Entrevistas

LUCIFER´S CHILDREN – Melancólico doom metal paraguaio

Para nós brasileiros o país vizinho o Paraguai é o paraíso de eletrônicos, perfumes importados e outras coisinhas alucinógenas… Mas o Paraguai não é só alegria para os “sacoleiros brasileiros” lá também existe uma cena metálica muito forte e público fiel amante do metal e com ótimas bandas como : Verthebral, The Force e entre elas o Lúcifer’s Children que executa um poderoso doom metal. Batemos um papo rápido com R. Doom, guitarrista da banda.

Saudações hermanos da Lucifer’s Children, é um prazer tê – los nas páginas do nosso artefato que veio ao mundo para divulgar a suprema arte melancólica do Doom Metal. Para começarmos apresenta a atual formação da banda e quando “as crianças de Lúcifer” vieram ao mundo ?

R.Doom: Primeiramente muito obrigado Walter e Armagedoom Zine pela entrevista. A formação atual é Lidi Ramirez nos vocais, Edu Centurion na bateria, Bernie Casco no baixo e eu R.Doom nas guitarras. Começamos a banda em meados de 2017, o Edu já tinha ouvido minhas composições, então nos uniu com a Lidi para começar a ensaiar.

A cena metálica no Paraguai sempre foi mais voltada ao metal 80 e toda aquela cena Heavy Metal & Thrash Metal old school. É claro que estou dizendo a cena que eu conheci e frequentei em Asunción nos anos 90. De onde veio a vontade de correr contra mão do Underground paraguaio e tocar Doom Metal ? E como os insanos Metalheads paraguaios e mídia especializada tem aceito o trabalho de vocês ?

R.Doom: Meu estilo favorito sempre foi Doom, desde a escola eu sempre quis tocar em uma banda no estilo Witchfinder General ou Pagan Altar. Essas bandas não eram muito populares aqui no Paraguai na época, e eu também falava com poucas pessoas, então demorou muito para a banda se formar. A cena aqui pegou muito bem, demorou pra gente aparecer no mapa, mas fomos bem aceitos.

E como é contar com uma “Frontwoman” nos vocais ? Eu realmente gostei muito do vocal da Lidi Ramirez por que apesar de a banda tocar um Doom Metal com influências de Black Sabbath da fase Ozzy Osbourne, é claro também existe outras referências no som, ela não puxa o seu vocal para o mister Madman. Como fazem a maioria das bandas atuais que fazem um som nessa linha. Lidi quais vocalista te influenciou ?

Lidi: Muito obrigado pela entrevista, um prazer.Minhas influências sempre foram Jinx Dawson, Doro Pesch, Ian Gillan, e muitas influências de blues, rock dos anos 70, pessoalmente gosto da voz áspera e forte.

Eu acredito que a sociedade do Paraguai seja muito conservadora e religiosa, assim como a grande maioria dos países sul americanos. Infelizmente, o nosso continente apesar de ser rico em recursos naturais é muito pobre por termos políticos corruptos e por uma elite que só pensa neles. Ou seja : quanto mais a população não tiver acesso à educação é mais fácil de manipulação. E manipulação através do ópio do povo. A religião. De onde veio o nome da banda e o que ele representa para vocês ? Nos fale mais sobre as suas letras…

R.Doom: O nome da banda vem da demo do Eternal, a banda pré-Electric Wizard, que tem o nome de Lucifer’s Children. Eu também sempre pensei que queria um nome em homenagem a Lucifer. As letras tratam de satanismo, feitiçaria, civilizações antigas, cultos proibidos, também filmes de terror dos anos 60 e 70. O que as letras para mim representam é cultura, a rejeição do que é convencional na sociedade e, claro, o fanatismo pelo mundo do heavy metal. Pessoalmente não tenho nada contra as pessoas que acreditam no que querem acreditar, cada um é livre para fazer o que quer, mas tenho repulsa pela igreja e sua forma de exercer poder sobre as pessoas, e a forma como ela é se perpetra e mantém em conjunto com o Estado, mas é um tema extenso para se falar.

Nota do editor : Verdade é um tema profundo. Eu também não tenho nada contra que cada um faça o que acha certo para si. Mas odeio religião e toda a sua hipocrisia.

Então, a banda veio ao mundo em 2017 e lançou em 2019, a demo “Dawning Of A New Aeon” e confesso, que eu não consigo parar de ouvi – la no Bandcamp da banda. Apesar de ser o último trabalho de vocês que tive acesso. Acho um trabalho fantástico ! Nos fale mais sobre sua produção e como foi há aceitação dela no submundo metálico ? E a introdução “father yes” é sinistra, obscura e perfeita ! Vocês são fãs de Roman Polanski e seu clássico “Rosemary Baby” ?

R.Doom: Muito obrigado pelas palavras. A demo “Dawning…” é a minha favorita do que fizemos, já que com essa demo tivemos muita recepção no exterior, coisa que eu nunca imaginei. Foi uma demo gravada em ensaio, e depois adicionei a segunda guitarra, e a Lidi gravou a voz separadamente, um fato curioso é que gravamos a demo duas vezes, porque a primeira gravação se perdeu quando o computador de quem nos gravou, quebrou haha. O Rosemary’s Baby é um dos melhores filmes que já vi, a cena final em que Rosemary aceita seu filho é fantástica. Em geral eu amo todos os filmes que tratam de satanismo, lúcifer, bruxaria etc etc.

R. Doom, você me disse que desde muito novo já gostava de Doom Metal. Mas de onde veio a ideia de na demo “Dawning…” gravar a música “Rainbow Demon” do Uriah Heep ? E devo dizer que gostei muito dessa versão. Quais outras bandas são influências de vocês na hora de compor músicas para o Lúcifer’s Children ?

R.Doom: A ideia me veio em 2017 quando eu estava trabalhando no depósito do meu trabalho, eu estava ouvindo “Demons and Wizards”, e quando ouvi “Rainbow Demon” pensei ao mesmo tempo, se pudesse tocar na viola, cheguei na minha casa esse dia e comecei a praticar. Minha principal influência é sem dúvida o Witchfinder General, os riffs do Phil Cope são incríveis, tem muita criatividade. Também, é claro, Black Sabbath, Bedemon, Black Hole, Pentagram, Saint Vitus, incluindo Angel Witch. Muitas bandas dessa época também me influenciaram, como Devil da Noruega, Hour of 13, Briton Rites, Hands of Orlac.

Em 2020 e 2021 o mundo todo foi assolado por uma pandemia mundial e foi a época que a terra parou. Mas para vocês foi bem produtivo né ? Já que lançaram dois trabalhos acima da média, o Debut – CD “Devil Worship”(2020) e o segundo trabalho “Signs Of Saturn” de 2021. De onde veio tanta inspiração e vocês estão felizes com esses trabalhos ?

R.Doom: Na verdade, Devil Worship já estava terminado quando a pandemia começou, e o segundo álbum estava quase completo naquela época, então acho que teria aproveitado melhor a pandemia haha. Sim, estamos muito felizes com os resultados, não esperávamos, as bandas paraguaias não costumam lançar em vinil no início. Foi muito emocionante quando as gravadoras estavam escrevendo para nós, e o apoio de todas as pessoas. A inspiração é uma mistura de álcool, solidão, heavy/doom metal e lúcifer.

Eu não sei se vocês sabem, mas eu morei em Foz Do Iguaçu (PR) nos anos 90 e frequentei muito a cena de Asuncion. Já tomei muitas cervejas no El Cuervo Pub (kkk) e vi muitos shows na capital paraguaia. Meu último show em solo paraguaio foi em 1998 ou 99 no Arasunu Rock. Gosto muito das bandas paraguaias : Funeral (Death Metal), Corrosion (Thrash Metal), Sabaoth (Black Metal) e outros que não lembro agora. Essas bandas são os precursores do submundo metálico do seu país. E a nova geração de bandas vêm colocando o cenário paraguaio no mapa mundial do metal. Bandas como The Force e Verthebral têm lançado ótimos trabalhos a nível mundial. Como anda a cena Underground de seu país ? Nos fale quais bandas tem o apoio de vocês ? Algum zine que te chame atenção aí é que nós brasileiros devemos conhecer.

R.Domm: São muitas bandas, mas pouca produção de materiais, acho que deveria ser feito mais trabalho nisso. Verthebral e The Force são bandas altas, muito dedicadas, admiro os dois. Temos mais apoio da cena Thrasher paraguaia: Evil Force, Slayground, The Force, 220 Voltios entre outros.

Chegamos ao final da entrevista. O Espaço é de vocês. Graçias Hermanos. Que lúcifer abençoe as crianças ! Fuerza metal del paraguay !


R.Domm: Bebam cerveja, ouça heavy metal e adorem a Satanás!

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