CD/EP/LP

TEMPLE OF VOID – “Summoning The Slayer” (2022)

TEMPLE OF VOID (USA)
“Summoning The Slayer” – CD 2022
Relapse Records – Importado
10/10

É certo que atualmente o que mais existe na Cena Extrema Mundial são bandas genéricas. Clones e mais clones (ad infinitum), sem alma, sem substância, sem brilho algum ou sequer faísca de criatividade. Um mar imenso de repetições — de mais forma que conteúdo, de mais teorias que efetivações. O panorama é o mesmo em todas as vertentes possíveis e imagináveis. No Doom Metal (em suas interpretações mais tradicionais) e no Death/Doom Metal também paira essa nuvem contaminada de falta de inspiração e, em muitos casos, falta de capacidade. Criar algo novo é praticamente impossível, mas reproduzir velhas ideias com entusiasmo e conhecimento de causa não.

Bandas e mais bandas vivem por “xerocar” descaradamente Black Sabbath, Candlemass, Saint Vitus, Pentagram, Witchfinder General e outros medalhões. Algumas conseguindo obter  alguns êxitos e outras no limite entre a falta de pudores e a ausência de inteligência. Saindo do tradicional, têm-se as bandas de Death/Doom — e a lógica “Ctrl+C/Ctrl+V” segue pouco ou nada alterada. Emulações e mais emulações (ao infinito e além) tanto da santíssima trindade britânica; Paradise Lost, My Dying Bride e Anathema quanto dos feitos noventistas como um todo. A desculpa/argumentação é sempre a mesma: “somos Old School”. E tome mais cópias insipidas vendidas sob a segurança das palavras “resgate”, “tributo” e “inspiração”.

O TEMPLE OF VOID foi formado no ano de 2013, em Detroit, Michigan, e já possui diversos materiais lançados. Sendo eles, uma demo, dois Splits — “Delivering The Dead” (junto ao Revel In Flesh) e “4 Doors To Death II” (junto ao Nucleus, Ectoplasma e Fetid Zombie). Fechando sua discografia com três álbuns completos: “Of Terror And The Supernatural” (2014); “Lords Of Death” (2017) e “The World That Was” (2020).

Summoning The Slayer” é sua mais nova oferenda à miséria e seu primeiro trabalho sob a tutela da poderosa Relapse Records (Primitive Man, Usnea, Yob, Monolord, Windhand, King Woman, Author & Punisher). O Primeiro impacto está na arte da capa, nos traços e na paleta de cores usadas pelo genial Ola Larsson (Disma, Sulphur Aeon). Para um lançamento tão incrível nada mais justo que uma ilustração incrível! O segundo impacto é a produção, sabiamente caligrafada por Arthur Rizk (Crypt Sermon, Dream Unending, Funeral Leech, Tomb Mold, Malignant Aura e mais uma dízima periódica de bandas). Pense numa produção limpa, sólida e detalhada que não apenas realçou o brilho das composições, mas que também concedeu as mesmas ainda mais vigor e poder. Trabalho de mestre, realmente.

Ao Death/Doom maciço, com incontáveis riffs consistentes, agregações melódicas de bom gosto, atmosferas obscuras e muito dinamismo, “Summoning The Slayer” revela como o TEMPLE OF VOID evoluiu de forma orgânica e cautelosa, sem nunca por em risco sua qualidade, mas também não se fixando no tempo. Ousando em porções pensadas e sempre somando elementos que tornam sua música ainda mais rica e coerente. “Behind The Eye”, a abertura, é o equilíbrio perfeito entre o Death Metal e o Doom Metal. Enquanto a primeira parte explora riffs e velocidades, a segunda dita a ambiência do corte, chega a ser surreal como ambas se completam sem que uma sobreponha a outra. “Deathtouch” é uma solene e obscura marcha, tingida de melancolia e apreensão. A bateria explora diversos ritmos, as guitarras ora injetam um peso esmagador e noutras melodias classudas no melhor estilo Paradise Lost antigo.

Como um lento, porém, permanente desvendar de sentimentos, narrativas e sensações, é “Engulfed”. Quase uma expedição aos confins mais escuros e inóspitos do inferno — ou da psique humana. “A Sequence Of Rot” é o Death/Doom Metal que muitas bandas tentam confeccionar, mas que sem inteligência, apenas naufragam a repetir formulas. Arrastada, opulenta e precisa — por vezes, quase que psicodélica. “Hex, Curse, & Conjuration” é uma injeção de adrenalina ao álbum. Uma ruptura no cortejo que vai de Asphyx a Bolt Thrower com desenvoltura. “The Transcending Horror” é o declínio sob a forma de música. Ritmos em crescendo, guitarras punitivas (mas de avanços melodiosos), atmosfera negra e tangível. Por fim, a surpresa maior se encontra na sétima e derradeira faixa “Dissolution”. Uma peça de pouco menos de quatro minutos totalmente acústica, com vocalizações suaves, doses inusitadas de psicodelia, dedilhados belíssimos e inserções de violinos e flautas (creio). Literalmente mágica!

Summoning The Slayer” prova que o Death/Doom Metal pode ser ousado, criativo e dinâmico, não apenas sustentado em feitos de outrem, ainda que tais referências existam, mas indo além delas. O TEMPLE OF VOID soube explorar tradições e velhas fórmulas e dar as mesmas expressões contemporâneas, somando tal feito às suas próprias características e minúcias. Seria pretensão afirmar que é o disco de Metal Extremo do ano, mas com certeza estará no topo. Em tempos de clones e enchentes de mesmice, um bem-vindo sopro!

Links:

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Instagram: https://www.instagram.com/templeofvoid/

Bandcamp: https://templeofvoid.bandcamp.com

Deezer: https://www.deezer.com/en/artist/5888091

Spotify: https://open.spotify.com/artist/0gCLnqVApwj3H6EqfaZZUi

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