APHOTIC SPECTRE é a mais nova entidade a representar o Funeral Doom Metal brasileiro — entidade essa, que acaba de lançar seu primeiro pergaminho sonoro, “Væneration”. O projeto foi criado em 2020, sendo composto por dois grandes músicos do sempre representativo e prolífero, Underground. O natalense Breno Xavier (Deuszebul, Ìsinkú) e o brasiliense Thiago Satyr (Absent, Burial Temple, Tomb Of Love, Witching Altar). O primeiro, responsavel por todos os instrumentos e composições, e o segundo responsavel pelos vocais e letras — a produção tanto do single “Obnoxious”, lançado no ano passado quanto do full-lenght, é assinada por ambos.
Trajado por uma arte incrível assinada por Julie Araújo, o álbum teve sua mixagem deixada nas mãos do sempre competente Adriano Sabino (Ação Libertária, Echoes Of Death, Open The Coffin, Son Of A Witch); já a masterização foi feita por outra figura emblemática da cena, Zé Misanthrope (Omfalos, Degola, Utterance, Senectus). Aliás, a produção em sua totalidade e em todos os seus aspectos é fabulosa; sonora e visualmente espetacular!
“Væneration” configura-se em 48 minutos — tempo esse dividido entre 07 faixas; onde duas são interlúdios: “Hunter” e “Adept”; e outro: “Harbinger”. Sem subterfúgios e nada insípida; cada segundo de música tem seu proposito na narrativa: “(…) Uma terra corrompida, apodrecida até o âmago. Aqui você não vive, aqui você morre.” (Hunter).
Peso, obscuridade, profanação e desespero constituem “Torn Asunder”; a abominação em forma música. Obscura tanto em suas incursões pelo Funeral Doom Metal mais ortodoxo quanto em suas lacunas às linhas mais evocativas e esparsas. “Ascended” apresenta características similares; resquícios melódicos, riffs excelentes e um assombroso peso capaz de fazer titubear monumentos. “Obnoxious” é outro parágrafo a ser destacado; grotesca, amarga e solene; implacável! Arte que corrompe regras, não exibindo cores, floreios ou lapidações, apenas abismos — os limites do preto e branco; visões monocromáticas. O impecável solo de guitarra de Dennys Parente (Primordium, Torment The Skies) a completa.
Ambos os músicos se destacam positivamente; Breno por seu senso de composição, por sua sensibilidade na confecção de melodias e pela inteligência na construção dos temas e suas atmosferas. Funeral Doom não é apenas peso e riffs longos, é algo mais profundo e íntimo (talvez por isso seja tão mal compreendido), externar, sejam emoções ou pensamentos não é algo comum ou fácil a todos. Satyr, no que lhe concerne, destaca-se tanto nas vocalizações que emprega (limpas, guturais, declamatórias) quanto em suas letras que são verdadeiras poesias/filosofias: “(…) Passe-me o cálice vazio. Me observe sangrar. Talvez pela última vez (…)” (Adept).
“Unrelieved” é algo tão extraordinário, tão bem conduzido e profundo que chega a furtar palavras. Crescente acústica, acompanhada por véus de teclados tão delicadamente compostos por Luan Lima… E assim vai ganhando peso, formas e transições; ora mais ao Doom/Death Metal dos anos 90 e ora mais agressiva e caótica — guiando-se ao norte de bandas de Atmospheric e Post-Black Metal. “Harbinger” fecha o trabalho de forma apocalíptica, totalmente atmosférica e guiada por passagens de guitarra; sons e vozes ao fundo a criar toda uma ambientação sinistra e com sua letra sendo declamada.
Um belo e assombroso fim. “Væneration” é o trabalho de estreia que toda banda queria e deveria ter; inspirado, honesto, substancioso e impactante. O Doom Metal brasileiro acaba de ganhar mais um representante de peso, aliás, de um titânico peso. Sem criar comparações, mas o que é produzido aqui é tão bom quanto o que vem de fora — na maioria das vezes, é muito superior. Não basta emular Black Sabbath ou tirar xerox da trindade inglesa, tem que haver paixão e conhecimento de causa, algo que as bandas e projetos oriundos do Underground nacional tem de sobra. Ouça o APHOTIC SPECTRE e comprove!
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