O Brasil tem vivido tempos estranhos em relação ao que se entende como cena extrema. O estilo sempre teve em sua essência a agressão, a ousadia e a busca por pura violência musical, mas tudo isso tem sido colocado em cheque por uma geração que confunde ativismo político com uma inquisição que pode colocar tudo que foi conquistado em décadas por chão. Por isso é tão bom ver uma banda como o TORCHES OF NERO cuspindo enxofre, chutando bundas e mandando tudo e todos para a puta que pariu com uma música que é feia, agressiva e totalmente ofensiva, para o terror de alguns e total deleite de outros.
“Mokk” é um lançamento que traz em suas veias uma homenagem aos mestres da bestialidade australiana Sadistik Execution, que não necessita de apresentações para aqueles que estão inseridos no metal underground mundial e extremo. A arte da capa e demais artes foram criadas por pelo Michel Barinacho e se encaixa totalmente na proposta do lançamento. A arte é absolutamente primitiva e ofensiva aos religiosos enrustidos de plantão, ou seja, é mais do que necessária. Musicalmente o TORCHES OF NERO soube criar uma espiral de caos que honra de forma mais do que justa uma banda que foi um dos pilares do underground australiano. Ouvindo mais atentamente ao que foi criado pelos membros da banda, é possível afirmar que a sonoridade do grupo se moldou em torno de uma amálgama do metal sul americano e australiano. A selvageria está presente, mas há aquela aula de total descontrole que caracterizou muito as nossas bandas pioneiras nessa sonoridade.
Ouça “Feeling of Death” (essa aqui é realmente um verdadeiro hino do metal apocalíptico sul-americano) e sua execução. A inserção da marcha fúnebre em seu instrumental é algo muito fudido e encaixou ao contexto criativo como uma luva. A faixa de abertura “Mökk” é a forma necessária de iniciar esse trabalho, com uma tempestade de fúria e barbarismo musical em toda a sua duração. Rápida, infame e direta. Simples assim.
“The Ashes on the Burnt Offerings” traz a partipação do próprio Rok, do Sadistik Exekution nos vocais e o uso dos teclados (de forma simples e mórbida) concede uma aura de mistério e sombras à composição.
“Krist Kross Kurse” é a melhor faixa desse lançamento. A pancadaria aqui é surreal e o toque quase thrash ao instrumental fez a energia se tornar mais latente em meio a toda a imundície que se apresenta nessa composição.
A última música é “We Are All Dead” e o feeling ritualístico é muito fudido. Tudo se desenrola quase como se um ritual estivesse sendo levado a cabo, ainda que em meio a isso tudo se desenrole uma verdadeira hecatombe nuclear. Pura blasfêmia e com vocais que eu realmente achei muito fudidos. Há algo que me lembra um pouco o velho Vulcano ou o Hellhammer. A quebrada que introduz uma linha de guitarra bem heavy é muito foda. É um retorno aos velhos tempos da simplicidade aliada a bons riffs.
O material tem uma excelente produção e ainda que a gravação seja “raw” como deve ser, ela tem tudo em seu devido lugar e oferece ao ouvinte a possibilidade de captar os detalhes criados nessa desgraça musical.
“Mokk” é um lançamento muito foda dessa nossa cena e que vai ficar no meu playlist por um bom tempo. Agradeço aos demônios do TORCHES OF NERO pelo envio desse material para audição.
Tracklist:
- Mokk
- Feeling of Death
- The Ashes on the Burnt Offerings
- Krist Kross Kurse
- We Are All Dead
Torches of Nero –