CD/EP/LP

THE CROSS – Act II: Walls Of The Forgotten (2022)

THE CROSS (Brasil)
“Act II: Walls Of The Forgotten” – CD 2022
Pitch Black Records – Importado
Eternal Hatred Records – Nacional
9/10

Cientes de sua importância na Cena Underground e mais cientes ainda de sua relevância ao Gênero Maldito, os baianos e seminais do THE CROSS finalmente chegaram ao seu segundo álbum de estúdio (e primeiro) pelo selo cipriota Pitch Black Records. O nome da preciosidade — “Act II: Walls Of The Forgotten”.

Desnecessário adentrar nos méritos e nos feitos históricos que fazem do THE CROSS uma banda tão importante e reverenciada (quem viveu e quem cultua o Doom Metal ao logo dos anos, conhece com propriedade a todos os reveses e glórias de sua extensa carreira, quem não, sugiro audição e leitura). O ritmo das produções é lento tal qual o gênero reverenciado pelos mesmos, mas cada um de seus registros é, por si só, um marco. De suas antológicas demos lançadas nos brumais noventistas, compreendendo também seus três EPs, um Split e um ao vivo, até seu primeiro full-lenght, homônimo, lançado em 2017. Em todos esses materiais o que se ouve é um Doom Metal coeso, estudado e feito com uma maestria que poucos possuem.

Com uma produção fabulosa assinada pelo músico/produtor Louis Bear (Aztlán, Drearylands), somada aos adornos estéticos magistrais do mestre Alcides Burn (Claustrofobia, Desdominus, Imago Mortis, Malefactor), o trabalho não consegue ser apenas intenso, coeso e envolvente, mas também desafiador. Colossal seria a palavra cabível — e de fato é — visto a magnitude das composições, a beleza dos arranjos, o arsenal poderoso de riffs, a pluralidade de sentimentos que cada faixa transmite e claro, a presença do mítico Eduardo Slayer. Enciclopédico — uma lenda por si só (querido e respeitado) nacional e internacionalmente.

Act II: Walls Of The Forgotten” é ambicioso tanto em suas estruturas quanto em suas engenharias. Ao início, com todo peso impetuoso que emite — a sensação de esmagamento a cada sucinta mudança de ritmo, no explorar das dinâmicas e no desenvolver dos nuances. Sensação essa, reforçada pela maneira como o álbum se expande — sempre monolítico e imponente. Ao meio — pela galeria de convidados que exibe — sendo composta por vultos importantíssimos da Cena Doom (e outros extremos) Mundial: Leo Stivala (Anchorite, Forsaken); Steve Lombardo (Albert Bell’s Sacro Sanctus); Achraf Loudiy (Aeternam); Aaron Stainthorpe (My Dying Bride) e Albert Bell (Albert Bell’s Sacro Sanctus, Forsaken, Nomad Son). Esse ultimo também responsável por todas as linhas de baixo do disco.

Denso, quase intransponível, mas ainda épico e melodioso, o disco é integralmente constituído por atos extensos, com seis ou mais minutos de duração. O repertório de seis composições estupendas, ajoja-se em pouco menos de uma hora, onde cada um dos minutos foi devidamente preenchido por Doom Metal (e desdobrares) do mesmo.

Preservando a grandiosidade e força do início ao fim, “Act II: Walls Of The Forgotten” aflora em “Behind The Stone Gate”. Ambientação pesarosa, blocos imensos de guitarras, peso tirânico, bateria robusta e vocais consternados/angustiantes. Definitivamente não há azul nos céus da banda e isso fica evidente em cada um dos mais de nove minutos da faixa. A solene e lovecraftiana “Walls Of The Forgotten” apresenta os vocais da lenda inglesa, Aaron Stainthorpe. Nela, a construção de ritmos é mais diversificada, as guitarras exibem mais melodias e o baixo pulsa forte e preciso. Na sequência chega a épica “Beyond The Eyes Of Seth”. Seus climas e progressões remetem às criações de banda enquadradas no chamado “Oriental Metal”. Claro que tal gênero sofre mutações agradáveis nas mãos do THE CROSS e a participação do vocalista marroquino Achraf Loudiy a tornam ainda mais singular.

Sonnenstein Castle” disserta sobre o Castelo de Sonnenstein, na Alemanha, inicialmente construído para ser um hospital psiquiátrico, mas usado durante a 2.ª Guerra Mundial como um centro do programa chamado Aktion T4, durante o 3.º Reich. A composição, uma das mais poderosas do registro, alia o peso tipico do Doom Metal à tristeza de um dos episódios mais inaceitáveis da história da humanidade. Recomendo muito a interpretação visual do mesma. Tanto pelo trabalho da banda quanto pelo que foi produzido pelo Louis Den Studio e Camguru Filmes. A atuação da atriz Bianca Calixto é assustadoramente surreal! “Umbral” é uma das criações mais intensas de Eduardo e Cia. Ornamentada pela potência vocal de Leo Stivala e sustentada pela genialidade dos guitarristas Paulo Monteiro e Daniel Fauaze (a mente por trás dos incríveis solos que brotam por toda duração do disco). “Ouroboros”, cujo conceito é a eternidade — fins e começos — morte e vida — do último folego a fechar o parágrafo da existência ao pranto que inaugura uma nova página na mesma; nela, ouvimos um dos momentos mais belos da obra. Triste, mas singela. Eis o desfecho e eis o convite para uma nova audição, ou várias.

Act II: Walls Of The Forgotten” não é apenas mais um marco na história do THE CROSS, mas sim, na história do Doom Metal em sua totalidade. Contundente e sem subjetividades. Pleno, imersivo e emocionante como são os álbuns dotados de alma sob a forma de música. Suas faixas se alternam entre momentos de pura ferocidade, frágil melancolia e obsidiana angústia, o proposito, é sempre o mesmo, ser a trilha sonora do ouvinte. Doom a quem é de Doom e longa vida a Eduardo e seus cúmplices!

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Bandcamp (The Cross): https://thecrossdoom.bandcamp.com/music

Bandcamp (Pitch Black Records): https://pitchblackrecords.bandcamp.com/album/act-ii-walls-of-the-forgotten

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