Entrevistas

KORVAK – A técnica e a energia do thrash metal estão mais vivos do que nunca

Esse ano tive a oportunidade de ouvir o som dessa banda paraibana de thrash metal e que grata surpresa foi. O KORVAK, apesar de ser uma banda relativamente jovem, já conseguiu uma maturidade musical evidente. O lançamento do seu primeiro álbum pelo selo Thrash or Death e Cianeto Discos  é um marco na trajetória da banda e não poderia deixar escapar a chance de conversar com André, Cláudio e Gabriel, membros da banda. E essa conversa deixa clara a seriedade desse power trio. 

Por Fábio Brayner

O KORVAK foi formado em 2013 e em fins do ano passado vocês chegaram ao primeiro álbum de estúdio, o excelente “Korvak”. Você poderia falar um pouco sobre esse início da banda? O som de vocês já tinha essa pegada desde início?

Bem, a Korvak iniciou suas atividades em 2013, mas os membros da banda já tocavam juntos desde 2009/2010, quando nos reuníamos para tirar covers de bandas como Kiss, Black Sabbath, Metallica, Iron Maiden, Judas Priest, entre outros clássicos. A partir disso, nós fomos criando um entrosamento, até começarmos a arriscar em composições próprias. Na época nós éramos um quarteto: André Brito (vocal/guitarra), Gabriel Pontes (guitarra), Cláudio Montevérdi (bateria) e Matheus Assis (contrabaixo), chegando a gravar o nosso primeiro trabalho de estúdio com esta formação, o EP “The Ritual” (2015). Logo após o lançamento do EP, Matheus Assis precisou sair da banda por motivos de saúde. A partir disso a banda manteve-se como um Power Trio desde então. Como no início de qualquer banda de thrash metal, tínhamos aquela vontade de fazer músicas rápidas, agressivas e diretas. Mas a forma de tocar dos membros da banda sempre fez com que essas músicas fossem executadas de uma forma diferente. Nossas ideias iniciais já demonstravam a vontade de ter um som característico, uma identidade própria. Então isso foi crucial no início do nosso processo de composição. A partir disso a banda vem sempre amadurecendo nas composições, o que é muito gratificante.

Ao ouvir o som de vocês o que me chamou a atenção logo de cara foi a altíssima qualidade das músicas. Um thrash metal técnico que é difícil ver por essas bandas. Qual é a formação musical dos membros da banda? Bandas como Coroner, Obliveon (Canadá) e algo do velho thrash nacional seriam influências na criação do som do KORVAK?

A Korvak foi fundada dentro de uma escola de música, literalmente! O pai de Cláudio Montevérdi (baterista), Jorge Ribbas, que inclusive contribuiu para nosso disco com as composições de abertura e encerramento (Hybris e Dike), é Mestre em Música, professor do curso de Música da UFCG, e proprietário da Musidom Escola da Música, escola onde André e Gabriel foram estudar. Estudos de partitura, bem como análise de peças clássicas foram reflexos diretos na forma de composição da banda. Além disso, temos grande influência de bandas de rock progressivo, como Yes, Jethro Tull, Pink Floyd, Rush, Emerson Lake & Palmer, entre várias outras. A junção destes fatores acabou contribuindo para formação musical da Korvak. Sobre as influências mais recentes, o Coroner, assim como o Testament, Voivod, são grandes inspirações para nós. E claro, a escola brasileira não poderia ficar de fora. O Sepultura, por exemplo, em discos como “Beneath the Remains” e “Arise”, impactaram bastante em nossas composições, assim como grandes clássicos do Sarcófago, Headhunter D.C., Taurus, bem como os nossos conterrâneos do Nephastus.

Korvak (2020)

“Korvak” é o primeiro álbum da banda. A produção é muito boa. Ele foi gravado aí mesmo em Campina Grande? Como foi essa experiência de estúdio? Vocês ficaram satisfeitos com o resultado final?

Sim, boa parte do processo foi realizado aqui mesmo em Campina Grande/PB. O disco foi gravado por partes. Em 2017 nós gravamos as baterias no MF Studio, como nosso parceiro de longas datas Moisés Freire, inclusive foi o mesmo estúdio onde gravamos o EP “The Ritual” em 2015. A segunda etapa foi justamente a gravação das guitarras, baixos, vocais e percussão, que realizamos no estúdio da Musidom entre os anos de 2018 e 2019, com o apoio de Nicolas Alves (irmão de Cláudio) e Jorge Ribbas. Esta segunda etapa foi uma das mais importantes para nós, pois foi uma etapa marcada pelo “faça você mesmo”, onde pudemos ter mais autonomia neste processo de gravação. Foi um período de muita aprendizagem. A terceira e última etapa foi a de mixagem a masterização, realizada em Recife/PE, no J.A. Studio (Joel Lima). Foi um processo um pouco complicado pelo fato da distância, boa parte realizado através de redes sociais, o que acabava dificultando um pouco a situação, pois, para chegar ao nosso som ideal, com timbres e nuances, fomos bem detalhistas, para nossa felicidade, Joel entende demais disso. No final das contas, acabamos conciliando um final de semana em Recife onde pudemos finalizar os últimos detalhes neste trabalho. A experiência foi ótima e muito gratificante pra todos nós. E, sim, ficamos bastante satisfeitos com o resultado do trabalho; aquela sensação de dever cumprido!

Muitas bandas do thrash metal seguem caminhos mais óbvios com influências do thrash alemão ou americano e o KORVAK acaba fugindo dessas referências ao criar um som mais técnico. É possível perceber influências e sonoridades que escapam do thrash metal convencional. Isso foi proposital ou faz parte do processo natural de evolução da banda?

Acaba sendo um pouco dos dois… antes de tudo: temos bastante influência das duas escolas mais “clássicas” citadas por você (p.e. Sodom no Agent Orange, Kreator no Extreme Aggresion, Dark Angel, Testament, Forbbiden). Mas também, como você disse, é um estilo que já foi muito “saturado”, não temos a intenção de criticar as bandas de Thrash metal do Brasil, pelo contrário, fizemos grandes amizades nesse meio. Desde pequenos crescemos ouvindo Black Sabbath, Rush, UFO, Scorpions (70’s)… Além dos grandes clássicos do metal tradicional, e somos muito fãs disso. Além dessa influencia setentista, também amamos a velha escola do Death metal, que traz muito da influência do Thrash, como Morbid Saint, Demmolition Hammer, Obituary, Possessed… paralelamente isso, soma-se a formação musical com influências clássicas e regionais, entãoo que fizemos foi basicamente colocar isso num grande liquidificador, temperar com ervas ver o que saiu disso tudo. É como ouvir um riff do Slayer e pensar “como isso ficaria se fosse tocado pelo Uriah Heep?” (Rs).

Vocês são oriundos de uma cidade que já criou bandas incríveis do underground nordestino como o Nephastus, Krueger, Mortífera, entre outras. Como esse background influenciou bandas mais novas como vocês e tantas outras da cena da cidade? Como anda o cenário metal em Campina Grande hoje em dia?

R: Sim, temos muito orgulho da história do metal de Campina Grande! Jorge Ribbas fundou uma das primeiras bandas de rock ‘n roll da Paraíba, o Albatroz… e o pai de André, o André Fiquene, fundou uma das zines que marcou a história dos anos 80, a Deliver Metalzine (voltou a atividade em 2018), então eles cresceram com essas referências, conhecendo as histórias, soubemos que o Nephastus abriu show pro Kreator, ouvíamos os contos famosos da época, e tudo isso nos serviu de um modelo de qualidade a alcançar,  vai além do som. Bem quanto ao metal hoje em dia, ele se mantém firme e forte e com grandes bandas, estamos sujeitos aos altos e baixos do underground, mas as bandas não baixam a cabeça, André hoje em dia também faz parte das bandas Venomous Breath (que está prestes a lançar seu segundo álbum) e a Ataque Violento, além de termos bandas ativas como a TxOxSxIx, Metal Comando, Nihil, Demonized Legion, Necrose, e muitas outras, bandas das quais temos respeito e admiração mútua!

A arte do álbum de vocês foi feita pelo artista plástico pernambucano Guga Burckhardt e ficou muito legal pois traz uma visão artística que aproxima a banda da arte nordestina, você concorda ? Qual o conceito dessa arte que tem, inclusive, o Congresso Nacional sendo “sugado” para dentro de algo que parece um buraco negro? Vocês vieram com essa ideia ou o Guga teve total liberdade para criar?

Sim, ficou muito foda, começando pelo final: nós criamos um vinculo com Guga quando fomos tocar em Recife, ele ficou de cara com o som e já chegou junto trocando ideia, nós estávamos pensando na capa do álbum e a ideia da parceria surgiu naturalmente, foi praticamente uma convergência astral naquele evento! Hahahaha. Pegando carona na parte esotérica/ocultista, isso também casou bem com todo o conceito do álbum, todas as músicas convergindo, nesse caso, para o grande Vazio, deixamos a interpretação do olho bem aberta pra subjetividade de cada um, mas é basicamente o contraponto, lembrando que tudo que os políticos e as pessoas da sociedade materialista atual vivem que no fim é tudo passageiro e irá se perder no espaço-tempo, é aí onde entra toda a questão do congresso, que se tornou a “Babilônia” brasileira. Sobre a parte do nordeste, foi uma mistura da música Empire of Dust, que traz essa temática do “império de areia” se desfazer com a morte, somado com elementos do semi-árido, nossa região natal, se observarmos com atenção, na maleta do politico (símbolo do ser ganancioso), tem-se a turmalina azul, uma pedra preciosíssima no nosso estado que são arrancados de nossas entranhas sem nenhum aviso prévio, devastando nossa terra, totalmente inerente à exploração por mineradoras. Sobre esse processo de criação, mandamos as letras pra Guga, falamos um norte inicial, ele mandou uns esboços, e fomos discutindo os elementos, foi bem legal o processo, foi uma via de mão dupla, a parceria se estendeu a todo o encarte, quem adquirir verá isso tudo muito bem (propaganda do merchandising).

Arte completa do álbum Korvak. Por Guga Burckhardt (Escriba Hostil)

Agora em 2020 a banda está com um novo lançamento, um split Cd com as bandas Tyranno e Torment Grave. A banda está com três músicas. Elas são inéditas ? Esse material já está disponível?

As músicas presentes no split são as mesmas de nosso 2º ep intitulado Mind Malefactor, que contam com as faixas: Mind Malefactor, Maniac e Pandemonium, todas presentes no full. Algumas dessas faixas passaram por ajustes técnicos antes de terem sua versão final no full. O material acabou de ficar pronto na fábrica, e estão chegando para nossa cidade, quem quiser pegar com a gente, só falar, e também dos respectivos selos envolvidos no lançamento, podemos citar algunas: Deliver prods.; Cianeto discos; Metal Island…

Na opinião de vocês, qual seria a música do seu primeiro álbum que poderia definir de forma muito clara o que é o som do KORVAK ? Eu particularmente aponto a faixa “The HydroCyclone…” como essa música. Aqui a proposta de thrash técnico é absolutamente fantástica.

Primeiramente, agradecemos imensamente pelo elogio! The HydroCyclone é uma composição da qual nos orgulhamos bastante! Mas, eu diria que a identidade da Korvak está presente em cada faixa do disco, cada uma com sua particularidade, elucidando aspectos diferentes de nossas influências. Particularmente (e essa é uma unanimidade da banda), acredito que Pandemonium é a faixa que escancara bem estas influências de forma concisa, direto ao ponto. É uma das primeiras composições da banda, que já passou até por algumas mudanças, como pode ser observado no 1º ep da banda.

Eu sei que é ainda muito cedo, mas como andam os trabalhos para a composição de um novo álbum de estúdio ? Há algo encaminhado nesse sentido ?

A banda já tem o material praticamente pronto. Serão músicas que seguirão na mesma lógica do primeiro full: thrash técnico, rápido e agressivo! Mas as novas músicas também trarão novidades de composição, letras que trazem muita acidez, além de muita filosofia. Há também, outras questões em andamento, mas isso ainda ficará em sigilo para não estragar a surpresa, mas uma coisa é certa, o material novo virá com muita qualidade!

Bom, muito obrigado por aceitarem responder essa entrevista. Vocês gostaria de adicionar algo ? Sintam-se à vontade…

Nós quem agradecemos pela atenção, o underground só se move pelo amor ao que se faz, e o portal faz isso com primor, vida/morte longa à Old Coffin Spirit! Agradecemos a quem sempre nos apoia, e quem não nos conhece e teve interesse, é só acessar o link: linktr.ee/korvak da qual possui nossas mídias digitais.  Fiquem em casa até essa peste do corona passar, se não puderem se cuidem! 666.

 

A formação atual da banda é:

André Brito: Vocal/Baixo/Guitarra
Gabriel Pontes: Guitarra/Baixo
Cláudio Montevérdi: Bateria e Percussão

KORVAK online:

Instagram: @korvakthrash (Link: instagram.com/korvakthrash)

Facebook: Korvak Thrash (Link: facebook.com/korvakthrash)

E-mail: korvakbrasil@gmail.com

Bandcamp: korvak.bandcamp.com/releases

THRASH OR DEATH online: www.thrashordeathrecords.bandcamp.com
CIANETO Discos online: https://cianetodiscos.com.br/

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