Mais um projeto de um homem só atuando no vasto universo do Metal Extremo, e entregando qualidade muito acima da média. Neste caso, o THE RUINS OF BEVERAST, na ativa desde 2003 e possuidor de uma respeitável discografia, com seis álbuns de estúdio e numerosos EPs e Splits. A partir desse ponto, o nome da banda será abreviado para TRoB.
O responsável pela composição e execução de todos os instrumentos é um cidadão germânico de 43 anos de idade, de pseudônimo Alexander von Meilenwald. Este que é figurinha carimbada no submundo do Black Metal desde meados dos anos 90, quando ele liderou e tocou bateria no NAGELFAR, uma das maiores e melhores bandas da história do Black alemão e, infelizmente, inativa desde 2002. A quem não conhece e gosta do estilo mais direto e bruto, fica a recomendação.
O nome da banda costuma despertar curiosidade, então vale mencionar que o nome Beverast é uma derivação do termo em nórdico arcaico Bifrost, relativa à ponte que ligava os reinos da Mitologia Nórdica de Asgard (onde moravam os Deuses) e Midgard (onde habitamos nós, os meros mortais, a Terra). Sendo assim, significa algo como as ruínas da ponte de Bifrost.Já o título do álbum tem a ver com a exploração de fronteiras rumo ao desconhecido (Thule = a fronteira a norte dos impérios Grego e Romano, vista na época como uma espécie de fim do mundo; e Grimoire = um livro contendo fórmulas para feitiços e encantamentos maléficos).
Este projeto desenvolve um tipo exótico e sofisticado de Metal Extremo difícil de encaixar numa única vertente. É um Black Atmosférico com altas doses de Doom, Death, Drone e até umas pitadas deRock Gótico. Talvez sua característica mais evidente na sonoridade seja a Atmosfera. Sempre carregada, com nuances sinistras e profundamente ameaçadora. Para quem gosta de comparações, ou busca semelhanças no som de outras bandas para ter referências ao ouvir, lembra até certo ponto a LUNAR AURORA (Alemanha), há alguns elementos de BØLZER e TRIPTYKON(Suíça) e algo de BLUT AUS NORD (França), MY DYING BRIDE (Reino Unido) e TYPE O NEGATIVE (Estados Unidos), mas tudo muito fragmentado. O conjunto da obra é muito diferente de tudo, em geral. Até por isso, vale a pena conhecê-lo.
Iniciando pela arte da capa, uma intrigante criação da alemã Julia Schneider, que já havia ilustrado a capa do álbum anterior do TRoB. Em comum, o fato dela ser fã da banda, e de ser da cidade de Aachen, a mesma do músico e seu projeto.
A fase atual da banda caminha, após um processo natural de evolução, para discos focados cada vez mais na carga atmosférica das obras. O clima pesado de suspense e mistério paira ao longo de todos os sessenta e nove minutos (isso mesmo, uma hora e nove de duração), em cada uma das sete músicas. “The Thule Grimoires” foi lançado em fevereiro de 2021 pelo selo alemão Ván Records, e prossegue com a ambiciosa saga do projeto exatamente do ponto onde o grandioso antecessor “Exuvia”, lançado em 2017, a deixou.
Discos dos primórdios do TRoB como “Unlock the Shrine” e “Rain Upon the Impure” traziam uma mistura de Black gélido (reminiscente do NAGELFAR já mencionado acima)com Doom Metal vigoroso, que dava à luz verdadeiros monumentos à insanidade. Essa fase deu lugar a um som ainda mais complexo e diverso, porém não menos doentio. A principal diferença aqui, é que tudo no disco atual soa revigorante, inovador e de produção fantástica. Ouvir um álbum de pouco mais de uma hora poderia se tornar maçante, mas não é o que acontece. As faixas são bastante diversas umas das outras, os vocais variam de acordo com a pegada mais ou menos agressiva (e são sempre muito bons) e a atmosfera densa se encarrega de gerar a fluência necessária para que a audição seja agradável.
Um magnífico trabalho que extrapola gêneros e subgêneros, ousado e perturbador. Belo, denso, melancólico, e ao mesmo tempo mais acessível que obras anteriores do artista. Feito para ser ouvido muitas vezes, revelando novos detalhes a cada experiência.
O tempo total do álbum é de 01:09:26, dividido entre sete músicas:
1 – “Ropes Into Eden”
2 – “The Tundra Shines”
3 – “Kromlec’hKnell”
4 – “Mammothpolis”
5 – “Anchoress in Furs”
6 – “Polar HissHysteria”
7 – “Deserts to Blind and Defeat”
Destaques: A segunda faixa “The Tundra Shines” é ótimo destaque, um colosso de mais de onze minutos que varia desde a introdução mais atmosférica, passando pela bateria marcial que convoca e instiga forças conflitantes à batalha e as levadas Doom pesadíssimas, persistentes e de extremo bom gosto. Outra que vale destaque individual é a sexta faixa – “Polar Hiss Hysteria”, mais vigorosa, intensa e agressiva, com excelentes melodias.