DATA DE LANÇAMENTO/RELEASE DATE: 16/07/2021
PARADISE LOST sempre foi sinônimo não apenas de qualidade e de musicalidade vasta e estudada, mas também de inquietação e versatilidade. Uma banda cuja personalidade sonora sempre foi ímpar e distintiva — sempre a frente de seu tempo e de seus pares. Evolução sem amarras, sem fronteiras estilísticas ou imposições. Sua própria natureza sempre refutou a lógica e os critérios de sua época, sua mecânica de composição sempre foi transgressora, coesa e substancial, jamais prolixa, mesmo em seus períodos mais obscuros e laboratoriais. Talvez, o seu único erro tenha sido o de confeccionar álbuns maiores que eles próprios, que iam além das interpretações de suas respectivas eras. Pouquíssimas bandas possuem uma discografia tão rica, sólida e elástica como esses ingleses. Discografia essa que justifica sua relevância e todo o culto que cerca seu nome até os dias atuais. Qualidade não envelhece, arte não tem data de validade e música realizada com excelência não segue modismos. O ótimo de ontem continua sendo ótimo hoje e continuara a ser a ótimo amanhã; é essa a filosofia que faz com que alguns lançamentos sejam tomados por clássicos atemporais.
Cada trabalho redigido e lançado ao longo desses mais de 30 anos é o retrato de uma banda em constante evolução; estágios — metamorfoses; virando páginas, quebrando tabus. Ao passado em busca de suas raízes, ao presente revigorado, ressignificando-se e definindo o que viria a ser o futuro não apenas de sua música, mas de toda uma geração de bandas que adotariam seus feitos como sendo bíblias.
Do peso rustico e procurando definições de “Lost Paradise” (1990) até os mais altos níveis de sofisticação e elegância de “Gothic” (1991), “Shades Of God” (1992) e “Icon” (1993). Ainda não contentes, em 1995 eles concebem a obra-prima “Draconian Times”. Se existe uma galeria para obras máximas do Heavy Metal, “Draconian Times” está nela, entre as mais importantes e fundamentais. O que se ouviu depois destes foi uma banda corajosa, munida de audácia e se aventurando por diversos territórios, testando e experimentando. “One Second” (1997) assustou alguns fãs e conquistou outros devido a sua forte influência de Gothic/Synthpop dos 80s. Tais influencias ganhariam mais voz e volume em “Host” (EMI, 1999). As referências ao Depeche Mode são obvias (ame ou odeie, mas não negue as qualidades deste registro). “Believe In Nothing” (2001) se guarda a exibir bons momentos. “Symbol Of Life” (2002) e “Paradise Lost” (2005) podem ser entendidos como trabalhos de transição e trégua. “In Requiem” (2007), “Faith Divides Us – Death Unites Us” (2009), “Tragic Idol” (2012), “The Plague Within” (2015), “Medusa” (2017) e “Obsidian” (2020) configuram o retorno aos velhos tempos, são trabalhos pesados e arquitetados de forma sombria; diversificados e necessários na coleção de todo bom fã.
Com a pandemia Covid e junto a ela, a impossibilidade de concertos, no dia 5 de novembro de 2020 a banda realizou uma apresentação via streaming, diretamente da sala The Mill, próxima à cidade de origem da banda em Yorkshire, na Inglaterra. A gravação ficou sob a responsabilidade de Ash Pears, Les Smith (Anathema) cuidou da mixagem e a masterização ficou a cargo de Jaime Gomez Arellano (Ulver, Skepticism, Grave Miasma, Hooded Menace e muitos outros). A produção na totalidade é estupenda — nitida, orgânica e esparsa, toda a energia, personalidade e peso do que viria a ser uma apresentação realmente ao vivo é encapsulada por ela. Sente-se o baixo, a bateria é natural e sem muitos truques, mas o real destaque fica para a performance dos guitarristas Greg Mackintosh (solos e riffs impecáveis) e Aaron Aedy (guitarra base não é de forma alguma papel secundário) é preciso classe e feeling e segurança, o corpo das composições depende disso. Quanto a Nick Holmes, como canta esse inglês carrancudo!
O repertório promove não apenas o mais recente registro, “Obsidian”, tanto que dele foram extraídos três temas: “Darker Thoughts” (que encerra a apresentação), “Fall From Grace” e “Ghosts”, executadas com perfeição, mas também contempla faixas de todos ou quase todos os trabalhos da longa carreira da banda, incluindo alguns temas menos comuns. Difícil criar destaques visto a homogeneidade e intensidade da apresentação. “Widow” é mais dinâmica e enérgica, perfeita para abrir shows, após ela vem um verdadeiro desfilar de clássicos: “Gothic”, “Shadowkings”, “Embers Fire”, “As I Die” — atuais, sedutoras e fortes como sempre foram e como sempre serão. “One Second”, do supracitado álbum homônimo, uma pena não incluírem “Say Just Words”; a sempre bem-vinda “So Much Is Lost” do incompreendido “Host” e dois hinos contemporâneos: “Faith Divides Us – Death Unites Us” (uma das melhores músicas do Paradise Lost e cabalmente pertinente ao momento) e “No Hope In Sight”.
“At The Mill” não sacia a falta que os shows fazem, até porque, nada substitui a energia trocada entre fãs e banda e a sinergia que existe entre ambos, porém, serve como um alento nesse período tão incerto. O repertório diversificado e abrangente, a execução meticulosa e a força que a banda possui fazem desse registro um item obrigatório aos fãs, aos não fãs (nunca é tarde para se converter a esse culto) e aos interessados em conhecer esse universo musical tão amplo e mágico que é o PARADISE LOST. Não apenas uma banda, mas uma instituição da música da melhor qualidade.
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