Selos envolvidos no lançamento da versão em CD: Resistência Underground Prod/Sinfonia de Cães/Libertinus Records/Metal Island/Xaninho Discos/Black Hearts Records
Eis que tenho em mãos o novo álbum dos novos “queridinhos” da cena do VAZIO. Desculpem-me o termo quase pejorativo, mas diante do que tenho lido, a banda já incomoda à aquela parcela de caras da cena que não conseguem tocar por inaptidão mental ou incompetência nervosa e precisam falar que banda “x” ou “y” é ruim apenas porque ela é boa demais e tá chamando a atenção.
Farpas à parte, o VAZIO realmente merece o espaço que vem conquistando com um black metal frio, odioso, que embarca em uma busca nítida por qualidade e sonoridade envolvida em escuridão. Esse novo trabalho “Eterno Aeon Obscuro” entrou em praticamente todas as listas de melhores do ano dos veículos de divulgação underground e não seria diferente. Podemos dizer que temos aqui o nosso “De Mysteriis Dom Sathanas”, produzido e criado em solo nacional por músicos excepcionais e que tem um talento nato para criar música com a alma repleta de ódio. E faço essa comparação não como uma forma de desmerecer o trabalho dessa banda, mas como forma de evidenciar ainda mais o que considero um álbum irrepreensível, com uma sonoridade que explora de forma perfeita o que o black metal é como manifestação artística.
Liricamente o VAZIO é uma banda diferenciada, repleta de passagens herméticas, abordando diversos temas (leia a entrevista com a banda na próxima edição física do THE OLD COFFIN SPIRIT zine). A faixa que abre o álbum é a gélida “Elementais da Matéria Escura”. Se isso aqui não é um magnífico cartão de visitas, não sei mais o que poderia ser. As vocalizações se destacam por sua loucura emanada tanto nos momentos mais rápidos, quanto nos momentos mais lentos e climáticos. Algumas partes mais pesadas relembram o velho Inquisition. “Sob a Noite Espectral” é um faixa monumental e poderia ter saído do clássico álbum do Mayhem, assim como várias outras.
Muita gente pode torcer o nariz, mas quem está buscando uma música poderosa esquece isso e aprecia a névoa em torno de cada nota, cada riff e cada detalhe desse trabalho. Ouça a grandiosidade de uma música como “Nascidos do Fogo” ou a tranquilidade momentânea de “Reino das Matas”, que em sua curta duração invoca ancestrais espíritos. “O Chamado dos Mortos” se destaca por uma interpretação ríspida, mas épica ao mesmo tempo. Já “Condenados ao Esquecimento” é lenta, calculada em seu início, para liberar o inferno logo após. Arrisco dizer que é a minha música favorita, pois aqui você não encontra influências, mas um vazio, o som do VAZIO. Brutal.
A faixa título desse álbum é, possivelmente, uma das melhores músicas que o VAZIO já compôs, principalmente se você associar a música ao vídeo lançado recentemente. Não há dúvidas aqui sobre o material que temos em mãos. A atmosfera não poderia ser mais negativa e pegajosa. É uma experiência musical que abarca dimensões de puro caos. Isso é o caos. Isso é black metal e, principalmente, isso é brasileiro.
A curta e visceral “Sangue Invertido no Coração Negro Despedaçado” e “Revelação do Abismo” são um final de puro desprezo ao mundo. A brutalidade é presente nessas duas músicas de formas quase antagônicas, ainda assim se complementando. O ponto final no álbum é carregado e intitula-se “Koié Kokoiá”. “Eterno Aeon Obscuro” foi o melhor álbum de black metal nacional de 2020 e se você duvida ouça o álbum e se você não concorda, bom….