“As Serpentes Soberanas nas Trevas” – Split 2023
Blackhearts Records/ Anticrist Hooligans Distro/ Baphogoat / Ars Goetia
8,5/10
E o Brasil continua a espalhar a praga e a desgraça em forma de música negra, unido as gerações dos anos 90 e as novas bandas contemporâneas. Esse artefato lançado em forma de split reuniu a nova banda AD INFERNO do necro vocalista Lamferniis (ex – Desejo Impuro, Svartan, Luciferiano, Evil War e atual Antichrist Hooligans) com outra lendária banda, a carioca Goat Emperor, de Cesar Severus, que faz parte também da matadora banda Poeticus Severus. Eles lançaram no início de 2023 “As Serpentes Soberanas nas Trevas” e que obra magnífica!
Ad inferno é formada por guerreiros heréticos e conhecidos da cena negra nacional. Lamferniis (vocal & teclados) D. Ancient (bateria & teclado) e César Severus (guitarra, baixo & backing vocal).
A união desses seres da escuridão resultou neste trabalho “Entre a Lua e a Serpente”. A bandeira foi erguida em devoção às artes negras. Ad Inferno abre o culto com a faixa “Na Desolação de Seu Reino” e que música fantástica. Belas melodias, teclados puxados para o lado sinfônico e um vocal rasgado, que nos remete ao início dos primeiros trabalhos do Emperor. Simplesmente magnífica! A segunda faixa é “Centelha Nas Cinzas“, a introdução traz um clima mórbido, e o teclado continua com aquela pegada do clássico dos noruegueses do /Emperor e sua obra prima “In the Nightside Eclipse” (1994).
Traz também algo de King Diamond nos teclados e backing vocals. As músicas todas entoadas em português. Quem disse que black metal não combina com letras na nossa língua tem que ouvir Ad inferno. Continuando esse belo trabalho com as músicas “Entre a Lua e a Serpente” que além de ter um instrumental bem coeso, trabalhado, pesado, mostra toda a experiência desses espíritos negros, tanto musicalmente, como também filosoficamente, com letras profundas no ocultismo. As letras são uma beleza a parte, e nessa faixa tem citação ao grande poeta Álvares de Azevedo “Ó tu anjo mais belo e culto, Deus que a sorte traiu e privou de seu culto, tem piedade, ó Satã, desta longa miséria!
“A Besta” tem uns uivos de lobos no seu início, trovões de chuva e um clima de terror e medo.
Lamferniis faz uma declamação com vocais limpos, criando um clima para última faixa que é um cover para a música “Crowley, Master of Masters” da lendária banda paranaense Amen Corner. Faixa que encontra – se no disco “Fall, Ascension, Domination” (1993). E o AD INFERNO nos entrega uma versão totalmente diferente, porém muito bela, que apesar de ter uma pegada mais obscura, mais trabalhada, mantém o clima maléfico da versão original. Para o insano metalhead ter uma noção citei várias vezes o Emperor como influência, mas encontra – se referência também ao Limbonic Art e o próprio Desejo Impuro. É uma obra obscura, profunda na sua lírica e que vale a pena ter em sua coleção.
Agora para continuar o culto e a devoção ao metal negro é a vez do Goat Emperor. “Porque as Trevas são Soberanas”, o último EP lançado em 2022, são 7 músicas, todas de um black metal com uma pegada de heavy metal aqui e ali, com vocais mais graves, carregados de melodias, vocais tenores e barítonos em algumas faixas e outros mais rasgados, numa viagem. Quem é apreciador da arte negra e gosta de algo com sentimento e profundidade, na filosofia, ocultismo, e metal negro, esteja certo de que o Goat Emperor vai satisfazer as expectativas. Na verdade o Goat Emperor é uma “one man band” já que César Severus gravou todos os instrumentos e gravou os vocais também. O grande “bode imperador” inicia com a faixa “Chamas” com instrumental longo e riffs matadores, e aquele vocal de barítono, meio declamado e grave.
A segunda faixa executada é “Resplandecente 666” que no cd é a sétima faixa e “Energia Escura Matéria Escura” que segue com a mesma proposta, ou seja : Com momentos mais viajantes, andamentos cadenciados, guitarras com peso e atmosféricos.
A próxima é “Tormento”. Iniciando com vocais graves e declamados, e a música vai crescendo com umas bases de guitarras bem na linha black metal ríspido e gelado. As letras são profundas e misantropas. É filosofia pura! A décima faixa no cd é “33” é direta, rápida e brutal. Fechando esse artefato negro com as duas últimas “Oleum” e “Sag”.
A penúltima faixa é um som atmosférico e com letras em latim e sussurrado, tipo um mantra. Com um piano bem lúgubre, belo e viajante. A última é mais direta na linha Hellhammer, Celtic Frost e Bathory, dos primeiros discos da fase mais black metal do Bathory e riffs matadores,na linha do mestre Tom Warrior.
Produção deste split cd tá acima da média, com uma gravação em estúdio muito boa e com um layout bem obscuro e que combina com a proposta de ambas as bandas envolvidas com o submundo e a suprema arte negra.
“E verá o abismo de sua cova/ sem a menor Desolação/ o caminho chega ao fim/
Terá sido tudo em vão?”
