CD/EP/LP

TOWARDS ATLANTIS LIGHTS – When The Ashes Devoured The Sun (2021)

TOWARDS ATLANTIS LIGHTS (Itália/Reino Unido)
“When The Ashes Devoured The Sun” – CD 2021
Melancholic Realm Productions – Importado
9/10

O TOWARDS ATLANTIS LIGHTS é um supergrupo de Funeral Doom/Death Metal, formado por músicos oriundos da Itália e do Reino Unido — sendo eles, veteranos do gênero. Nas guitarras, Ivan Zara (Void Of Silence); no baixo, Riccardo Veronese (Aphonic Threnody, Arrant Saudade e outros); nos teclados e vocais, Kostas Panagiotou (Pantheist) e na bateria, Ivano Olivieri.

When The Ashes Devoured The Sun” (Melancholic Realm Productions) é o seu segundo lançamento, sucedendo a monumental estreia firmada com “Dust Of Aeons” (Transcending Obscurity Records, 2018). Disco esse que colheu ótimas criticas vindas de sites e publicações especializadas. Uma característica que torna o trabalho do “T.A.L.” ainda mais interessante é a sua fuga dos temas comuns ao Doom Metal: a melancolia e o desespero seguem intactos, inerentes ao corpo sonoro das composições, porém, o seu interior é preenchido por abordagens que versam sobre civilizações antigas, mitos (no sentido literal e cabível da palavra), tradições e culturas — as auroras do tempo — o crepusculo dos seres. Essa temática, vasta e profunda, se pensada ou não, aproxima o trabalho do quarteto aos feitos de uma das instituições do Doom Metal brasileiro, o surreal Mythological Cold Towers.

A produção, assinada por Luca Soi (atual vocalista do Void Of Silence, ex-Arcana Coelestia) é um dos primeiros pontos de destaque do novo disco, consistente, orgânica e suavemente empoeirada. O segundo ponto é a capa, que recebe a caligrafia artística do genial Francesco Gemelli (Urna, Plateau Sigma, Woebegone Obscured,  Ecnephias e outros). Ela é simetricamente casada à temática adotada pela banda, sendo literalmente sua tradução visual. O terceiro e último ponto de destaque (no que tange os engenhos do composto) é o modo como os temas foram arranjados e dispostos no trabalho: após a introdutória “Alpha And Omega”, a malha se sequencia com três longas suítes e duas composições de média duração, intercaladas. Pode até parecer que não, mas a organização certa de um repertório muito influencia na audição; na tênue linha entre prazer/degustação e a tortura/cansaço, ou coma eterno.

Passada toda a ambientação criada por “Alpha And Omega”, é a vez do peso solene e profundo de “The Minoan Tragedy”, o primeiro monumento do registro. Riffs longos, vocais limpos lindíssimos, guturais simétricos aos períodos de maior peso e teclados desenhando colunas e cenários por todo seu desenvolvimento, que, ao avançar revela intervalos dedicados ao caos. “To The Forgotten Tribes” é intensa, arcaica e mística, muito lembrando os colossais “Sphere Of Nebaddon: The Dawn Of A Dying Tyffereth” (1996), “Remoti Meridiani Hymni: Towards The Magnificent Realm Of The Sun” (2000) e “The Vanished Pantheon” (2005), a trinca clássica do Mythological Cold Towers. “The Bull And The Serpent” apresenta características mais próximas ao convencional padrão do Death/Doom Metal, inclusive em sua duração resumida (06:50), com bons riffs, explorações, dinamismos e movimentos imponentes. Ivano Olivieri executa suas linhas de bateria com uma precisão absurda e ainda injeta técnica e brutalidade quando a composição assim pede. “Mad Prophetess” é o terceiro colosso de “When The Ashes Devoured The Sun”, e possivelmente seu maior destaque. Seu instrumental memora os titãs sonoros compostos pelo maestro Greg Chandler (Esoteric, Lychgate). O fim da epopeia ocorre em “Pelasgian Tales” — um final realmente grandioso para um registro igualmente grandioso.

Ouvir as seis composições de “When The Ashes Devoured The Sun” é como vivenciar cosmos e civilizações se alinhando, movendo-se, erguendo-se e dilatando-se em toda sua glória e ciência. É conceber, através da música, os mistérios que as cercam, suas sabedorias ancestrais (ainda vivas) e seu inevitável declínio. O mesmo tempo que a tudo devora, também imortaliza — as sombras de suas ruínas são testemunhas de sua glória e imensidão. Um trabalho que magnificamente ecoa o passado entre o concreto e o artificial de nossos tempos. Em resumo, maravilhoso!

Links:

Facebook: https://www.facebook.com/TowardsAtl/

Bandcamp (Kostas Panagiotou): https://pantheistuk.bandcamp.com/album/when-the-ashes-devoured-the-sun

Bandcamp: https://towardsatlantislights.bandcamp.com/releases

Spotify: https://open.spotify.com/artist/0y9yS6dcbA67dif1ym59Gz

Related posts

GOLGOTHA – Remembering the Past, Writing the Future (MCD 2021)

Fábio Brayner

CELESTIAL SEASON – Mysterium I (2022)

Fabio Miloch

MESHUGGAH – Immutable (2022)

Daniel Bitencourt