O nome BLUT AUS NORD tem sido sinônimo de qualidade e vanguardismo no metal extremo francês por quase três décadas. Desde o lançamento do seminal “Ultima Thule” em 1995, o genial “Vindsval” (Composições, Guitarras e Vocais) tem investido na criação de discos de Black Metal ousados e à frente do seu tempo, acrescentando elementos diversos à sua sonoridade.
Seu novo trabalho “Disharmonium – Undreamable Abysses” saiu em maio, e impressiona pelo nível de qualidade. O tema é ligado ao autor de horror “H. P. Lovecraft”, e a escolha determinou muitas das características presentes: Atmosfera sufocante e clima de suspense, pesadelo. Levadas carregadas, persistentes e notadamente repetitivas, totalmente hipnóticas. Dissonância alucinante, no nível dos melhores trabalhos do DEATHSPELL OMEGA.
A produção algo distante contribuiu demais para a sensação claustrofóbica, de estar vagando pelo espaço numa pequena cápsula, à deriva e ameaçado por horrores ocultos. O álbum flui de tal forma que as sete faixas parecem, em dados momentos, ser um mesmo tema com variações pontuais. A conexão é perfeita, e exige uma audição ininterrupta e integral.
Os vocais de “Vindsval” trabalham muito mais como um instrumento adicional. Soam distantes e ecoam, criando um efeito perturbador quando somado às guitarras “espaciais”, carregadas de efeitos na linha do magistral ORANSSI PAZUZU. A bateria de “W.D. Feld” (Bateria, Teclados e Efeitos Eletrônicos) oferece uma gama de variações, mas brilha nos momentos mais extremos, onde a velocidade da percussão aprofunda a demência de uma mente já perturbada.
A dupla de abertura “Chants of the Deep Ones” e “Tales of the Old Dreamer” estabelece esses fundamentos, como mantras que progridem e florescem à base de repetições e derivações inteligentes e bem-construídas. O solo de guitarra na segunda é, por si só, uma pequena viagem, e sua conclusão tempestuosa é fenomenal.
Um ótimo exemplo aos leitores que quiserem uma amostra, antes de um mergulho de cabeça nessa insanidade, é a faixa “Neptune’s Eye”. Bateria intensa e veloz, guitarras disparando riffs excêntricos e dissonantes, o baixo de “GhÖst” somando em potência e extremismo, e os vocais esquizofrênicos que ecoam com chocante naturalidade em meio à cacofonia. Jamais o caos pareceu, do alto de sua disformia, algo tão sublime e tangível.
Perceba como esta faixa conecta-se às seguintes “That Cannot Be Dreamed” (uma das melhores) e “Keziah Mason”. Os Temas se misturam, se fundem e progridem indivisível e magistralmente.
A música de encerramento “The Apotheosis of the Unnamable” é estupenda, com tensão em escalada e conclusão absolutamente extática.
Confesso que o álbum não é de simples assimilação. Não por ser exageradamente complexo, mas pelas camadas sobrepostas, formando cada música com riqueza de nuances. É um trabalho que requer audições seguidas, um som que se forma na cabeça do ouvinte quase como um quebra-cabeças gigante, acrescentando detalhes e encorpando a cada experiência.
Como tentar definir o novo BLUT AUS NORD? A base segue sendo Black Metal, numa linha mais Atmosférica. Há elementos voltados ao Industrial, Doom, Shoegaze, Dungeon Synth e improvisações dignas de um bom Jazz.
Excepcional décimo quarto álbum de estúdio do BLUT AUS NORD. Sucessor digno ao excelente “Hallucinogen”, de 2019. Viagem tensa, sinistra e enlouquecedora, tal qual um dos contos do mestre “H. P. Lovecraft”. Brisa garantida sem a necessidade de usar aditivos. Aguardemos a edição nacional da Metal Army, imperdível.
Altamente recomendado aos fãs de metal extremo de mente aberta. Imperdível aos conhecedores do projeto e aos fãs de ORANSSI PAZUZU (FIN), DEATHSPELL OMEGA (FRA), THE RUINS OF BEVERAST (ALE), ESOCTRILIHUM (FRA), SPECTRAL LORE (GRE), TCHORNOBOG (EUA), URFAUST (HOL), ABSENT IN BODY (INT), AMENRA (BEL).
Tracklist abaixo, duração total de 46:14 minutos:
1 – “Chants of the Deep Ones”
2 – “Tales of the Old Dreamer”
3 – “Into the Woods”
4 – “Neptune’s Eye”
5 – “That Cannot Be Dreamed”
6 – “Keziah Mason”
7 – “The Apotheosis of the Unnamable”
ENGLISH VERSION:
The name BLUT AUS NORD has been synonymous with high quality and avant-garde French extreme metal for nearly three decades. Since the release of seminal “Ultima Thule” in 1995, genius “Vindsval” (Songwriting, Guitars and Vocals) has invested in creating bold, innovative Black Metal records, adding diverse elements to their sound.
His latest work “Disharmonium – Undreamable Abysses” came out in May, and its level of quality is impressive. It explores author “H. P. Lovecraft’s” works, and the choice determined many of the present characteristics: Suffocating atmosphere, suspenseful, nightmarish aura. Persistent and remarkably repetitive sections, totally hypnotic. Mind-blowing dissonance, on par with DEATHSPELL OMEGA’s finest pieces.
The somewhat distant production contributed to the claustrophobic feeling, like wandering through space in a tiny capsule, adrift and threatened by occult horrors. The album flows in such a way that the seven tracks seem, at times, to be the same theme with occasional variations. The connection is seamless, and requires uninterrupted, properly focused listening.
“Vindsval’s” vocals work more as an additional instrument. They sound distant and echo, creating a disturbing effect when added to the “spacey” guitars, loaded with effects along the lines of masterful ORANSSI PAZUZU. “W.D. Feld’s” drums (Drums, Keyboards and Electronic Effects) offer a range of variations, but shine during the most extreme moments, where percussion speed and ferocity deepens the insanity of an already troubled mind.
The opening duo “Chants of the Deep Ones” and “Tales of the Old Dreamer” lay these foundations, like mantras that progress, and flourish based on clever, well-constructed repetitions and derivations. The guitar solo in the second is, by itself, a brief journey, and its stormy conclusion is phenomenal.
A great example for readers who want a sample, before diving headfirst into this madness, is the track “Neptune’s Eye“. Intense, fast drums, guitars firing off eccentric and dissonant riffs, the bass of “GhÖst” adding raw power and extremism, and the schizophrenic vocals echoing with shocking naturalness, amidst the cacophony. Chaos never seemed, at the height of its shapelessness, something so sublime and tangible.
Notice how this track connects to the following “That Cannot Be Dreamed” (one of the finest highlights) and “Keziah Mason”. Themes mingle, merge and progress indivisibly, and masterfully.
The closing song “The Apotheosis of the Unnamable” is stupendous, with escalating tension and utterly ecstatic conclusion.
I confess, the album is not simple to assimilate. Not for being overly complex, but for the overlapping layers, forming each song with richness of nuances. It requires attention and repeated auditions, as it takes shape in the listener’s head almost like a giant jigsaw puzzle, adding details and bulking up after each experience.
How to try categorizing the new BLUT AUS NORD? The axis continues to be Black Metal, in a more Atmospheric vibe. The additional elements are several: Industrial, Doom, Shoegaze, Dungeon Synth and improvisations worthy of a fine Jazz side.
Exceptional fourteenth studio album by BLUT AUS NORD. A worthy successor to the excellent “Hallucinogen”. A tense, sinister and maddening journey, just like one of the tales conceived by the master “H. P. Lovecraft”. Getting high is certain, and there’s no need for any substances.
Highly recommended for open-minded extreme metal fans. A must-have for those familiar with the project, and for fans of ORANSSI PAZUZU (FIN), DEATHSPELL OMEGA (FRA), THE RUINS OF BEVERAST (ALE), ESOCTRILIHUM (FRA), SPECTRAL LORE (GRE), TCHORNOBOG (USA), URFAUST (HOL), ABSENT IN BODY (INT), AMENRA (BEL).
Tracklisting below, running time 46:14
1 – “Chants of the Deep Ones”
2 – “Tales of the Old Dreamer”
3 – “Into the Woods”
4 – “Neptune’s Eye”
5 – “That Cannot Be Dreamed”
6 – “Keziah Mason”
7 – “The Apotheosis of the Unnamable”