos será lançado em uma trilogia contando sobre lendas da ilha da magia. Esperamos os próximos atos.

A produção deste trabalho está ótima. Ficou a cargo da banda & Undercave Studio. Tem participações dos musicista Jeff, já citado, além de Indra Rosa nos vocais & Marlon Joy nos efeitos. Capa & layout bem obscuros, os quais a própria banda executou usando imagens do artista catarinense Franklin Cascaes. Ficou muito bom e tem tudo a ver com a sonoridade e lírica deste trabalho. Como eu disse no início, “Bruxólico” é um trabalho diferente! Porém muito bem feito e executado. Até porque na formação da banda temos músicos da velha guarda e com passagens em bandas clássicas como Osculum Obscenum, Antichrist Hooligans, Necrobutcher, Khrophus entre outras. É uma obra que tens que ouvir sem radicalismo e com o coração.

ASHTORETH line-up:

Meimendro Negro – (V)

Cerviciam – (G/V)

Veneficus – (B)

Opium ( D)

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