O Black Metal é, certamente, uma das vertentes mais representativas do Metal Extremo mundo afora. São inúmeros os subgêneros, bandas, projetos e lançamentos anuais. Cria-se assim uma dificuldade para separar o joio do trigo, devido à enxurrada de itens disponíveis. Um dos papéis do redator é exatamente atuar nessa seleção, apresentando ao leitor aquelas bandas e álbuns que se destaquem em meio a esse vasto universo.
O saldo do ano de 2021 tem sido positivo até o momento, e o SPECTRAL WOUND faz parte da elite com seu mais novo trabalho de estúdio, intitulado “A Diabolic Thirst”, álbum lançado no dia 16 de Abril via Profound Lore Records (Canadá).
A banda é originária de Montreal, Quebec, no Canadá, e está ativa desde 2014. São cinco os membros atuais: Jonah Campbell (Vocais), Jordan Kelly (Bateria), Sam (Vocais e Baixo), Patrick McDowall (Guitarra) e Sean Zumbusch (Guitarra).
“A Diabolic Thirst” é seu terceiro disco de estúdio, seguindo os lançamentos de “Terra Nullius” (2015) e “Infernal Decadence” (2018). A evolução apresentada no atual trabalho é notável e, apesar do alto nível de qualidade das obras anteriores, a banda oferece aqui seus melhores esforços, resultando em um dos sérios candidatos entre os álbuns do ano no estilo. A curta discografia é sólida, e os coloca na prateleira de cima do Metal Extremo Canadense.
Os integrantes certamente trazem na bagagem influências e referências diversas, mas fica evidente a admiração pelo som do Black Metal Finlandês de atos como Behexen, Horna, Sargeist(A própria fotografia que ilustra a capa remete aos grandes nomes finlandeses), bem como dos conterrâneos e vizinhos da província de Quebec do Forteresse e dos Suecos do Craft. Caldeirão dos mais interessantes, resultado ainda melhor.
Influências à parte, o SPECTRAL WOUND já demonstra características próprias, energia e muita garra.
A evolução mencionada anteriormente está diretamente ligada ao desenvolvimento dos músicos, registrando performances individuais e como conjunto dignas de nota. A produção equilibrada favorece o disco, pois a crueza e rispidez do estilo permeiam toda a obra, porém fazem contraponto a uma agradável nitidez, expondo os detalhes de cada instrumento sem torná-la excessivamente polida.
Em termos de sonoridade, o que se apresenta é Black Metal com a pegada do final dos anos 90 e início dos anos 2000. É implacável, direto, tradicional, agressivo e impactante, porém com melodia suficiente para tornar a audição mais interessante e, até certo ponto, surpreendente. A atmosfera, como não poderia deixar de ser, é odiosa e blasfema. Há riffs intensos, afiados e maléficos por toda parte, e o trabalho de guitarras balanceia a brutalidade destes riffs com melodias incomuns a álbuns desse tipo, e até mesmo alguns poucos solos muito bem colocados. Juntando os elementos, cria-se um toque sutil de modernidade que não prejudica em absolutamente nada o conjunto da obra.
Além do trabalho impecável de guitarras, destacam-se: A bateria monstruosa de Jordan Kelly, muito técnica, com blast beats espetaculares e uso agressivo e imponente dos pratos; e os vocais doentios e poderosos de Jonah Campbell, que conduzem o ouvinte por um verdadeiro pesadelo ao longo dos quarenta minutos de duração do Play.
Em geral, um disco excelente, dos mais divertidos e que deverá satisfazer a todo fanático por Black Metal. Sem reinvenção da roda ou pirotecnias, bem trabalhado ao extremo por músicos altamente qualificados, criativos e que sabem o que fazem. Vale a pena sonhar com o lançamento do material da banda em Terra Brasilis, seria incrível.
O álbum divide-se entre apenas seis faixas, totalizando 40:12
1 – “ImpérialSaison Noire”
2 – “FrigidandSpellbound”
3 – “Soul Destroying Black Debauchery”
4 – “MausolealDrift”
5 – “Fair Lucifer, Sad Relic”
6 – “DiabolicalImmanence”
Destaques: “Soul Destroying Black Debauchery”e “Fair Lucifer, Sad Relic” são provavelmente as melhores faixas, e ótimos exemplos do poder de fogo dos Canadenses.