Entrevistas

PODRIDÃO – “Sempre fui da pegada de tocar, acredito que a melhor vitrine para uma banda é o palco”

Aproveitamos a passagem da banda paulista de Death Metal Podridão pelo Sul do Brasil,  batemos um papo com Ivi Kardec sobre essa tour pelo Brasil em 2023 e também sobre o último lançamento de estúdio Cadaveric Impregnation. Com vocês os cadáveres do Metal da morte.

Saudações Ivi Kardec! Primeiramente obrigado por trocar uma ideia conosco, do portal The Old Coffin Spirit Zine. Meu caro, em 2016 você deu vida a essa criatura que habita os cemitérios e espalha  a desgraça, o fedor da morte pelo submundo. De onde surgiu a ideia de montar o Podridão e porque optou pelo Death Metal?

Ivi Kardec: Olá, primeiramente é um enorme prazer estar fazendo parte desse portal do submundo, agradeço desde já o interesse em nosso trabalho. Vamos lá. Sempre tive a vontade de tocar esse estilo grotesco de Death Metal, e tinha muitas ideias desde que  comecei a ouvir Metal e tocar. Em 2015, quando montei meu home estúdio, comecei a pôr em prática o que até então seria um projeto One Man Band e não tinha nome. Na época estava mantendo totalmente o foco na outra banda que toco que é o Beyond The Grave e fui fazendo as coisas devagar, em 2016 chamei Repugnant Fat que era da banda de Thrash/Crossover Febre do Rato para somente gravar as baterias desse projeto que ainda não tinha nome. Comecei a compor e a gravar e sem pensar batizei esse projeto como Podridão.

Então essa seria a próxima pergunta e você já deu a deixa. Você Ivi Kardec (Rotten Flesh) na guitarra montou o projeto e chamou o baterista “Repugnant Fat”. Poderíamos dizer que hoje é um violento “Duo” que toca um Death Metal com a pegada tradicional e resgatando o velho espírito. 

Ivi Kardec: Pode se dizer que sim. Desde nosso primeiro show em dezembro de 2017 o Podridão virou minha banda principal. Em 2019 Putrid Dick foi recrutado para assumir definitivamente as 4 cordas e voz. Desde então seguimos assim.

E na hora de criar as composições essa tarefa é também dividida só entre os dois membros: Repugnant Fat e Rotten Flesh? E aproveitando o gancho nos diz como é o processo de composições, ou melhor “de-composições” da banda?

Ivi Kardec: Geralmente não cara, até então fico responsável pela composição, produção e finalização de todos os trabalhos. Não temos um método de composição cara, o que vem na mente eu vou fazendo. É sem pé e nem cabeça mesmo.

Em 2016, a Podridão lança a “Demo Tape/ 2016”, contendo duas faixas próprias e um cover para o lendário Celtic Frost e a faixa escolhida foi “Into Crypts of Rays”. Por que escolheram essa faixa e por qual razão os suíços? 

Ivi Kardec: Celtic Frost sempre foi uma fonte que o Death Metal sempre bebeu muito, gosto bastante daquela atmosfera tosca, simples… Juntamente com Death, Possessed, Slayer, eles são um dos pais desse estilo pestilento.

Então, além dessas lendas que você acabou de citar na sua resposta acima, quais outras bandas te influenciam na hora de compor para o Podridão e quais outras bandas te fizeram mergulhar no submundo e moldaram sua visão como indivíduo e o que mudou na sua vida depois que descobriu o Rock / Metal?

Ivi Kardec – Sempre ouvi música extrema, iniciei minha trajetória com bandas como Slayer, Cannibal Corpse, Morbid Angel, Carcass… Mas, sempre fiquei atento ao underground nacional e internacional … Me inspiro em bandas como Infamous Glory, Open The Coffin, Cerebral Rot, Necrot…. São muitas cara, e ultimamente o submundo está nos proporcionando muitas coisas ótimas… A fonte está cheia …

Realmente o nosso Underground não deixa a desejar a ninguém. Sempre foi assim né? O que me deixa um pouco chateado é que uma parcela do submundo nacional prefere pagar  300 reais em um vinil gringo e reclamam para pagar 30 pila em um CD de uma banda do submundo nacional. Mas enfim, como foi a recepção da Demo Tape/2016 no submundo pela mídia especializada e os Metalheads?

Ivi Kardec: Ah, sim. Sempre valorizam os de fora, mas isso é normal, sempre vai acontecer isso. Essa Demo foi lançada somente em digital, e foi com ela que começamos a receber convites para tocar, foi muito bem recebida. Lembro da época que fizemos nosso primeiro show, enviei ela para um amigo produtor de São Carlos/SP e na hora ele nos chamou para tocar em um evento na cidade.

Em 2017, vocês chegaram ao tão sonhado Debut – Álbum autointitulado. E logo de cara, vocês já fecharam uma parceria com o selo brasiliense Kill Again Records. Você ficou satisfeito com todo o conceito por trás desse trabalho, com a produção, layout e o conceito lírico?

Ivi Kardec: Ficamos muito satisfeitos com o lançamento desse álbum, era algo novo para nós de cara lançar um álbum com um selo tão importante como Kill Again Records, sou amigo do Rolldão a algum tempo já, e sou muito grato por ele ter acreditado em nós e dado esse ponta pé inicial. Tudo nesse álbum foi feito muito rápido, sem frescura nenhuma… É um bom álbum, mas ali ainda estávamos muito crus no quesito Death Metal.

Neste momento vocês contavam com o vocalista e baixista “Porn Vicious”. Ele gravou a demo já citada aqui, o Debut – CD, e vários singles até 2019. Se não me falha a memória, ele gravou o single “Your Body Is the Tomb” em 2019. Ou seja: ele ficou na banda até 2019 e ele também era seu parceiro no Beyond Grave. (Banda paulista de thrash metal) O quê houve para ele sair da banda?

Ivi Kardec: Sim, ele ficou até o fim da tour de 2019, logo que voltamos recrutei Putrid Dick que já fazia shows substituindo o mesmo. Era sim, depois da tour eu não vi mais ele, e espero não ver mais. Hahahaha

Em 2019, vocês lançaram dois singles, “Pits of Hell” e “Your Body Is the Tomb” com o já citado vocalista Porn Vicious. Hoje em dia é normal as bandas fazerem isso, né? Como vocês vêem essas novas formas de divulgar os trabalhos nas plataformas digitais e redes sociais primeiro?

Ivi Kardec: Sim, bem normal, gosto de fazer esse tipo de lançamento, serve como chamada para o que está por vir. Mas lançamos sempre em poucas tiragens o material físico também. O mundo musical mudou muito de um tempo para cá, hoje a maioria não tem nem mais um aparelho de CD, em suas casas. Acho uma ótima ferramenta para divulgação, apesar de muitas vezes passar batido, pois é muita informação para ser processada.

No mesmo ano vocês lançaram o split – CD “Necrotic Symbiosis” com a banda Sepulchral Whore e adicionaram as duas músicas dos singles, porém com outro vocalista. Como vocês chegaram até o Junior de Andrade que além do vocal é também baixista? E como rolou essa parceria com a banda Pernambucana?

Ivi Kardec: Como falei, Junior Andrade “Putrid Dick” é irmão de Repugnant Drum, sempre tocaram desde pequenos juntos, e ele sempre quebrava muitos galhos quando o outro vocalista falhava conosco. A entrada dele foi bem tranquila e foi importante para o crescimento da banda. Ele agrega muito com sua postura e vocal potente. Sou amigo da galera do Sepulchral Whore desde a primeira tour que fiz com o Beyond The Grave no Norte e Nordeste do país. Nessa época 2 deles eram da banda Beast Conjurator. Depois de um tempo eles montaram o Sepulchral e foram correndo atrás, nessa época eles nos convidaram para participar de um split em 7 EP, na hora topamos. Esse material foi lançado em todos os formatos. Foi um ponto muito importante na divulgação das 2 bandas.

Como se diz na linguagem futebolística, não se mexe em time que está ganhando. Em 2020, no maldito ano pandêmico, vocês lançaram o segundo trabalho, o full lenght “Revering the Unearthed Corpse”. De alguma forma a pandemia prejudicou esse trabalho? É óbvio que não houve tour e tal. Mas a mídia especializada aceitou muito bem esse trabalho, né?

Ivi Kardec:  Sim prejudicou bastante, Revering (…) já estava pronto desde 2019, estávamos com tudo programado para promoção do álbum, mas mesmo com toda pestilência que estava rolando decidimos manter o lançamento do disco e os ensaios também, não imaginaríamos que iríamos ficar tanto tempo sem fazer shows.  Mas ele foi bem recebido pela galera do underground, gosto muito desse disco.

Hoje em dia, é óbvio que apesar de ainda ser difícil de viver de bandas no Brasil, principalmente tocando Heavy Metal e pior ainda se for Death Metal/ Metal Extremo. Mas muitas coisas melhoraram e isso é um fato. Se nos primórdios do Heavy Metal era difícil gravar uma demo, mais difícil ainda era gravar um álbum completo. Agora imagina produzir um videoclipe. Naquela época existiam uns programas que rolavam na televisão aberta clips e depois no início dos anos 90 chegou a MTV e o Fúria Metal. Descobri muitas bandas através dos clips que o Gastão Moreira rolava no programa, mas nunca rolou clips de bandas mais undergrounds brasileiras. Vocês investiram em quatro videoclipes e como é gravar um videoclipe? E hoje as bandas não precisam mais da televisão para isso, né? O YouTube está aí para isso.

Ivi  Kardec – Sim cara, vivi também essa época e era bem mais difícil.  A mídia “povão” brasileira nunca vai colocar algo pesado e denso como as coisas que fazemos em evidência, particularmente eu  estou cagando para isso, a televisão morreu a algum tempo, e como você falou hoje temos vários canais para a divulgação dos trabalhos. Acho bem importante gravar videoclipe para promover o trabalho, e hoje está muito mais fácil para fazer, o monopólio da produção foi tirada das mãos dos grandes tubarões. Hoje conseguimos fazer as coisas com um celular. Está tudo aí, aberto para todos fazerem, é só ter vontade e por a cara à tapa.

Exatamente, cara! A internet e redes sociais, se o indivíduo saber usar, saber tirar proveito ela só ajuda. Mas infelizmente, somos humanos demasiado humanos e sempre tem gente mal intencionada nas redes sociais. Mas enfim, dos 4 vídeos gravados por vocês o que eu mais gosto é “Slowly Soffocated” que tem um clima daqueles clipes de bandas europeias. Com imagens em preto e branco, obscuro e frio. E qual é o seu preferido e indicaria para quem não assistiu ainda começar por eles?

Ivi Kardec: Exato. Gosto muito do último que fizemos da música “Veminosis Faecalis”, os rostos apagados e atmosfera da música caíram muito bem. Temos planos de gravar mais um ou 2 vídeos.

Em 2022, a banda consolidada com essa atual formação resolveu lançar um trabalho ao vivo. Por que resolveram por esse formato e onde rolou a gravação de “Plague, Misery and Putrefaction Live album”?  

Ivi Kardec: Cara, esse ao vivo saiu de uma Live que fizemos em 2020 para internet. Como ficamos esse tempo todo parado, só para dar uma esquentada, pegamos os áudios desta Live e botamos pra frente. Essa gravação foi gravada aqui no meu estúdio mesmo, quem quiser dar uma conferida com o vídeo, só dar uma pesquisada no YouTube como Rotting in Chaos no nosso canal.

Em 2023, o power trio de mortos vivos lançou o terceiro álbum de estúdio. Com certeza, esse trabalho estará na lista dos melhores lançamentos do ano. Na minha com certeza! O que você pode nos dizer sobre “Cadaveric Impregnation” ? Você está satisfeito com tudo que envolve esse trabalho?

Ivi Kardec: Cara, esse álbum foi composto durante a pandemia, e tivemos bastante tempo para finalizar ele. Em 2022 lançamos um Single dele “Hungry For Rot” e partimos para a parte do layout gráfico do disco. Dessa vez conseguimos fazer um disco sem correria e ficar atento a cada detalhe. Estou bem satisfeito com o resultado, estamos na luta para promover ele ao máximo.

Você é um cara que não fica reclamando por falta de apoio ou falta de show. Desde que você montou suas bandas você caiu na estrada com elas. Disco lançado e hora de cair na estrada. Como foi a passagem da Cadaveric Impregnation Tour/ 2023 no Norte e Nordeste do Brasil? Aliás, o Podridão sempre está rodando pelo Norte/Nordeste do país e como é a cena por estes lugares do Brasil ?

Ivi Kardec: Sempre fui da pegada de tocar, acredito que a melhor vitrine para uma banda é o palco. A turnê pegou Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. E foi ótimo, sempre é bom tocar o mais longe possível de casa, ter a oportunidade de divulgar nosso trabalho em locais que não é muito fácil pra gente ir. A cena Norte e Nordeste do país é uma das melhores que já presenciei, adoro tocar por lá, já é a quarta vez que faço turnê por lá e sempre foi muito intenso.

Se não me falha a memória, você tocou em Santa Catarina em 2014 ou 2015, com o Beyond The Grave na versão catarinense do “Kill Again Metal Fest”. Festival tradicional organizado pelo Rolldão no DF.  Então, o pessoal da Frade Negro chamou o Beyond The Grave e o Battalion outra banda de Santa Catarina e também do selo, e “os frades” em parceria com Rolldão organizaram a edição catarinense do kill Again Metal Fest no saudoso Curupira Rock. O que você lembra daquele show e o que achou da cena catarinense daquela época?

Ivi Kardec: Sim, já tive a oportunidade de tocar também no Zoombie Ritual de  2013, minha segunda passagem por SC foi no Kill Again Fest Sul.  Levo esse show até hoje com muito carinho por que foi lá que conheci os amigos do Frade Negro e Battalion. Depois de muitas cervejas e churrasco já éramos amigos. A cena de SC é muito foda também, a galera daí tem a cultura de festivais grandes, open air. Isso já tem quase 10 anos e as coisas mudaram um pouco de lá pra cá, senti isso na recente passagem nossa por lá.

 Realmente você tocou no saudoso Zoombie Ritual Fest. Esse festival era onde toda a galera de Santa Catarina se reunia para curtir Metal, tomar cerveja e encontrar amigos. Enfim, em junho vocês vieram fazer a parte Sul da “Cadaveric Impregnation Tour/2023”. Vocês fizeram 5 datas no Paraná, certo. Como foram as apresentações e quais cidades vocês passaram? 

Ivi Kardec: Isso. Passamos por Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu e Curitiba. Foi a primeira vez em 4 dessas cidades e fomos muito bem recebidos. Os Death Maniacs do Paraná são muito insanos…

E depois passaram por Santa Catarina. Mais 5 datas passando pela capital Florianópolis, passando também pelo litoral em Bal. Camboriú e por Rio Negrinho, e finalizando em Jaraguá do Sul. Nesta terceira passagem por Santa Bela Catarina e dessa vez por mais tempo. O que você pode nos dizer sobre a nossa cena catarinense? E quais suas impressões do estado e do povo daqui?

Ivi Kardec: Essa foi a primeira vez que andei um pouco mais por SC, e digo que foi muito bom, muitos lugares eu já tinha ido ou em shows com outras bandas… Tem ótimas bandas por aí, como no Paraná fomos muito bem recebidos, só temos a agradecer a todos os produtores que toparam e cumpriram com todo acordado dessa turnê, sabemos que atualmente no estado de SC circulam alguns lixos que botaram a cara pra fora do esgoto, mas como são iguais a ratos, eles não tem espaço com pessoas sérias.

Infelizmente, vocês não conseguiram fechar nenhuma data no Rio Grande do Sul? O que rolou?

Ivi Kardec: Infelizmente não, tivemos uma falha na comunicação com o produtor de lá e acabou não rolando mesmo, mas sem problemas, acredito que não iria acontecer mesmo, por que estávamos no meio do ciclone que passou pelo Sul, e com toda certeza iria ser bem complicado manter o show. Mas já estamos aguardando uma nova data por lá.

Ivi Kardec, obrigado pela entrevista! Que o Podridão continue espalhando odor, putrefação e metal da morte pelo submundo. Cuspa na cruz e chuta bundas de conservadores. Palavras finais. Força – Sempre!!!


Ivi Kardec: Muito obrigado pelo espaço e pelo interesse em nosso trabalho. Para quem não conhece a banda, entre nas redes sociais e procure por Podridão Death Metal. Obrigado.

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